As 7 melhores frases de História do Olho, de Georges Bataille

A História do Olho, de Georges Bataille, conta a história de um rapaz e sua amiga, parceira, amante Simone em suas atividades eróticas da adolescência. De uma devassidão irrestrita e absoluta, Simone busca erotizar todos as instâncias da vida comum. Seja num bar, numa igreja, num parque, não importa, ela arruma alguma forma de arrancar sua roupa e oferecer seu corpo aos outros, e a seu amigo a quem o pau duro logo responde a repetidas esporradas, mijadas e muito mais. Juntos, encontram Marcela, uma menina pudica que entra no jogo dos dois e, em uma noite exasperante, enlouquece até precisar ser levada a uma clínica psiquiátrica.

Enquanto isso, o céu ameaçava uma tempestade e, com a noite grossos pingos de chuva haviam começado a cair, aliviando a tensão de um dia tórrido e sem ar. O mar fazia um barulho enorme, dominado pelos fortes estrondos dos trovões, e os relâmpagos permitiam ver, como à luz do dia, os dois cus excitados das meninas então emudecidas. Um frenesi brutal agitava nossos três corpos. Duas bocas juvenis disputavam meu cu, meus colhões e meu pau, e eu não parava de abrir pernas úmidas de saliva e porra. Era como se eu quisesse escapar do abraço de um monstro,  e esse monstro era a violência dos meus movimentos. (…) A violência dos trovões nos assustava e aumentava nossa fúria, arrancando-nos gritos que ficavam mais fortes a cada relâmpago, ante a visão de nossos séculos.

Pouco a pouco, foi crescendo em mim a ideia de me matar; com o revólver na mão, acabei por não atinar com o sentido de palavras como esperança e desespero. O cansaço me impunha uma necessidade de dar, apesar de tudo, algum sentido à minha vida. Ela só o teria à medida que eu conseguisse aceitar uma série de acontecimentos. Aceitei a obsessão dos nomes: Simone, Marcela. Por mais que risse, e me inquietava com uma disposição fantástica pela qual as minhas atitudes mais estranhas se misturavam sem cessar às delas.

Mal conseguia ficar de pé, no desespero de terminar aquela escalada pelo impossível. O tempo transcorrido desde que abandonamos o mundo real, constituído pelas pessoas vestidas, estava tão distante que parecia fora do nosso alcance. Essa alucinação pessoal se desenrolava agora com a mesma falta de limites que o pesadelo global da sociedade humana, por exemplo, com a terra, a atmosfera, o céu.

Para os outros o universo parece honesto. Parece honesto para as pessoas de bem porque elas têm os olhos castrados. É por isso que temem a obscenidade. Não sentem nenhuma angústia ao ouvir o grito do galo ou ao descobrirem o céu estrelado. Em geral, apreciam os “prazeres da carne”, na condição de que sejam insossos.
Mas, desde então, não havia mais dúvidas: eu não gostava daquilo  a que se chama “prazeres da carne”, justamente por serem insossos. Gostava de tudo o que era tido por “sujo”. Não ficava satisfeito, muito pelo contrário, com a devassidão habitual, porque ela só contamina a devassidão e, afinal de contas, deixa intacta uma essência elevada e perfeitamente pura. A devassidão que eu conheço não suja apenas meu corpo e os meus pensamentos, mas tudo o que imagino em sua presença, e sobretudo, o universo estrelado…

Se morreu, foi por minha culpa. Se tenho pesadelos, se às vezes me tranco, horas a fio, numa adega porque penso em Marcela, ainda assim estou sempre disposto a recomeçar, por exemplo, mergulhando seus cabelos, de cabeça para baixo, na privada dos banheiros. Mas ela está morta e eu vivo limitado aos acontecimentos que me aproximam dela, nos momentos em que menos espero. Fora disso, não me é possível perceber nenhuma relação entre a morte e mim, o que transforma a maioria dos meus dias num tédio inevitável.

Toda representação do tédio está associada, para mim, a este momento e ao cômico obstáculo que é a morte. Isto não me impede de pensar nela sem revolta e até mesmo com um sentimento de cumplicidade. No fundo, a ausência de exaltação tornara as coisas absurdas; morta, Marcela estava menos afastada de mim do que viva, na medida em que, como creio, o ser absurdo possui todos os direitos.

Simone esbofeteou a carcaça sacerdotal. Com o golpe, a carcaça enrijeceu novamente. Ele foi despido; Simone, de cócoras sobre as roupas jogadas no chão, mijou feito uma cadela. Em seguida, Simone masturbou o padre e o chupou. Eu enrabei Simone.

Edição: Cosac Naify, 2003

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