Se você for como eu, fanática por Beatles e futebol, existe a possibilidade que o destino tenha te levado a conhecer o Oasis, banda de britpop dos anos noventa. O grupo nunca escondeu a influência explícita dos rapazes de Liverpool, presente tanto nas letras quanto nos arranjos, assim como jamais disfarçou o amor incondicional pelo Manchester City. Esses caminhos paralelos, musical e futebolístico, levaram-me à turnê Oasis live ´25 Tour.
Após anos de desavenças e brigas entre os irmãos Gallagher, Oasis voltou e, como estava escrito no telão de abertura, This is not a drill. Houve algo inevitável não apenas nos shows em São Paulo, mas como na turnê: tratou-se menos de um concerto de rock e mais de um acontecimento cultural, um acerto de contas entre banda, público e tempo. Mas é precisamente nesse jogo de memória que o espetáculo revela sua força. Na memória de Manchester, do legado dos Beatles — Octopus’s garden foi incluída no fim da turnê — e dos anos noventa. É como se a banda tivesse resgatado um móvel antigo esquecido no sótão e, ao envernizá-lo, o recolocasse com brilho renovado na decoração da casa.
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Desfilando clássicos dos dois primeiros álbuns, o show do Oasis foi catártico e biblical, como diria Liam. Funcionou como uma devoção coletiva ou, talvez, como um jogo de futebol em sua versão musical. Ninguém sabe onde começam e terminam as vozes do Liam e do Noel. O público cantou tão alto e comemorou com “poznan”, comemoração futebolística adotada pela torcida do Manchester City. Na música Cigarettes And Alcohol, Liam pede que todos virem de costas, abracem seus companheiros e companheiras de cada lado e pulem. Nos transformamos, então, em uma torcida organizada do Oasis e estamos em êxtase, porque nosso “time” está ganhando a partida mais importante de sua história.
Oasis Live` 25 não se encerra apenas como um reencontro entre irmãos ou como uma celebração tardia de uma banda marcada pelo confronto e pela glória, mas como a prova de que certas músicas ultrapassam o próprio tempo. Encontramos novas formas de existência em São Paulo, entre Beatles, Manchester City, britpop e memórias pessoais. Oasis não apenas tocou, como também devolveu ao seu público a sensação de pertencer a algo maior, seja uma geração, uma torcida ou uma canção que insiste em sobreviver. Saímos do estádio como quem sai de um jogo decisivo, ficamos roucos, emocionados, ainda pulsando.
Texto supervisionado por Mariana Perizzolo
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