Game of Thrones |A excelente season finale em Os Ventos do Inverno

(COM SPOILERS – revelações do enredo)

No domingo (26), foi ao ar a season finale da sexta temporada de Game of Thrones, episódio com o título de The Winds of Winter (Os Ventos do Inverno). Diversas tramas foram encaminhadas, com suas conclusões e aberturas para os enredos da próxima temporada, a qual retorna apenas entre abril e junho de 2017. De Winterfell a King’s Landing, passando para Além das Muralhas, personagens se viram confrontados dando passos novos em seus arcos.

Primeiro, a série contou com um belo trabalho de fotografia e trilha sonora. Os acordes curtos de piano, violoncelo e violino, bem sutis, concederam a atmosfera certeira dos personagens colocando suas vestimentas e objetos que qualificavam suas posições sociais, como a coroa, o vestido, o anel, logo no início do episódio. O perfil de Margeary desenhando o cenário, Tommen e sua tensão ao pegar a coroa, e Cersei em um ritual antecedendo seu instante de triunfo. As portas do Alto Septão sendo abertas e vistas de cima compuseram a tensão correta para o que seria o julgamento mais esperado de King’s landing.

Na sequência, Loras sacrifica o seu nome enquanto Margeary pressente que a espera por Cersei é parte de seu plano de quem não vai sucumbir aos preceitos da Fé Militante. Junto a isso, vemos, aos poucos, o plano de Cersei sendo executado até o último instante da grande cena catártica do Alto Septão explodindo no verde do fogo vivo. A antecipação da poça em verde com a vela derretendo foi o tom adequado para o que viria a ser o espetáculo de vingança de Cersei, a qual, em seguida, assume o trono como rainha de King’s landing.

Nesta virada da personagem, vemos que o seu comportamento já indica que Cersei aceitou as consequências de sua profecia. A morte de Tommen não a choca porque esperava que acontecesse de alguma forma. Inclusive, a cena foi muito bem executada. Se antes o episódio foi tomado por uma trilha sonora sofisticada e distinta do que ouvimos anteriormente, na série, a morte de Tommen é o silêncio que cria o clima para o seu suicídio, com a câmera estática. A composição minimalista surpreende o espectador e alimenta ainda mais a tensão de todo o episódio.

A Cersei que assume o trono é um dos últimos resquícios de suas qualidades como mãe protetora. Agora restou apenas a mulher que vai tentar, a todo custo, proteger-se da conclusão da profecia, que inclui ser morta pelo irmão mais novo e ser substituída por uma rainha mais bela. A derrocada de Cersei será mostrada, de fato, na próxima temporada, com mais cenas catárticas e possibilidades para outros personagens adentrarem no jogo pelo trono.

Daenerys foi outra personagem que, finalmente, viu seus planos tomarem forma em alto mar, com as velas tremeluzindo aos ventos, seus dragões marcados simbolizando a casa Targaryen. Ela se despede de Daario e se surpreende com o fato de não ter sentido nada ao deixá-lo em Meereen. A cena com Tyrion, concedendo-lhe o cargo de Mão da Rainha, foi bem construída e deu humanidade aos dois personagens. Tyrion a olha com encanto e veneração, um respeito que Daenerys ganhou aos poucos pelas suas ações. Ela é a figura na qual ele consegue acreditar, mesmo que Westeros seja a permanente dúvida sobre as pessoas corrompidas pelo poder. As atuações de Peter Dinklage e Emilia Clarke possuem delicadeza, e vemos uma rainha próxima de seu conselheiro, comentando sobre os seus temores e o seu futuro. Por fim, a cena, com sua simplicidade, fechou bem o arco da personagem e intensificou o significado de seu olhar no final do episódio, finalmente indo para Westeros.

Houve também a cena catártica de Jon Snow sendo reconhecido, pelas casas que lutaram por ele, como rei do Norte. A participação de Lyanna Mormont (Bella Ramsay) é bem-vinda e dá o verdadeiro significado de heroísmo à cena. Ela, com sua fala imponente e tão tenra idade, já conquistou o público. Entretanto, a cena que reproduz a legitimação de Robb Stark, pareceu por em dúvida a importância de Sansa no enredo. Pressionada por Mindinho, a jovem ainda não sabe bem como agir. Ela foi a responsável pela vitória na batalha, em razão de sua aliança com outra casa do Vale, aliança esta conquistada por Mindinho. Contudo, Sansa não confia nele, tampouco sente que é justo não obter seu espaço em Winterfell. Sansa trouxe sensatez e realidade para o Jon, o qual ainda age e vê os fatos com certo simplismo. Ele reconheceu que há muitos inimigos da Casa. Mas não concedeu justiça à irmã, dando-lhe espaço igual em Winterfell. Jon ainda pode errar em crer que os únicos inimigos são os White Walkers, e ignorar a perspicácia do Mindinho. Desta forma, a trama entre Sansa e Jon ainda é uma incógnita.

Continuando em Winterfell, Melisandre foi expulsa por Jon, em razão da morte de Shireen, punição exigida por Davos. Era esperada a postura justa de Jon, mas não pode ser, de fato, a última vez que este verá Melisandre. Seus poderes e contato com o Senhor ainda devem ser requisitados. E, ainda assim, soou estranho que apenas agora a série tenha feito este confronto. Será que era realmente necessária a saída de Melisandre depois de tanto tempo? Não era para o Davos já saber o que havia acontecido? E uma curiosidade é que ela, como Red Woman, consta na lista de Arya, e Melisandre está indo para o Sul. Haverá um encontro entre elas, na próxima temporada?

