Sueli Carneiro recebe o Prêmio Juca Pato de intelectual do ano

Sueli Carneiro recebeu, na última sexta-feira, o prêmio Juca Pato de intelectual do ano. Esta honraria representa não somente o reconhecimento da União Brasileira dos Escritores (UBE), como também abre novos caminhos para as intelectuais negras do Brasil.

O recebimento deste prêmio ocorreu posteriormente ao lançamento do seu livro Lélia Gonzalez: um retrato (2024), pela Editora Zahar, outro grande nome do movimento feminista latino – americano.

A entrega do Prêmio Juca Pato aconteceu durante a Flipetrópolis, evento literário que acontece na região serrana do Rio de Janeiro. Em seu discurso, Sueli Carneiro destacou o “deslocamento histórico”, que ocorreu, já que há 5 anos, as pessoas que ganharam esse prêmio em sua maioria eram homens e brancos.

Sueli Carneiro recebeu o prêmio Juca Pato/ Fonte: Reprodução da Internet

Relembrando os que vieram antes, Sueli saudou Lélia Gonzalez, Conceição Evaristo e Abdias Nascimento invocando a sua importância na construção da sua identidade marcada pela luta negra, feminista e antirracista.

Esta premiação é de suma importância para que a sociedade brasileira perceba o quão diversa é nossa produção intelectual e do quanto é possível aprender com vozes que foram silenciadas ao longo da nossa história. 

Ao escrever sobre a premiação de Sueli, lembro-me de um trecho que li no artigo O PRETUGUÊS DE CAROLINA MARIA DE JESUS E O PORTUGUÊS DE REGINA DALCASTAGNE CARTA ABERTA À ESCRITORA CONCEIÇÃO EVARISTO* publicado pelo Prof. Dr. Gabriel Nascimento que diz o que segue:

“Como tantos outros escritores negros, Carolina teve as suas primeiras escritas negras mediadas pelo corpo brancocêntrico que manda na indústria cultural brasileira desde sempre. É a primeira vez, permita-me recordar, professora Conceição, que a sua obra passa de mãos de um intérprete branco, paras as suas mãos negras e as mãos negras de Vera Eunice, filha da escritora Carolina Maria de Jesus” (p. 9337).

A partir dessas palavras, é de suma importância que intelectuais e pessoas escritoras negras sejam publicizadas e tenham suas vozes compartilhadas principalmente por outras pessoas negras, interrompendo ciclos históricos de mediação “brancocêntrica” e promovendo esse “deslocamento histórico”.

Como a própria Sueli mencionou, esta premiação é “inusitada, não no sentido de inadequação”, mas para que possamos compreender a dimensão de nossas estruturas sociais e do quanto ainda precisamos avançar.

* NASCIMENTO, G. O pretuguês de Carolina Maria de Jesus e o português de Regina Dalcastagne carta aberta à escritora Conceição Evaristo Forum lingüístic., Florianópolis, v.20, n. 3, p. 9332 – 9341, jul./set. 2023. Disponível em:https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/9159406.pdf . Acesso em 02/12/2025.

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