Leituras #46: Homens imprudentemente poéticos, de Valter Hugo Mãe

Editora: Biblioteca Azul
Ano: 2016
1ª edição

Valter Hugo Mãe é um dos mais importantes nomes da literatura portuguesa contemporânea. Ao lado de nomes como Inês Pedrosa e Gonçalo M. Tavares, tem sido responsável pela expansão da literatura portuguesa no mundo e, no Brasil, tem encontrado muitos(as) leitores(as) e admiradores(as).

Homens imprudentemente poéticos conta a história do artesão Itaro e do oleiro Saburo, no Japão. Itaro mora com sua irmã, a cega Matsu e a senhora Kame, a criada, enquanto Saburo mora com sua esposa, a senhora Fuyu. A história narra as relações entre estes personagens, focando-se na relação entre os vizinhos Itaro e Saburo e suas interações.

Itaro tem uma rara habilidade que o permite saber o futuro quando mata animais – habilidade esta que, se às vezes lhe é conveniente, em tantos outros momentos mostra-se quase como uma maldição, forçando-o a viver uma vida de angústias e a tomar decisões baseadas nestas previsões.

Neste livro, assim como em toda a obra de Hugo Mãe, as palavras são quase como personagens da história, no sentido de que elas não só narram a história mas constroem discursivamente um universo quase visível, palpável. Assim, o autor consegue criar imagens que não são apenas ilustrações, mas que apresentam potência e força como Itaro ou Saburo. Talvez, como seus personagens, Valter Hugo Mãe seja imprudentemente poético, na medida em que seu texto mistura prosa e poesia e instiga os leitores a consultarem diferentes sentidos para a apreensão do texto. Se, por um lado, isso torna o texto fascinante, por vezes pode estimular e, consequentemente, demandar excessivamente a presença do leitor, portanto não é um livro que se lê por ler. Sua densidade implica em uma disponibilidade de se deixar compreender os diferentes sentidos que a leitura desperta.

Homens imprudentemente poéticos é uma excelente obra para quem procura uma leitura densa, cheia de imagens e sentidos sobrepostos, assim como é um livro essencial para se pensar a língua e a sensibilidade portuguesas.

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