A figura de Dom Quixote habita o imaginário do ocidente, principalmente daqueles que amam os livros e a literatura. Quem não tem na cabeça a imagem de um velho em cima de um pangaré ao lado de seu fiel escudeiro Sancho enfrentando os moinhos de vento? Pois é, mas acontece que a história de Quixote vai muito além da imagem dele que foi passada através dos séculos, na medida em que, a cada geração, menos pessoas recorrem ao livro para ler seus feitos.
Por isso, para quem não sabe, é sempre bom relembrar: A história relata os feitos de um ingênuo e fidalgo cavaleiro medieval, Dom Quixote. Ao lado dele, estão seu cavalo Rocinante e seu fiel amigo e escudeiro: Sancho Pança. O romance relata as histórias e peripécias vividas por Quixote e seu companheiro nas regiões espanholas: La Mancha, Aragão e Catalunha. Quixote, encantado pelas histórias medievais, tenta recuperar, inclusive, o amor daqueles tempos, inspirado pela sua musa Dulcineia, por quem enfrenta qualquer adversidade.
Para tentar diminuir o vão entre a obra que poucas pessoas leem e sua história pouco (ou nada) conhecida, muitas outras artes como o cinema, o teatro e a dançam tentaram, no decorrer do século XX, recontar um recriar o seu Quixote. Eis que um dos maiores quadrinistas do mundo, o americano Will Eisner, resolveu fazer a sua versão, renomeando-a para O Ultimo Cavaleiro Andante. Com imagens pungentes e lúdicas e com destaque para poucos, mas importantes feitos da obra original, a adaptação não faz um resumo, mas uma tradução da original e, por isso, também pode ser lida pelo público infantil. Na HQ, Eisner conta a história a partir de um Sancha Pancha, já mais velho e nostálgico, relembrando as velhas histórias que teve ao lado de seu amigo Quixote.
Sancho então, conta que um homem, Alonso Quijano, era um grande leitor e fã das novelas de cavalaria. Um dia, tomado de paixão pelos livros e pelas virtudes daqueles tempos, resolve ele mesmo vestir uma armadura antiga e viajar pelo mundo inspirado por aqueles sentimentos. A obra se foca, principalmente, na piada que se torna era um sujeito idoso andando por aí com armadura em um tempo onde isto sequer existia mais. Além disso, ressalta bastante o absurdo, a loucura, o desvario que seria sair pelo mundo fazendo o bem e lutando contra as injustiças, revelando um homem sempre disposto a gentilezas e gestos nobres com todos a sua volta, sentimentos que, parece, também entrava em declínio com o advento da modernidade. O mais triste, no entanto, está no fato de que esta ilusão não era apenas loucura: o próprio Quixote sabe, ele próprio, que vivia uma mentira, e sua imaginação que supera tudo, aos poucos, perde a capacidade de encantar o mundo.
O que mais se destaca na adaptação de Eisner é o esforço em não se focar na estrita adaptação de cada uma das aventuras do Quixote ou em garantir que todo o livro esteja em sua HQ, mas em pegar uma espécie de espírito do clássico, de maneira que o que se tenha é uma tradução visual do Quixote e não necessariamente uma versão em desenho de uma narrativa antiga. Esta tradução visual, no caso, traz um Quixote que, ao mesmo tempo, acompanha nosso imaginário e traz para ele um conteúdo lúdico, contemporâneo, atualizando uma imagem para que uma tradição permaneça viva em seus traços, como se o Quixote pudesse ser tanto um personagem de Commédia Del’Arte da Idade Média, quanto um palhaço contemporâneo como um Chaplin ou Buster Keaton. Para fechar, e isto deixo em suspenso, temos até a presença de Cervantes…Vale muito a pena ler!
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Confira algumas imagens dos quadrinhos:
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