Lançado em 2018 pela DarkSide Books, esta obra do jovem escritor holandês Thomas Olde Heuvelt nos traz a original história da cidade de Black Spring, onde uma indestrutível bruxa do século XVII vaga por todo canto, envolta em correntes e com seus olhos e lábios costurados. Os moradores da cidade chegam a criar um aplicativo chamado Hex, no qual marcam a localização da bruxa, com o intento de avisar a vizinhança de sua presença, além de prevenir que forasteiros a vejam, pois sua presença é um segredo dos moradores de Black Spring. Um segredo sombrio, que os persegue mesmo que saiam da cidade, impedindo que continuem suas vidas por muito tempo longe dela, pois, uma vez que você foi morar em Black Spring, você não sairá de lá, não sem ser sofrer pela maldição de Katherine van Wyler, a bruxa dos olhos e lábios costurados.
Os protagonistas da narrativa são os membros da família Grant, o casal Steven e Jocelyn e seus filhos adolescentes, Tyler e Matt. Logo que somos apresentados à família Grant, vemos os pais interagindo alegremente com os dois garotos, Tyler, o filho mais velho, adora filmar todos e postar em seu canal do YouTube, que é mais um elemento da tecnologia atual bastante importante na narrativa. Enquanto a cena da família interagindo é narrada, a presença da bruxa é apresentada como algo com que eles lidam em sua rotina, pois ela aparece em um canto de sua casa, e eles cobrem seu rosto com um pano de prato e simplesmente voltam a seus afazeres, aparentemente não deixando que a presença do sobrenatural os afete tanto.
Inicialmente, a forma como lidam com Katherine chega a soar até engraçada, pois, ainda que seja um ser sobrenatural, ela é inofensiva, se não for perturbada. Se não for perturbada, lembre-se bem disso. E esse é justamente o problema. Tudo corre da forma mais normal possível, até que uns amigos de Tyler começam a mexer com a bruxa, e, a partir de então, tudo muda de rumo e a narrativa toma uma estrada hipnotizantemente perversa.
Tudo que no início parece comum e cotidiano se torna, lentamente, pesado e cruel. A leitura é como adormecer e afundar aos poucos em um sonho que, a princípio, só aparenta ser um pouco estranho, no entanto, conforme os segundos se passam, você vai afundando mais e mais nas sombras, até que sua mente esteja imersa em um furacão de sadismo, sangue, luto e morte.
As coisas acontecem de maneira bastante surpreendente e até mesmo repentina em alguns casos, e seria spoiler demais contar aqui o que acontece e por que, mas uma coisa podemos revelar, só para dar um gostinho ácido do que se passa em Black Spring: assim como em Bird Box quem vê as criaturas sente um desejo incontrolável de suicídio, em Hex, se alguém ouve os sussurros de Katherine, o mesmo ocorre – e um canto de sua boca tivera os pontos abertos em um momento da história, de forma que, se alguém se aproxima demais dela, é possível ouvi-la sussurrar. No entanto, não a culpe por sua maldição: apesar de toda a aparência assustadora e resultados letais de sua voz, Katherine não é uma vilã, mas uma vítima. O motivo você só vai descobrir se ler o livro, mas prepare-se para cenas fortes e um final espetacular, digno de um novo clássico do terror.