15 maravilhosos poeminhas de Caderno H, de Mario Quintana

Há duas espécies de livros: uns que os leitores esgotam, outros que esgotam os leitores. (Mario Quintana)

Ah, Quintana… sempre surpreendente com sua incrível habilidade de dizer muito falando pouco. “Caderno H” foi o título que ele deu aos pequenos escritos que começou a escrever, por volta de 1940, na revista “Província de São Pedro”, em Porto Alegre. Como sempre, simplicidade, afeto e sutileza são as principais características dos poemas que falam sobre a vida, o cotidiano e as pequenas coisas.

Confirma uma seleção com 15 maravilhosos poeminhas desta grande obra!

Coisas do tempo

Com o tempo, não vamos ficando sozinhos apenas pelos que se foram: vamos ficando sozinhos uns dos outros.

 

Cuidado!
A nossa própria alma apanha-nos em flagrante nos espelhos que olhamos sem querer.

 

O pior

O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso.

 

Libertação

Não há maior euforia, numa orquestra, como a dos pratos – tlin! tlin! tlan!!! – quando se vingam, enfim, do seu longo, do seu forçado silêncio.

 

Limites da conversação
Há certas coisas que não haveria mesmo ocasião de as colocarmos sensatamente numa conversa – e que só num poema estão no seu lugar. Deve ser por esse motivo que alguns de nós começaram, um dia, a fazer versos. Um modo muito curioso de falar sozinho, como se vê, mas o único modo de certas coisas caírem no ouvido certo.

 

Ela

Mas que haverá com a Lua, que, sempre que a gente a olha, é como um novo espanto?

 

Exame de consciência

Se eu amo o meu semelhante? Sim. Mas onde encontrar o meu semelhante?

 

Mas tudo é novo debaixo do sol!

Resmungam os velhos: – “Não há nada de novo debaixo do sol” – e nem se lembram dos que, neste momento, estão recriando  o mundo: os poetas, os artistas, os recém-nascidos.

 

Tic-Tac

Mera ilusão auditiva graças à qual a gente ouve sempre “tic-tac” e nunca “tac-tic”… Depois disso, como acreditar nos relógios? Ou na gente?

 

Poesia & lenço
E essas que enxugam as lágrimas em nossos poemas como defluxos em lenços.. Oh! tenham paciência, velhinhas… A poesia não é uma coisa idiota: e poesia é uma coisa louca!

 

Poeminha do contra

Todos esses que aí estão
Atravancando o meu caminho,

Eles passarão…
Eu passarinho!

 

Super-sherlockismo

A psicanálise? Uma das mais fascinantes modalidades do gênero policial, em que o detetive procura desvendar um crime que o próprio criminoso ignora.

 

Da liberdade criadora

Nunca me releio… Tenho um medo enorme de me influenciar. É verdadeiramente catastrófico quando um autor se transforma no seu discípulo.

 

Outono
É uma borboleta amarela? Ou uma folha que se desprendeu e que não quer tombar?

 

Imaginação

A imaginação é a memória que enlouqueceu.

 
Editora: Globo, 2006
*Foto de capa retirada no site http://www.cultura.rs.gov.br/v2/2014/05/saudade-20-anos-sem-mario-quintana/

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