Alguns dias antes de completar 77 anos de idade, o cantor, compositor, dramaturgo e escritor Chico Buarque, um dos maiores artistas da nossa cultura, deu uma entrevista a TV 247 em que alerta que nosso país já está com um pé no fascismo. A entrevista foi feita com as jornalistas Regina Zappa e Hildegard Angel em que ambos lembraram a luta e a trajetória de dor da estilista Zuzu Angel.
Na transmissão, Chico relembrou os anos de chumbo da ditadura militar citando que os assassinos de Stuart, que depois provocaram o “acidente” de carro que matou Zuzu, “são os mesmos que formaram esses militares que hoje estão no poder”. Zuzu faria 100 anos este ano. Lembrando do golpe militar, disse:
“Precisamos lembrar que o momento atual, com um golpe sendo anunciado o tempo todo, é consequência daquele tempo”. Estão plantando isso, anunciando possível fraude na eleição, estão se preparando para o golpe. E o golpe vai trazer de novo tudo isso de que estamos falando, além do que já existe de horror, com a autorização lá de cima para esse morticínio que segue nas favelas”.
Em relação ao momento atual da política brasileira, Chico contou do perigo de cairmos em um regime similar – ou pior – ao de 1964 é real, citando o papel do presidente Jair Bolsonaro tanto na política quanto no combate à covid.
“Ele [o presidente] tem esse pensamento fascista ou nazista. Foi eleito defendendo a tortura e dizendo que era preciso matar pelo menos 30 mil pessoas. E quem o elegeu foi essa gente que na rua pedia a volta do AI-5, o pior da ditadura militar. Isso sem falar no enfrentamento genocida da Covid. Ele está encaminhando o país para o abismo, a ideia de imunidade de rebanho é uma prática homicida, chame-se ele de genocida ou não.”
A entrevista durou cerca de uma hora e Chico Buarque se mostrou diversas vezes emocionado, com a voz embargada. Aos 77 anos, Chico pensou que teria superado o fantasma do fascismo. Chico não se enganou. Nem ninguém. É que, como diz Brecht, a cadela do fascismo sempre está no cio.
Veja a entrevista completa: