Todo o mistério e excentricidade da poesia de Emily Dickinson

A célebre poetisa Emily Dickinson veio ao mundo em 10 de dezembro de 1813, em Amherst, Massachusetts. Filha de Emily e Edward Norcross, e irmã de Lavínia, desde criança apresentou um comportamento introvertido e introspectivo, não sendo, porém, pusilânime, pois se sabe que, durante o ano que frequentou o South Hadley Female Seminarya jovem Emily foi, muitas vezes, repreendida pelo corpo docente no que dizia respeito à seu comportamento social: misantropa, mas sem papas na língua, desafiou àquela instituição ao recusar-se a declarar e aceitar sua fé.

Enfrentou um longo período como reclusa; solitária convicta, jamais se casou. Especula-se que fez pouquíssimas viagens em sua vida: Washington e Boston, Filadélfia, a fim de tratar alguns de seus problemas de visão. E em uma dessas viagens, o destino interpôs em seu caminho Charles Wadsworth e Thomas Wentworth Higginson: duas figuras de suma importância literária e pessoal em sua vida. Sendo o primeiro, o principal objeto de afeição da jovem poetisa, e alvo da maioria de seus poemas de amor.

Como muitos literatos de renome, teve a maior parte de sua obra reconhecida apenas muitos anos depois de sua morte, tendo assim publicado apenas dez poemas em vida. Após seu falecimento, de nefrite, em 1886, foram encontrados mais de 1.750 poemas guardados.

Em virtude de sua vida discreta e de sua rotina doméstica, pouco se sabe sobre os caminhos pessoais de Emily. Tendo sido a maior parte desvendada por uma série de correspondências trocadas com sua cunhada Susan Dickinson, suas colegas da época de escola, e seus mentores.

 O Notaterapia selecionou dez de seus grandes poemas:

”Dizem que o tempo ameniza
Isto é faltar com a verdade
Dor real se fortalece
Como os músculos, com a idade

É um teste no sofrimento
Mas não o debelaria
Se o tempo fosse remédio
Nenhum mal existiria”

”Se eu puder evitar que um coração se parta,
Eu não terei vivido em vão;
Se eu puder evitar a agonia duma vida,
Ou acalentar uma dor,
Ou assistir um desfalecido melro
A voltar a seu ninho,
Eu não terei vivido em vão.”

”Diante de um coração partido
Nenhum outro pode falar
sem ter tido o grande privilégio
De igualmente ter sofrido.”

”A água se ensina pela sede;
A terra, por oceanos navegados;
O êxtase, pela aflição;
A paz, pelos combates narrados;
O amor, pela cinza da memória
E, pela neve, os pássaros.”

”Para preencher um Vazio
Inserir a Coisa que o causou –
Tenta bloqueá-lo
com outra – e mais vai se escancarar –
Não se pode soldar um Abismo
Com Ar.”

”Não sou Ninguém! Quem és?
És tu – Ninguém – também?
Há, pois, um par de nós?
Não fales! Não vão eles – contar!
Que horror – o ser – Alguém!
Que vulgar – como Rã –
Passar o Junho todo – a anunciar o nome
A charco de pasmar!”

”Este pó foram damas, cavalheiros,
Rapazes e meninas;
Foi riso, foi espírito e suspiro,
Vestidos, tranças finas.
Este lugar foram jardins que abelhas
E flores alegraram.
Findo o verão, findava o seu destino…
E como estes, passaram.”

”Há uma palavra
Que empunha uma espada
Pode trespassar um homem armado –
Lança as suas sílabas de farpa
E fica-se, calada.
Mas onde tombar
Os salvos dirão
Em dia da nação,
Deixou de respirar
Um irmão, um soldado.
Por onde corra o sol arfante –
Ou o dia vagueie –
Aí, o seu ataque sossegado –
E a sua vitória!
Notai o atirador mais hábil!
O tiro mais certeiro!
O mais sublime alvo do Tempo,
A alma “sem memória”!

”Morri pela beleza, mas apenas estava
Acomodada em meu túmulo,
Alguém que morrera pela verdade,
Era depositado no carneiro próximo.
Perguntou-me baixinho o que me matara.
– A beleza, respondi.
– A mim, a verdade, – é a mesma coisa,
Somos irmãos.
E assim, como parentes que uma noite se encontram,
Conversamos de jazigo a jazigo
Até que o musgo alcançou os nossos lábios
E cobriu os nossos nomes.”

”A minha vida fechou-se duas vezes antes de se fechar –
Mas fica por saber
Se a imortalidade me revela
Um evento maior

Tão largo, tão incrível de pensar
Como estes que sobre ela duas vezes tombaram.
Partir é tudo o que sabemos do céu,
Tudo o que do inferno se pode precisar.”

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