22 citações de A Ascensão das Universidades para você conhecê-las melhor!

Ascensão das Universidades é um livro publicado pela Livraria Danúbio Editora, de autoria de Charles Homer Haskins, que foi professor da universidade de Harvard por 30 anos – e também assessor de um dos presidentes americanos –, é um dos grandes historiadores medievalistas conhecidos. Seu livro foi criado a partir de um ciclo de palestras feitas por ele e abrange a origem das universidades, diferenciando a forma da busca pelo conhecimento desde a Grécia Antiga até o medievo, quando essas instituições começam realmente a ter a cara da atualidade, e, ao mesmo tempo, grandes diferenças. Separei aqui algumas citações diretas do livro que achei pertinentes de serem trazidas, e caso você, leitor, estava em dúvida sobre comprar ou não esse livro, bem… espero que as citações o ajudem a decidir.

 “Os gregos e os romanos, por mais estranho que possa parecer, não tiveram universidade no sentido em que a palavra foi usada nos últimos sete ou oito séculos. Ele tiveram educação superior, mas os termos não são sinônimos.” (p. 17)

“Sócrates, que era um grande professor, não oferecia diplomas, e o estudante moderno que sentasse aos seus pés durante três meses exigiria um certificado, algo tangível e externo que pudesse exibir como uma vantagem do seu estudo – aliás, esses seria um excelente para um diálogo socrático.” (p. 17)

“Em todos esses assuntos [educação organizada e mecanismos de instrução] nós somos os herdeiros e sucessores, não de Atenas e Alexandria, mas de Paris e Bolonha.” (p. 17)

“Durante todo o período de sua origem, a universidade medieval não teve bibliotecas, laboratórios ou museus, nem dotações ou edifícios próprios; ela não poderia, de forma alguma, satisfazer as exigências da Fundação Carnegie! […] A universidade medieval era, na excelente expressão de Pasquier, ‘feita de homens’ – batiê em hommes.” (p. 18)

“Mesmo para o mundo moderno, é difícil compreender claramente que muitas coisas não tiveram fundador ou data determinada de início, mas, em vez disso, ‘simplesmente evoluíram’ numa ascensão lenta e silenciosa e sem deixar registros claros de origem. Isso explica por que os primórdios das universidades mais antigas são pouco conhecidos e muitas vezes incertos” (p. 19)

“Com efeito, a palavra universidade originalmente significava esse grupo ou corporação em geral, e foi apenas depois de algum tempo que passou a referir-se especificamente às guildas de mestres e estudantes, universitas societas magistrorum discipulorum. Historicamente, a palavra universidade não tem nenhuma ligação com o universo ou a universalidade da educação; indica apenas a totalidade de um grupo, seja de barbeiros, de carpinteiros ou de estudantes, não fazia diferença.” (p. 25)

“Excluídos das ‘universidades’ de estudantes, os professores também formaram uma guilda ou ‘colégio’, e passaram a exigir para a sua admissão certas competências específicas que eram testadas por meio de exames, de modo que nenhum estudante poderia ingressar a menos que obtivesse o consentimento da guilda. Visto que uma boa maneira de avaliar o conhecimento de um assunto é pela habilidade de ensiná-lo, o estudante, qualquer que fosse a sua carreira futura, buscava na licença de professor um certificado de suas realizações. Este cerificado, a licença para ensinar (licentia docendi), tornou-se deste modo a primeira forma de grau acadêmico.” (p. 27/28)

“No sentido institucional, a universidade foi um produto direto da escola de Notre Dame, cujo reitor era o único que podia autorizar o ensino na diocese e assim controlava a outorga de graus universitários, os quais, tanto aqui como em Bolonha eram originalmente certificados de professores. As primeiras escolas ficavam nos arredores da catedral…” (p. 31)

“Qual é então a herança das universidades mais antigas? Em primeiro lugar, a herança não são prédios ou um tipo de arquitetura, pois as primeiras universidades não tinham edifícios próprios, mas, ocasionalmente, usavam edifícios privados e igrejas vizinhas. Afinal, assim utilizada até 1775, a Primeira Igreja Batista de Providência foi construída ‘para a adoração pública do Deus Onipotente e também para a realização de solenidades de formatura! Com efeito, aquele que tentar reconstruir a vida das universidades antigas encontrará pouco auxílio naquilo que restou delas […] A continuidade tampouco está nas formalidades e cerimônias acadêmicas, apesar de algumas delas terem sobrevivido, como a outorga de graus por intermédio do marcar o tempo dos exames, como presenciei na Universidade de Coimbra em Portugal.” (p. 39/41)

“Às vezes, as universidades são criticadas por não serem acessíveis ou enfatizarem a educação profissional, por serem muito brandas ou demasiado exigentes, e esforços drásticos foram feitos para reformá-la por meio da abolição dos requisitos de entrada ou da exclusão de tudo aquilo que não tem como objetivo o ganha-pão; contudo, nenhum substituto jamais foi encontrado para a universidade no que diz respeito à sua atividade principal, isto é, a formação de estudiosos e a continuidade da tradição de aprendizagem e investigação. A glória da universidade medieval, diz Rashdall, foi ‘a consagração do Conhecimento’; uma visão e glória que ainda não desapareceram da face da terra.” (P. 43)

