“Nas tuas mãos”, de Inês Pedrosa: a força de três mulheres maiores que seus tempos

Como testemunhar nossa existência? Que formas temos de perpetuar nossas vidas para além daquilo que se fecha nelas mesmas e que se vai quando ela acaba? Como pensar aquilo que classificamos como “íntimo” como um ponto em um emaranhado que envolve não só os íntimos de outras pessoas mas a coletividade como um todo?

Essas são algumas perguntas que o livro “Nas tuas mãos”, da escritora portuguesa Inês Pedrosa, lançaram em minha direção quando o li. O livro conta a história de três gerações de mulheres de uma família: Jenny, a avó, Camila, sua filha, e Natália, sua neta. Dizer que é um livro que trata de questões individuais e sentimentos dessas três personagens seria não só insuficiente como equivocado. O livro é mais do que isso.

Se há uma coisa que o feminismo tem nos ensinado é que o pessoal é político. Supor que o campo do “privado” em nada diga respeito ao público é um modo através do qual se perpetuam as desigualdades e hierarquizações de gênero que estruturam a sociedade. No mesmo sentido, aquilo que diz respeito ao sujeito não deve ser pensado como descolado da coletividade: a subjetividade é tecida, produzida e atravessada pelo coletivo. É por isso que “Nas tuas mãos” é um livro que busca acionar o que há de social no individual, de coletivo no íntimo, de público no privado. Escrito por uma mulher, “Nas tuas mãos” é um livro sobre mulheres que narram suas vidas, relações e sentimentos e, exatamente por isso, é um livro político. Propõe uma política de vida, uma ética de vida que emaranhe vidas e singularidades a partir de aproximações e distanciamentos que tornam possível pensar espaços e planos comuns nos quais se potencialize a coletividade no singular e a singularidade no coletivo.

“Dizem que o amor se faz de uma comunidade de interesses subterrâneos, restos de vozes, hábitos que nos ficam da infância como uma melodia sem letra, paixões pisadas na massa funda do tempo, mas nesses anos entre guerras os sentimentos explicados não interessavam a ninguém. O amor era então uma criação fulminante do tédio e da inocência, feito do carnal recorte da beleza, magnífico de crueldade.”

O NotaTerapia tem um projeto chamado Mulheres do Mundo – uma escritora de cada país. A proposta é ler um livro de uma mulher de cada país do mundo e conhecer o planeta através de suas histórias. Inês Pedrosa é uma das escritoras que está no projeto. Para ler a resenha completa do livro “Nas tuas mãos” e conhecer mais sobre Jenny, Camila e Natália, clique AQUI!

Conheça as outras escritoras do projeto clicando AQUI!

Related posts

Projeto ‘Uma nova história’ incentiva o hábito de leitura no DEGASE

A atmosfera da vida particular soviética em “No degrau de ouro”, de Tatiana Tolstáia

“Coração Periférico”, de Diego Rbor: criatividade e poesia contemporânea na periferia