A obra Na berma de estrada nenhuma e outros contos (2001), do escritor moçambicano Mia Couto, reúne 38 contos publicados em jornais e revistas ao longo dos anos. Mesclando o lírico e o fantástico, os contos abordam a traição, a solidão, a morte, o desencanto e a melancolia. As histórias revelam dramas pessoais e angústias do cotidiano e os desfechos são surpreendentes. Com imaginação e sensibilidade, o autor cria situações que levam o leitor a refletir sobre a complexidade das relações e os mistérios da existência humana.
Confira algumas frases:
Quem amamos nasce antes de haver o tempo.
Afinal, o tempo é quem nos vai alinhavando. Demasiado tarde: a vida coloca o dedal no dedo onde o amor já fez a ferida.
[…] nunca tivera do que fosse dono, nunca houve de quem fosse cativo. Só ele teve o que não tinha posse: saudade, fome, amores.
[…] a paixão é coisa que morre mesmo antes de se extinguir, tão sorrateira que nem lhe notamos enterro nem velório. No jejum do coração quem emagrece é a alma.
A espera é uma tecedura, a gente cria presenças com materiais de ausência.
A canção é só isso: um amor que se consome em chama entre o instante da voz e a eternidade do silêncio.
O amor, agora sei, é a terra e o mar se inundando mutuamente.
Quando somos loucos a vida nunca nos faz mal.
Afinal, no crime como no amor: a gente só sabe que encontra a pessoa certa depois de encontrarmos as que são certas para outros.
A mulher é uma nuvem: não há como lhe deitar a âncora.
As pálpebras limpam os olhos de poeiras. Que pálpebras limpam as poeiras do coração?