Já aconteceu de você acordar e se perguntar se o mundo era real ou apenas um sonho? As coisas já pareceram tão malucas pra você que você cogitou estar vivendo uma distopia? Pois é. Cada vez mais parece que o mundo está ficando um lugar esquisito, e os mundos distópicos construídos na literatura estranhamente se parecem com a nossa realidade.
A literatura distópica é muito interessante por sua capacidade de nos fazer refletir não apenas sobre aquilo que não existe, mas também sobre aquilo que realmente existe e nos cerca. Afinal, é esse o papel da literatura: nos fazer refletir sobre nós, sobre os outros e sobre o mundo.
Por isso, selecionamos 8 livros com histórias de distopia que todo amante de livros precisa ler. Ao lado de clássicos mais conhecidos como 1984 de George Orwell, são livros um pouco menos conhecidos mas que colocam em perspectiva aquilo que vivemos e, quem sabe, podem nos ajudar a fazer desse mundo um lugar um pouco melhor. Confira:
1- A guimba, de Will Self
Em A guimba, Will Self cria uma sátira das incertezas morais e políticas que tomaram conta do mundo após os atentados de 11 de setembro. Neste livro, ele cria um país imaginado, uma mistura de Austrália e Iraque, que atrai turistas para suas belezas naturais mas que, para além dos centros turísticos, esconde um ritual de violência e subjugação que ultrapassa qualquer tentativa de correção política. Alheio a todo o caos político e social, está Tom Brodzinski, um pacato turista americano em visita de férias com a família. Ao atirar a guimba de seu último cigarro pela varanda do hotel, ele provoca um acidente aparentemente banal, mas de desdobramentos impensáveis, que o farão mergulhar no verdadeiro mundo por trás dessa falsa ideia de paraíso.
2- Nós, de Yevgeny Zamyatin
Original, dono de aguçada percepção e imaginação, Zamiatin, numa narrativa sur-realista, permeada pela ironia – combinando realidade e irrealidade, acontecimentos trágicos e risíveis, fazendo uso de uma linguagem contida, propositalmente disciplinada; preocupado com a liberdade de escolha, com o querer e o criar – profetiza a desumanização, os pensamentos e as ações programadas, a banalização das necessidades do homem, a repressão das emoções, o extermínio dos que estão em desacordo com a ordem imposta, a produção de autômatos, as lavagens cerebrais, a destruição daqueles que lutam para manter vivas imaginação e originalidade.
A história em Nós fala das causas e de como se articula e acontece uma revolução num tempo futuro, num espaço cercado por muros, onde os membros da sociedade, constantemente vigiados pelos Guardiões, habitam casas de paredes de vidro, não recebem nomes, mas números; são obrigados a reverenciar ritualmente o Benfeitor e sua Máquina, têm pensamentos e atitudes condicionados, executam trabalhos mecânicos, e suas vidas particulares e sociais são programadas e controladas por um governo autoritário, o Estado Unificado. O controle e as programações vão mesmo até seus encontros íntimos transformados em impessoais, com horários e locais estipulados, entre indivíduos (números) previamente registrados.
3- Neuromancer, de William Gibson
No futuro, existe a matrix – uma alucinação coletiva virtual, na qual todos se conectam para saber tudo sobre tudo. Case, porém, não pode mais acessá-la. Ele foi banido e, hoje, sobrevive como pode nos subúrbios de Tóquio. E continuaria a se destruir se não encontrasse Molly, uma samurai das ruas que o convoca para uma missão da qual depende toda a existência da rede. O romance de estreia de Gibson é o primeiro volume da chamada Trilogia do Sprawl, que ainda inclui os livros Count Zero e Mona Lisa Overdrive.
4- Cidade da Penumbra, de Lolita Pillé
Bem-vindo à cidade da penumbra! Todos tem direito à Beleza, à Juventude, ao Conforto Mínimo.
