Promíscuo ser de partitura finita, de Cris Coelho

É sempre bom conhecer novos(as) autores e autoras brasileiros(as) e conhecer o que está sendo produzido na literatura nacional. Esta é, inclusive, uma ótima forma de pensar o atual momento do país, pois a cultura e a arte são fundamentais para entender um determinado tempo.

Cris Coelho é uma escritora que, já tendo livros publicados, conseguiu fazer algo que todos buscamos na internet, que é ter o reconhecimento de leitores(as) e seguidores(as) que acompanham nossas produções. Ela é criadora dos blogs Maria Poeta e Maria Scarlet, que contam com crônicas que se debruçam sobre temáticas cotidianas e compartilhadas por todos nós.

Veja AQUI as 10 melhores crônicas de Maria Scarlet

É importante dizer que o modo como Cris Coelho enviou o livro para o NotaTerapia demonstrou imenso carinho e cuidado. Embalado em uma bela caixa preta, ali já começava a vontade de conhecer o livro.

A personagem Maria Scarlet reúne elementos para discutir as experiências de sexo, sexualidade e desejo em um mundo onde mulheres frequentemente são repreendidas por exercerem livremente seus desejos e prazeres. Por este ponto, traz importantes contribuições para as atualíssimas discussões sobre a liberdade de mulheres para viverem suas vidas como melhor entenderem.

Em “Promíscuo ser de partitura finita”, Cris Coelho narra a história de duas perspectivas simultâneas: a de Anna Lara, uma mulher atormentada pelo seu passado e suas escolhas, e Maria Scarlet, uma prostituta que viveu muito antes de Anna Lara. A autora conjuga os tempos e as experiências de ambas, intrelaçando-as não só narrativamente mas, também, nas vidas de ambas.

O livro se insere na já estabelecida tradição da literatura erótica, com descrições que alternam entre o poético e o explícito a respeito de práticas sexuais dissidentes da norma experienciadas por Anna Lara e seu companheiro, Jota, um homem pelo qual ela sente, ao mesmo tempo, atração, desejo, ressentimento e raiva. Complexificando a narrativa, o livro traz outros elementos na composição das personagens, o que faz com que ele não seja um mero aglomerado de descrições de atividades eróticas e sexuais; ele insere tais práticas em uma narrativa mais complexa e ampla que envolve traumas e feridas da personagem principal, tornando-a mais interessante.

Anna Lara é uma mulher que vive na fronteira entre o desejo de experienciar novas sensações e prazeres e a culpa por um episódio específico de seu passado, de modo que torna-se de certa forma atormentada e confusa em relação a seus desejos. É aí que entra Maria Scarlet, que a ajuda a compreender estes desejos e seguir as linhas que a levam até eles. Por ter esta experiência dúbia com seu corpo e seus desejos, Anna Lara muitas vezes demonstra esta confusão nas escolhas que faz e nos modos como se relaciona não só com Jota, mas também com Maria Scarlet e com as outras pessoas que atravessam seu caminho.

“Promíscuo ser de partitura finita” é uma obra que narra de maneira competente a relação entre Anna Lara e Maria Scarlet, deixando, inclusive, uma vontade de saber mais sobre a história e o passado da própria Maria Scarlet. Para os(as) fãs de literatura erótica, será uma ótima leitura!

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