As 19 melhores frases de Relato de Um Certo Oriente, de Milton Hatoum

Shall memory restore (Devolverá a memória)
The steps and the shore, (Os degraus e a costa)
The face and the meeting place; (O rosto e o ponto de encontro)

W. H. Auden Relato de Um Certo Oriente, de Milton Hatoum, é sobre uma mulher que, após longa ausência, regressa a Manaus, cidade de sua infância. Deseja encontrar Emilie, a extraordinária matriarca de uma família libanesa há muito ali instalada. Encontra a casa desfeita – como desfeitas para sempre estão as casas da infância. Situado entre o Oriente e o Amazonas, este relato é busca de um mundo perdido, que se reconstrói nas falas alternadas das personagens, longínquos ecos da tradição oral dos narradores orientais. Uma obra com o sopro das obras que vieram para ficar.

O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:

A vida começa verdadeiramente com a memória.

Aqui no Amazonas os que repetem as palavras dos apóstolos são cobertos de penas coloridas e cagam na cabeça dos ímpios.

A claridade solar, o canto dos pássaros, o vozerio das pessoas que penetrava no recinto mais afastado da rua, tudo isso inaugurava o dia; o silêncio anunciava a noite.

Posso passar o resto da minha vida falando do passado – disse, com uma voz mais descansada.




Permaneceu calada por um momento: para reavivar a memória? tomar fôlego? amainar o rancor que lhe trazia a lembrança daquele dia?

Mas a memória era também evocada por meio de imagens; ele se dizia um perseguidor implacável de “instantes fulgurantes da natureza humana e de paisagens singulares da natureza amazônica”.

o olhar não se decide por nada.

E nessa tentativa desesperada de compreender o outro, como compreender a si mesmo?

Era um colossal arquivo de imagens, com rotas de viagens e mapas minuciosos traçados com paciência e esmero.



“Sair dessa cidade” dizia Dorner, “significa sair de um espaço, mas sobretudo de um tempo. Já imaginaste o privilégio de alguém que ao deixar o porto de sua cidade pode conviver com outro tempo?”

Aqui reina uma forma estranha de escravidão. A humilhação e a ameaça são o açoite; a comida e a integração ilusória à família do senhor são as correntes e golilhas.

Aquela mulher, sentada e muda, com o rosto rastreado de rugas, era capaz de tirar o sabor e o odor dos alimentos e de suprimir a voz e o gesto como se o seu silêncio ou a sua presença que era só silêncio impedisse o outro de viver.

As palavras estavam impressas na solidão.




Vegetar num tempo sem tempo.

O ruído do choro sempre transpassa a parede: anteparo frágil, vulnerável à dor do desespero.

O silêncio também participa do conhecimento entre duas pessoas.




Tenho impressão que ele lê para me esquecer.

Além disso, o invisível não pode ser transcrito e sim inventado.

Conversar era roubar uma crença, violar um segredo do outro.

Edição: Companhia das Letras, 1989

Related posts

“Viva a poesia!”: livro do Papa Francisco é lançado em Roma

Primeiro gibi criado por Mauricio de Sousa completa 65 anos

“As Aventuras de Daniel: Não Tenha Medo de Si Mesmo”: Fabiana Saka escreve história inspiradora sobre autoconhecimento e amizade