“Uma viagem vertiginosa para dentro de mim”. Entrevista com Bruno Sanctus, autor de Escrevi para Esquecer: Palavrões

Escrevi para Esquecer: Palavrões é o complicado de poemas que compreendem o período de sete anos numa viagem vertiginosa e introspectiva para dentro de si mesmo. A ficção encardida dentro das veias poéticas: ora prosa, ora poesia, ora um esporro em um berrante para um boi surdo, guiado apenas pelo horizonte tímido que o cabresto o permite visualizar através dos olhos baços. É instintivo antes de racional. É um glóbulo branco em uma luta vã para proteger um sistema imunológico já deficiente. A grosso modo poderia ser definido como um poema que desprendeu-se de sua sombra para lamber seus ouvidos cheios de cera, causando efeito anestésico e após cessar o efeito da morfina e suas ilusões, começa a estapear-lhe a face; enquanto escreve sua biografia com a própria merda. Escrevi para Esquecer é sobre colocar fogo no seu magnum opus para que ninguém o leia.

Escrevi  para Esquecer: Palavrões é mais um lançamento da NotaTerapia Editora. Para comprar o livro, acesse: http://editoramultifoco.com.br/loja/product/escrevi-para-esquecer-palavroes/

Confira a entrevista com o autor:

NotaTerapia –  Em poucas linhas, o que é o seu livro Escrevi para Esquecer: Palavrões? 

Bruno Sanctus – Um diário fictício repleto de referências literárias, cinematográficas e cultura pop.

N – Quando você começou a escrever e quais as motivações que te levaram a escrever seu livro?

B- Comecei a escrever por volta dos 14, 15 anos, que foi quando o Cássio e eu formamos o Concepção Leste. Só que entre os 17, 18 anos acabei me afastando da música, porque era difícil conciliar os shows com o trabalho. Então, passei somente a escrever. E foi basicamente aos 17, acompanhado de algumas frustrações que este livro começou a ser escrito indiretamente, digo indiretamente, no sentido de que não havia intuito algum de que se tornasse um livro, era apenas um compilado de poesias avulsas.

Quanto a motivações, bem, a maior delas sempre foi a necessidade de colocar algo que te perturba para fora; algo que não te deixaria dormir em paz se não fosse feito.

N – Qual você acha que é e deveria ser o papel da literatura e das artes no mundo de hoje?

Subverter, causar desconforto, descriptografar códigos. A arte faz a vida de voyeur e depois a vida tenta reproduzir a arte ensaiando os passos em frente a um espelho sem brilho.

N – Quais os(as) escritores (as) que te marcaram e influenciaram tanto na vida quanto na feitura de Escrevi para Esquecer?

Existe uma trindade que me influenciou muito no começo – e ainda hoje influencia – que são: Alan Moore, Neil Gaiman e Grant Morrison (como deve ter percebido sou fã de quadrinhos e inclusive, as vezes, tento reproduzir a similaridade deles dentro da poesia), também adoro Oscar Wilde, Molière, Chuck Palahniuk, Mary Shelley, Garth Ennis, Warren Ellis, J. G. Ballard, Emil Cioran, Philip K. Dick, Fernando Pessoa, Nietzsche, Brian Azzarello, Augusto dos Anjos, Bukowski e Irvine Welsh. Acho que os que mais me influenciaram quando estava terminando o livro foram Bukowski, Irvine Welsh, Chuck Palahniuk e J.G Ballard.

N – Quem lê sua obra, acompanha um processo real de surgimento de um gênero que aparece, no começo, tendo como referência o rap e, aos poucos, vai se aprofundando em um caminho de desvendar algo que há no corpo para além do corpo. Qual foi o seu caminho na poesia?

Sim, no princípio a influência do rap foi bem marcante mesmo, respirava aquilo. Mas depois, vi que perdia muito tempo pensando numa rima perfeita e que não tornasse o texto enjoativo e depois fui largando de mão e quis experimentar novos gêneros tal como escrever uma crônica em versos, desenvolver outros estilos de narrativas, resgatar o gênero noir em um poema pornográfico, onde na verdade, o sexo passa a ser o fator secundário da história e é mais sobre as psicoses da personagem. Acredito que tenha sido de suma importância esse processo de mudança e reinvenção, que o mesmo traz para o livro uma atmosfera mais densa e humana. Isso foi o que me fez dividir os capítulos de acordo com as idades, de modo que, para o leitor, fique bem explicita essa mudança. Essa coisa experimental.

N- Escrevi para Esquecer: Palavrões é uma obra de choque, mas também é repleta de referências. É possível ver um arcabouço de leituras imenso por baixo das leituras maior dos poemas. Seria possível fazer inclusive uma infra-leitura, ou uma leitura subterrânea da obra. Como você vê este jogo metalinguístico entre obras no interior de seus poemas?

Vejo de uma maneira bem positiva, como se fosse uma característica própria das coisas que escrevo, e as vezes, até como uma homenagem as fontes de onde foram extraídas.

N – Existe uma figura central em sua obra: o desejo. Como o seu poema, máquina desejante, resiste aos esforços do corpo para largar o poema e ir para o mundo?

O desejo age de maneira involuntária. Mesmo quando você não está desejando, você de fato está desejando não desejar. Entende? É uma negação do lado racional para agir em prol do instintivo. E resistir a um poema é tentação,- não importa quão infame seja –  toda tentação deve ser abraçada. As vezes, um poema nem precisa de muito esforço pra sair, basta você estar atrasado e a pasta de dente cair na sua camisa ou o ônibus não parar no ponto. A magia está em como você vai colocar os símbolos na ordem certa para que no fim, possa ser atribuído um significado a ela. O mesmo ocorre com um poema. A diferença é que criei o meu próprio sistema magístico. HAHAHAHA!

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