Sobre Arya, a personagem conseguiu executar um plano brilhante e concluiu uma das vinganças mais aguardadas. Após se ver livre da Casa do Preto e do Branco e afirmando que ela é uma garota que tem nome, e é uma Stark, Arya consegue chegar em As Gêmeas, o castelo dos Frey. De longe, usando outra face, observa a conversa entre Jaime Lannister e Walder Frey. Depois, a personagem surpreende ao servir uma torta para ele dizendo que seus irmãos estariam lá dentro. É com choque que se constata que Arya matou todos e fez uma torta com a carne. E, assim, ela revela o seu nome e rosto, e mata Walder Frey, na mesma sala onde este massacrou sua família. A cena teve um plot muito inteligente e acabou por lembrar o enredo do filme musical Sweeney Todd. Nele, a personagem de Helena Bonham Carter propõe fazer tortas com carne humana, afinal, carne é cara. Arya, em um enredo paralelo, podia muito bem participar de uma audição do musical, pois sua personagem já tem as piores tortas de Westeros para oferecer. Carne dos Frey deve ser de qualidade tão ruim quanto a de Ramsay Bolton.

Neste mesmo cenário, a conversa entre Jaime e Frey tem um tom apropriado para o contexto. Jaime não está feliz em celebrar a conquista de Correrio e estar ao lado dos Frey. E quando este afirma que tem orgulho em ser regicida, a atuação sutil de Nikolaj Coster-Waldau demonstra a grande diferença entre Jaime e aquele ao seu lado: ele se arrepende por ter matado o próprio rei, mas se o fez, foi por um gesto heroico de salvar toda a cidade do fogo vivo. Jaime é este personagem o qual tem uma jornada de personalidade complexa a qual, nas duas últimas temporadas, tinha ficado um pouco para trás. Mas, esta cena, mostra que Jaime ainda pode ter um caminho mais forte na série, de quem ainda busca comprovar que seu nome pode ser aliado à justiça e aos bons atos.

Quanto aos demais plots, Sam chegou, por fim, na Cidadela. A grandiosidade da biblioteca, entre seus infinitos livros, foi honrada. A breve cena em que ele perpassa as estantes, emocionado, foi um detalhe que deu equilíbrio ao episódio. Tanto ele quanto Tyrion são dois personagens os quais levam a sério o que os livros têm a dizer. É ótimo que a série lembre deste ponto, pois guerras não se fazem apenas por batalhas e alianças, mas por conhecimento acerca do inimigo e da História também.

E é preciso comentar que a série, por ter tantos personagens para dar conta, erra em relação ao tempo de deslocamento entre as regiões. Brienne e Pod, por exemplo, poderiam ter aparecido por poucos segundos no episódio para demonstrar que chegaram em Winterfell. Não há nenhuma menção a eles, e esta ausência pode ter sido uma falha da série ou os dois personagens encontraram algum empecilho no meio do caminho. Terá ocorrido algum encontro com a Irmandade sem bandeiras? O ponto é que já está tarde demais para a personagem Lady Stoneheart, presente no plot da Brienne nos livros, aparecer. A esta altura, é praticamente impossível. Varys também se deslocou de Meereen a Dorne e conseguiu retornar para sair de Meereen com Daenerys. Nesta viagem, vale lembrar que Varys propõe às Filhas da Serpente uma aliança com Daenerys e Olenna Tyrell.

Ainda sobre o tempo na série, Arya foi de Braavos a Correrio com uma rapidez surpreendente. Resta pensar, então, que o episódio é um recorte condensado destes personagens, que os fatos não ocorrem todos, um após ao outro, e sim ao mesmo tempo. O problema é que, no enredo de Varys especificamente, a sua presença no navio de Daenerys não era exigida, e portanto, foi uma falha que se destacou, dada a distância enorme entre as regiões.

Por fim, a série optou por deixar a presença dos White Walkers para a próxima temporada. Contudo, Bran volta novamente ao passado em suas visões, e a teoria da Torre da Alegria foi confirmada: Jon Snow não é filho de Ned Stark, e sim de Lyanna e Rhaegar. Ou seja, Jon é parte Targaryen, sendo assim, parente de Daenerys. Ambos são, assim, o fogo e gelo, elementos que os fãs esperavam tanto pela confirmação. Se os personagens serão aliados ou inimigos, é algo que só será respondido daqui a um ano.

Sendo assim, a sexta temporada termina com dois episódios impecáveis. A Batalha dos Bastardos pode ser considerado o melhor episódio da série toda, e a season finale encaminhou com excelência os enredos que têm sido trabalhados ao longo de todos os anos de Game of Thrones. Ademais, a participação das personagens femininas se destaca e ganha novas formas neste contexto. Alianças estão sendo propostas, e tais personagens, aos poucos, se tornam protagonistas. O que sabemos, por ora, é que o hiato é uma noite escura e cheia de terrores e agora é uma espera ainda mais intensa, pois o inverno realmente chegou.

Ouça aqui a música que iniciou o episódio

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