A escritora Carolina Maria de Jesus, através de seu livro Quarto de Despejo – Diário de uma favelada, trouxe relatos de vivências e críticas à uma sociedade na qual não havia esperança para que ela se tornasse uma escritora, ainda assim ela persistiu e construiu sua carreira, através de muita luta.
O seu trabalho chegou a ser reconhecido em vida, porém pouco a pouco houve um apagamento e silenciamento de suas obras, que felizmente voltaram a ser lidas e apreciadas na contemporaneidade.
Recentemente, houve a notícia de que a obra seria fonte de inspiração para um filme com coprodução da Globo Filmes, que possivelmente se chamará Carolina – Quarto de Despejo. As gravações já se iniciaram e a previsão é de que o longa-metragem chegue ao público ainda no próximo ano.
Das informações divulgadas até o momento, há uma cena comovente na qual Carolina Maria de Jesus, interpretada pela atriz Maria Gal, se encontra com a escritora Conceição Evaristo, que no filme possui o papel de uma mulher que está sendo despejada em um processo de remoção comum e precisa de ajuda para preencher sua ficha.
A presença de Conceição Evaristo, juntamente de outras escritoras, ao lado de “Carolina” cria uma imagem potente de continuidade, como se a própria escritora, tantas vezes silenciada, pudesse testemunhar o impacto que sua voz ecoou nas décadas seguintes.
Além de Conceição Evaristo, duas outras escritoras participam da cena, Eliana Alves Cruz e Fernanda Felisberto. Há ainda a presença da própria roteirista do filme, Maíra Oliveira. A reunião dessas autoras em cena não é apenas um recurso narrativo, mas um gesto simbólico: estabelece pontes entre diferentes gerações de mulheres negras que transformaram suas experiências em literatura, memória e resistência.
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Assim, o filme não se limita a revisitar a trajetória de Carolina Maria de Jesus, mas dialoga com o legado que suas palavras inauguraram. Ao trazer essas autoras para dentro da narrativa, a produção reafirma que Quarto de Despejo permanece vivo, pulsante e fundamental para compreender o Brasil de ontem e de hoje. É uma homenagem que ultrapassa a tela e nos lembra que, mesmo diante do apagamento, a escrita de mulheres negras continua criando caminhos.