Capitu traiu? Advogado encontra prova jurídica em capítulo de ‘Dom Casmurro’

Capitu traiu ou não traiu Bentinho? Talvez essa seja a pergunta mais enigmática de toda literatura brasileira, quiçá mundial. Eu mesmo já tentei pensar na resposta a partir da perspectiva do narrador do livro e fiz minha análise nesse vídeo aqui:

E a polêmica agora ganhou mais um capítulo: o advogado Miguel Matos lançou um livro chamado “Código Machado de Assis: Migalhas jurídicas” em que dá a resposta. Ele aponta o que, segundo ele, é uma “prova cabal” que não teria sido levada em consideração por leitores e estudiosos do livro. De acordo com Matos, Machado de Assis deixou uma “senha” jurídica em um capítulo de “Dom Casmurro” e a resposta dele é:

Sim, Capitu traiu, diz o advogado Miguel Matos

No livro, segundo matéria do Globo, o autor 600 páginas, o advogado mapeia toda as citações jurídicas feitas pelo Bruxo do Cosme Velho para demonstrar a importância do Direito em sua obra. A parte sobre “Dom Casmurro”, claro, é a mais quente.

A questão está nos embargos

No capítulo “Embargos de terceiro”, Machado de Assis escreve que certa noite, Bentinho, ele próprio um advogado, vai ao teatro sem Capitu e, ao voltar antes do fim do primeiro ato, encontra Escobar à porta do corredor de sua casa. É uma situação de quase flagrante, que só piora com o álibi: o amigo diz que passara por lá para tratar de uma “questão de embargos”. E fica evidente que quanto mais Escobar explica o assunto, mais o leitor dotado de um mínimo conhecimento jurídico percebe que o incidente não é importante, explica o advogado Matos.

Além do mais, Escobar era um veterano negociante, com experiência suficiente para saber disso. Em tempos antigos, ele nunca bateria tarde da noite na casa de alguém se o motivo não fosse relevante. O título desse capítulo utiliza uma terminologia jurídica que o autor já havia utilizado no romance “A mão e a luva”.

— Machado usa muitas metáforas jurídicas em sua obra — diz Matos ao Globo – Em “Dom Casmurro”, o termo “embargos de terceiro” é uma metáfora para disputa pela posse. No caso, a “posse” de Capitu. O mesmo termo aparece em “A mão e a luva” para falar sobre uma pessoa que quer conquistar a outra. Machado não iria fazer essa associação à toa.

Serviço: “Código Machado de Assis”. Autor: Miguel Matos. Editora: Migallhas. Páginas: 592. Preço: R$ 184,60

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