As melhores frases de Falsos Segredos, de Alice Munro, Prêmio Nobel de 2013

“Essa parte não é interessante.”
Alice Munro 

Falsos Segredos, de Alice Munro, vencedora do Prêmio Nobel de 2013, é um livro de contos da autora em que, mais uma vez, podemos ver suas narrativas ao redor dos temas íntimos-profundos, cotidiano-exemplares, lírico-realistas. Através da percepção da vida de algumas pessoas, ela adentra questões subjetivas de sujeitos, na maioria dos casos mulheres, e suas fraquezas e fragilidades, assim como seu heroísmo e capacidade de dar a volta ao mundo. Toca, ponto a ponto, seus pontos fracos, seus paradoxos e incongruências e revela as linhas de fuga para um destino que parece ameaçar se cumprir. A impressão que se tem é que Munro escava suas histórias até, quem sabe, tentar entender aquilo que as histórias, os acasos e os destinos falam. Leia mais aqui!

– É preciso estar no centro todo o tempo – disse Arthur – Não se descuidar nem por um segundo. Uma máquina é seu criado e é um excelente criado, mas, como patrão, é um imbecil.

– O amor nunca morre.
Ela se interrompeu a ponto de se ofender. Foi nisso que os discursos o transformaram, pensou, em uma pessoa capaz de dizer coisas como essa. O amor morre o tempo todo, ou de qualquer maneira se torna distraído, encoberto – poderia muito bem estar morto.

As mulheres pareciam duras, mas não eram, na verdade. Só eram preocupadas e orgulhosas de si mesmas, e ávidas por competição. Quem conseguia suportar a carga mais pesada de madeira, tricotar mais depressa, capinar mais filheiras de pés de milho?

Eu lia, ma sem objetivo ou envolvimento. Lia frases soltas dos livros que sempre quis ler. Muitas vezes, aquelas frases me pareciam tão agradáveis, ou tão evasivas e lindas, que me era impossível não abandonar todas as palavras ao redor e me entregar a um estado peculiar. Ficava alerta e sonhadora, distante de todas as pessoas, mas todo o tempo consciente da cidade – que parecia um lugar estranho.

Ela não era movida por simpatias, por princípios, brincava com o que outras pessoas levariam a sério. Eu não tinha certeza do que sentia por ela.  Não se tratava de mera simpatia ou respeito. Era mais como um desejo de me mover no seu elemento, sem surpresas. De ser dinâmica, rir de mim mesma, ser levemente maliciosa, insaciável.

Meu vínculo estava em perigo – era isso. Às vezes, nosso vínculo está desgastado, corre perigo, parece quase perdido. Paisagens e ruas nos negam o reconhecimento, o ar se rarefaz. Preferíamos então ter um destino ao qual nos submetermos, algo que nos exija, qualquer coisa, em vez de escolhas tão frágeis, dias tão arbitrários?

Eu te desafio a fugir. Seria possível? Há horas em que as meninas estão afoitas, em que querem correr cada vez mais riscos. Querem ser heroínas, pouco importa o resto. Querem levar a brincadeira até onde ninguém a levou antes. Serem imprudentes, destemidas, criar o caos – assim era a grande esperança perdida das meninas.

Em cozinhas a centenas e milhares de quilômetros de distância, ela vai observar a superfície macia da parte de trás de uma colher de madeira e sua memória vai se contorcer, mas não vai revelar de todo para ela aquele momento no qual ela parece estar olhando para um falso segredo, algo que não é chocante até que você pense em tentar contar.

Parecia-lhe que, longe de ser um espírito livre e generoso, tinha estado muitas vezes ansiosa e desesperada e passado muito tempo lavando roupa e se preocupando com dinheiro e sentindo que devia muito a qualquer homem que gostasse dela.

As palavras mais desejadas podem mudar. Algo pode acontecer com elas enquanto você espera. Amor – precisar – perdoar. Amor – precisar – para sempre. O som dessas palavras pode se tornar um clamor, um batimento, um som de marteladas na rua. E tudo o que se pode fazer é fugir correndo, para não honrá-las apenas por hábito.

A loucura é a princípio adotada por alguns como uma espécie de brincadeira, por cuja superficialidade e audácia são mais tarde punidos ao descobrirem que não se trata mais de uma brincadeira e que o Diabo tornou impraticável qualquer fuga.

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