Syd Paradyne, tira da série B, barba de dois dias, alcoólatra, investiga o suicídio de um obeso. O sol não aparece há muito, muito tempo. A corrupção reina. Aparece uma garota linda e estigmatizada. Blue tem os olhos azul-metálicos e segredos inconfessáveis: é uma possibilidade de amor em um mundo sem esperanças. Nessa sátira a uma sociedade utópica baseada na premissa da felicidade obrigatória, em uma atmosfera de policial noir, Lolita Pille faz referências a pesos-pesados da ficção científica, como George Orwell; Aldous Huxley; William Gibson, o fundador do cyberpunk, e Philip K. Dick, autor de Do Androids Dream of Electric Sheep?, o livro que inspirou o filme Blade Runner.
Cidade da penumbra é um retrato muito bem-acabado do consumismo e do endividamento bancário, do uso indiscriminado de remédios e drogas e da ditadura da felicidade a qualquer preço. Ao lidar com esses temas que já assombram o presente, a autora cria polêmica e aborda o totalitarismo, o racismo, a desinformação, a vigilância big brother, as cibertecnologias e assim, mais uma vez, desafia convenções.
5- Não me abandone jamais, de Kazuo Ishiguro
Kathy H. tem 31 anos e está prestes a encerrar sua carreira de cuidadora. Enquanto isso, ela relembra o tempo que passou em Hailsham, um internato inglês que dá grande ênfase às atividades artísticas e conta, entre várias outras amenidades, com bosques, um lago povoado de marrecos, uma horta e gramados impecavelmente aparados. No entanto, esse internato idílico esconde uma terrível verdade. ‘Não me abandone jamais’ reflete, através da ficção científica, a questão da existência humana.
6- Herland, a terra das mulheres, de Charlotte Perkins Gilman
Publicado pela primeira vez em 1915, Herland – A Terra das Mulheres é uma novela que coloca os holofotes sobre a questão de gênero. Escrito pela feminista Charlotte Perkins Gilman, o livro descreve uma sociedade formada unicamente por mulheres que vivem livres de conflitos e de dominação. A história é narrada por um estudante de sociologia que, junto a dois companheiros, chega ao lendário país ocupado por mulheres. As diferentes visões dos três exploradores geram um choque cultural com a organização social utópica que terão de confrontar. Herland subverte questões como a definição de gênero, a maternidade e o senso de individualidade. Gilman, nesta obra, cria uma história revolucionária e dá uma importante contribuição às discussões sociológicas sobre os papéis masculino e feminino em sociedades de qualquer época.
7- Kallocaína, de Karin Boye
Kallocaína se passa na subterrânea e sufocante Cidade Química nº 4, pertencente a um autodenominado Estado Mundial. Apesar desse nome, os personagens sabem vagamente que há outras regiões habitadas no mundo e que ocorreu uma Grande Guerra num passado indeterminado. A época, como informa o subtítulo do romance, é algum momento do século XXI. Leo Kall, o cientista que inventou a kallocaína, dá início à narrativa quando se encontra recolhido a uma prisão do estado, ao mesmo tempo que conduz testes da substância em cobaias humanas. Comprovada sua eficácia, a kallocaína passa a ser um instrumento da polícia.
8- Não verás país nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão
Romance apocalíptico, no sentido de contar uma história do fim dos tempos, “Não Verás País Nenhum” se desenrola em um futuro não determinado, mas cada vez mais presente na realidade do brasileiro. Uma época terrível, na qual a Amazônia se transformou em um deserto sem nenhuma árvore; onde “O lixo forma setenta e sete colinas que ondulam, habitadas, todas. E o sol, violento demais, corrói e apodrece a carne em poucas horas”; onde a carência de água impõe a reciclagem da urina, bebida pelas pessoas. A administração do país chegou ao caos. Governantes medíocres, cada vez mais afastados do povo, interessados apenas em vantagens pessoais, uma polícia corrupta e assustadora. No meio desse mundo sombrio, uma história de amor, na qual o autor sugere que nem tudo está perdido, pelo menos enquanto o bicho-homem alimentar esperanças e for capaz de gestos de generosidade.
*Sinopses retiradas do Skoob.