Casal de escritores negros denunciam importunação sexual e são ameaçados em São Paulo

Nas últimas décadas, atos como roubar um beijo, passar a mão nas partes íntimas de uma mulher ou qualquer outro contato físico forçado não eram reportados à nenhuma instituição de segurança pública. Isso se dava por conta de uma cultura em que as mulheres, principalmente as negras, eram tratadas como objetos sexuais.

O que era para ser uma “coisa do passado”, na verdade, continua sendo praticado. E no entanto, atualmente, é possível denunciar e buscar a justiça quando esses atos possuem nome e sobrenome: importunação sexual.

A escritora gaúcha Fernanda Bastos é uma das vítimas de importunação sexual no elevador do prédio em que está morando em SP, e não hesitou em denunciar o agressor, mas parece que essa história está longe do seu fim, conforme pode ser visto no perfil do Matheus Gomes, no Instagram.

Fernanda Bastos e seu marido, o escritor e pesquisador Luiz Maurício Azevedo, estão sendo perseguidos pelo acusado, que profere palavras de ameaça, apresentando sinais de desequilíbrio e agressividade. Até quando esse homem seguirá impune?

Será que é isso que chamamos de privilégio branco dos burgueses nacionais? Lembro-me de Lélia Gonzalez quando ela nos traz uma reflexão sobre a exclusão da mulher negra da sociedade brasileira em seu ensaio “Cultura, etnicidade e trabalho: Efeitos linguísticos e políticos da exploração da mulher”, presente no livro por um Feminismo Afro Latino Americano (Editora Zahar, 2020):

“O processo de exclusão da mulher negra é patenteado, em termos de sociedade brasileira, pelos dois papéis sociais que lhe são atribuídos: “domésticas” ou “mulatas”. […] o termo “mulata” implica a forma mais sofisticada de reificação: ela é nomeada “produto de exportação”, ou seja, objeto a ser consumido pelos turistas e pelos burgueses nacionais” (p. 44)

Enquanto os burgueses nacionais continuam tendo acesso a seus privilégios, as mulheres negras continuam reificadas pelo sistema. É necessário que nossas instituições compreendam a necessidade de punir agressores independentemente de sua classe social ou da brancura de sua pele. 

Em tempo, todo nosso apoio à Fernanda Bastos e Luiz Maurício Azevedo! Que neste momento vocês sintam que não estão sozinhos e que em conjunto possamos lutar por justiça e pelo bem viver, que todas as pessoas negras buscam.

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