“’Contudo, é habitual que os doutores, após concluir um livro, digam algo sobre seus planos; assim também direi alguma coisa, mas não muito. No ano vindouro, espero dar aulas ordinárias respeitando os estatutos com o sempre fiz, porém não darei aulas extraordinárias, visto que os estudantes não são bons pagadores. Eles desejam aprender, mas não querem pagar. Ou conforme o ditado: todos desejam aprender, mas nada de pagar o preço!’” (p. 62)

“O reitor também não açoita o candidato, mas no Juízo Final os culpados serão flagelados com uma vara de ferro, desde o vale de Josafá até o inferno, tampouco podemos contar com a possibilidade de escapar da punição de sábado mediante artifícios como fingir estar doente, matar aula, como fazem os garotos ociosos nas escolas de gramática, ser mais forte do que o mestre ou se consolar com o pensamento de que toda a diversão vale as chicotadas. O candidato que se submete ao exame do reitor o faz voluntariamente” (p. 65)

“Se, como alguns reformadores sustentam, a posição social e a respeitabilidade dos professores pressupõem o seu envolvimento na administração dos negócios da universidade, a Idade Média foi a grande época do predomínio dos professores. A própria universidade foi uma sociedade de mestres num tempo em que ela não era uma sociedade de estudantes. Uma vez que não havia dotações muito significativas, também não havia conselho diretor, tampouco qualquer sistema de controle estatal semelhante ao que existe na Europa continental ou em muitos lugares nos Estados Unidos.” (p. 69)

“Na prática, em geral havia liberdade, exceto na filosofia e na teologia. Nas disciplinas de direito, medicina, gramática e matemática, os homens normalmente eram livres para ensinar e disputar como desejassem. Uma vez que não havia problemas sociais no sentido moderno e nenhum ensino de ciências sociais enquanto tal, uma fértil fonte de problemas estava ausente. Até onde eu sei, nenhum professor medieval foi condenado por pregar o livre comércio, a livre cunhagem de prata, o socialismo ou a não-resistência. Ademais, não houve censura organizada de livros antes do século XVI, muito embora tratados individuais pudessem ser queimados publicamente, tal como acontecia no último período do Império Romano.” (p. 71)

“O professor medieval, em seu próprio tempo e da sua própria maneira, com frequência considerou os interesses permanentes do ser humano ao mesmo tempo em que estimulava a inteligência dos homens e mantinha viva a tradição contínua de cultivo da ciência.” (p. 75)

“Muitos deles [estudantes] andam pelas ruas armados, atacam os cidadãos e insultam as mulheres. Eles brigam entre si por causa de cachorros, mulheres e outras coisas mais, ocasião em que decepam os dedos uns dos outros com suas espadas ou, munidos apenas de facas em suas mãos e sem nenhuma proteção para suas cabeças tonsuradas precipitam-se em combates que cavaleiros armados evitariam. Os seus compatriotas vêm em seu auxílio, e logo nações inteiras de estudantes podem estar envolvidas no conflito.” (p. 80)

“Nós vemos o aluno estudar na janela, conversar sobre o seu futuro com o colega de quarto, receber visitas dos pais, ser cuidado por amigos quando está enfermo, cantar os salmos no funeral de um estudante ou visitar um colega e convidá-lo para que lhe faça uma visita” (p. 81)

““’Quando a recitação chega ao fim e a lição foi passada, os jovens começam a se animar com a aproximação da hora de ir para casa’ e entregam-se a muita conversa fiada, ‘que aqui é omitida, para que não forneça os meios de ofender’.” (p. 93)

“’Os primeiros versos de um estudante são sempre um pedido de dinheiro.’” (p. 95)

“Seria mais adequado ao espírito da história ampliar as nossas ideias sobre a Idade Média para que elas possam se adaptar aos fatos da vida medieval. Os goliardos não eram humanistas antes da Renascença, tampouco eram reformadores antes da Reforma; eles eram simplesmente homens da Idade Média que escreveram para o seu próprio tempo. Se os escritos desses letrados do Norte, principalmente dos franceses, aprecem antecipar a Renascença italiana, pode ser que a renascença tenha começado antes e tenha sido menos especificamente italiana do que se costuma supor. Se esses autores são mais seculares e até mesmo mais mundanos do que esperaríamos: que fossem intelectuais da Idade Média, devemos aprender a esperar algo diferente.” (p. 107/108)

“Assim, o estudante ideal que figura nos sermões, apesar de um pouco inexpressivo, é obediente, respeitoso, ávido por aprender, aplicado nas aulas e corajoso no debate, ele pondera as suas lições até mesmo durante o seu passeio noturno ao lado do rio.” (p. 109)

“Na universidade medieval, a razão profissional não era o único grande incentivo para o estudo, havia também muito entusiasmo pelo conhecimento e muita discussão de assuntos intelectuais. […] Naquele tempo, como também nos dias de hoje, a qualidade moral de uma universidade dependia da intensidade e seriedade da sua vida intelectual.” (p. 110)

“A Idade Média está muito distante no passado, em alguns aspectos está mais longe de nós do que a Antiguidade Clássica, e é muito difícil perceber que homens e mulheres, tanto naquele tempo como hoje, são, afinal de contas, muito semelhantes enquanto seres humanos. […] Em suas relações com a vida e a cultura, o estudante medieval se assemelha ao seu sucessor moderno numa medida muito maior do que geralmente se supõe.” (p. 112)

E caso queiram ler uma abordagem mais completa acerca do livro, publiquei uma matéria recentemente aqui no Nota Terapia. Abaixo segue o link:

A ascensão das universidades: uma breve análise da sua origem medieval


 
 
 
 

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