Leituras #52: A Árvore do Halloween, de Ray Bradbury

Autor: Ray Bradbury
Editora: Bertrand Brasil
Tradução: Natalie Gerhart
 
Se você for fascinado pelo Halloween e pelo espírito evocado por essa data (digo espírito no sentido de energia, não de fantasma!) e imagina como isso tudo surgiu, esse é o livro certo para você. Essa obra de Bradbury explora não somente a história oficial desse mórbido feriado, pois para saber disso bastaria uma pesquisa simples na internet, mas faz uma viagem pela história da humanidade, mostrando os primórdios desse sentimento peculiar que temos ao mencionar o sombrio, a morte, a noite e tudo o que pode se esconder entre essas cortinas de trevas que cobrem tudo no fim do dia.

Apesar da capa e do título tratando de Halloween, não é um livro de terror, mas sim um livro de fantasia. A narrativa é de estilo simples, fácil de ler (sem deixar de ter passagens líricas extremamente encantadoras!), e conta sobre um grupo de meninos que, fantasiados para o Halloween, saem pela vizinhança para pedir por gostosuras ou travessuras, apesar de estarem tristes pela ausência do amigo mais querido da turma, o pequeno Pipkin. Apesar disso, eles seguem  e chegam a um casarão antigo, bem estilo aqueles dos filmes de terror.

No pátio dos fundos desse casarão há uma enorme árvore coberta de abóboras de Halloween, e é lá onde os meninos conhecem o senhor Montarlha, um misterioso homem de idade em trajes escuros, que se apresenta com uma travessura um pouco assustadora para crianças pequenas e os leva em uma viagem no tempo pelas diferentes eras do Halloween. Os meninos procuram pelo amigo perdido por todas as épocas, temendo que ele estivesse perdido para sempre. O livro é belamente ilustrado, como vocês podem ver pelas imagens que acompanham a resenha.

A narrativa sobrevoa diferentes épocas da história, mostrando desde os homens da caverna a temer a chegada da noite e que o sol tivesse morrido para sempre, até os egípcios celebrando uma espécia de Halloween próprio em que eles colocavam entes falecidos sentados à mesa para jantar. Logo, segue para os gregos, a Inglaterra medieval e até o famoso mexicano Dia de Los Muertos, o tipo de Halloween mais alegre e colorido.

Após essa viagem no tempo, os meninos reencontram o amigo perdido por meio de um decisivo ritual usando balas em forma de caveiras no Dia de los Muertos. E, no fim, a narrativa traz interessantes reflexões sobre o significado dessa data tão sombria e por muitos adorada: a quebra entre inverno e verão, dia e noite, vida e morte, o temor do fim, do desconhecido, da escuridão e a memória daqueles que se foram, uma mistura entre vida e morte ou a ponte que as conecta incansavelmente. Ou, como diz o próprio senhor Montarlha no livro: “Vida e morte, tudo junto em uma coisa só. Meio-dia e meia-noite. O nascimento, garotos. Rolando, fingindo-se de morto como os cães. E levantando de novo, latindo e correndo por milhares de anos, Halloween a cada dia e a cada noite.”

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