A carta de despedida de Virginia Woolf

Virginia Woolf (1882-1941) destacou-se como escritora, ensaísta e editora britânica, expoente do modernismo literário no século XX e de papel relevante para o feminismo. Suas obras mais conhecidas são: Mrs. Dalloway (1925) Ao farol (1927), Orlando (1928) e As ondas (1931).
A vida da escritora foi marcada por constantes crises depressivas. A morte repentina de sua mãe, quando tinha apenas 13 anos, desencadeou o seu primeiro abalo. Com variações de humor e transtornos mentais, passou alguns períodos internada. Depois com a morte da irmã e do pai, em 1905, a situação agravou-se. Mesmo diante desse quadro, permaneceu dedicando-se à produção literária.
Em 1912, casa-se com Leonard Woolf, economista e historiador. Logo, os dois fundaram a editora Hogarth Press, que editaria obras da própria Virginia e de outros escritores. Ele foi um grande companheiro e manteve-se sempre atento às recaídas da esposa. Ele acabava editando os livros, antes mesmo da revisão da autora. Num primeiro momento, ela ficava irritada, mas, em seguida, agradecia, pois podia começar um novo trabalho.
Porém, em 1941, Virginia sentiu que não poderia enfrentar novamente a situação, vestiu um casaco, colocou pedras nos bolsos e entrou no rio Ouse. Antes de partir, escreveu duas cartas, uma para o marido e outra para a irmã, Vanessa Bell. O corpo só foi encontrado três semanas depois.
A carta de despedida revela todo o carinho e o zelo que Leonard Woolf destinou à esposa. Ela, impotente frente à doença, agradece por tê-la cuidado com tanta dedicação.

Confira a carta traduzida:

Queridíssimo,
Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Você tem me dado a maior felicidade possível. Você tem sido, em todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes, até a chegada dessa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que – todo mundo sabe disso. Se alguém pudesse me salvar teria sido você. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua vida. Não creio que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós.
V.

Abaixo, o original em inglês:

Carta de suicídio de Virginia Woolf


 
Fontes: https://brasil.elpais.com/brasil/2018/01/25/cultura/1516835051_025456.html
https://resenhasalacarte.com.br/curiosidades-ultima-carta-virginia-woolf

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