Leituras #45: Não Há Tempo a Perder, de Amyr Klink

Autor: Amyr Klink, em depoimento a Isa Pessoa
Editora: Tordesilhas, 2016
Páginas: 216

A natureza é infinitamente mais forte do que o homem.
Cem Dias Entre Céu e Mar, Amyr Klink

As histórias são barcos. Se ficam por demais ancoradas em seus portos e marinas, perdem todo o horizonte que poderiam conquistar. Amyr Klink descobriu sua vida em um barco e, através das suas viagens, aventuras e peregrinações, encontrou também as histórias. Era tanta experiência vivida entre os oceanos, o barco e a solidão da natureza que o papel e caneta se tornaram essenciais para transformar a matéria vivida em matéria contada, expandida, dividida entre todos. Não Há Tempo Há Perder é a biografia deste sujeito que entre barcos e histórias resolveu escolher os dois.

Não Há Tempo a Perder é a biografia do viajante e aventureiro Amyr Klink. Em depoimento a Isa Pessoa, Amyr contou sobre toda sua vida, desde o começo, na vida com os pais, até sua entrada na faculdade de economia da USP que lhe permitiu a grande mudança da sua vida: conhecer os remadores e a rotina de estar na água junto com um barco. O livro conta também a sua principal viagem saindo da África rumo à Antárctica que resultou na famosa obra Cem Dias entre Céu e Mar, chegando até os dias de hoje em que, ainda amante dos oceanos, Amyr vive de planejar viagens e aventuras por sobre as águas deste mundo.

O relato de Amyr é intenso, cheio de paixão. Ele nos conta tudo que um barco pode lhe(nos) ensinar. A disciplina, a organização, o planejamento, a dedicação a um sonho, o silêncio, a convivência, o respeito a natureza. Após ficar cem dias solitário, ele aprendeu também a selecionar melhor as coisas da vida. Sua história, narrada de forma simples, informal, como em uma conversa, vem nos mostrar como os sonhos não só transformam nossas vidas, mas como eles conseguem dar a volta nas escolhas que nos parecem óbvias. De um menino que fazia estágio em um banco – e odiava a rotina – Amyr passou a um sujeito que passa a maior parte de sua vida ao redor da água, tendo seu barco como ilha e sua própria companhia como presença.

Amyr diz:

Ninguém desafia a natureza. Não existe esse desejo, essa ambição, essa burrice. A imprevisibilidade do meio atemoriza, mas também fascina. E diante das forças inesperadas do mar, é preciso negociar com o vento, as ondas, o medo. No mar não tem atalho é um jogo de respeito em que você conhece o seu limite e a força do meio. Reconhece o quanto é fraco e o quanto precisa lidar com o imponderável. Fica em alerta máximo e respeito absoluto pelo universo em que se desloca. Sorte? De novo, não sei. Você fica tantas horas de plantão que acaba encontrando com a sorte na esquina – se estivesse dormindo talvez não esbarrasse com ela.

Não Há Tempo a Perder, de Amyr Klink, nos ensina que, diante da vida, não existe tempo para desperdiçar. O resto são burocracias cotidianas, a vida comum, o passo a passo para ganhar dinheiro, comprar coisas e repetir, repetir… No barco, ele encontrou sua vida e, contando sua história, pode nos ajudar a encontrar nossos barcos, nossos sonhos e nossas histórias.

Leia a resenha de Cem Dias Entre Céu e Mar no Indique um Livro:
http://indiqueumlivro.literatortura.com/2013/07/18/cem-dias-entre-ceu-e-mar-de-amyr-klink/

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