Muita gente fala mal (com razão), mas o Twitter continua sendo um dos principais termômetros para analisar determinados recortes da sociedade brasileira. Um deles é o de um perfil mais jovem e de estudantes de nosso país. Como se sabe, no último domingo, os estudantes de todo o Brasil fizeram o ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio, em que cerca de 5,51 milhões de participantes resolveram 45 questões de Linguagens e 45 de Ciências Humanas, além da Redação. A redação, por exemplo, tratou do importante tema “Perspectivas acerca do envelhecimento na sociedade brasileira”, assunto bastante discutido nas salas de aula.
Mas o que viralizou nas redes sociais foi um assunto diferente: um trecho do livro Inocência, do escritor Visconde de Taunay, parte do romantismo brasileiro. O romance descreve um amor trágico no sertão mato-grossense do século XIX, em que o jovem farmacêutico Cirino se apaixona pela bela Inocência, que está prometida a um sertanejo violento e rude chamado Manecão. O pai da moça, Pereira, impede a união por tradição e honra familiar.
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Porém, os jovens aparentemente foram incapazes de compreender a linguagem do período. Diante de um trecho pequeno da obra, uma estudante disse em publicação que atingiu 4,2 milhões de pessoas:
“E essa língua do diabo aqui???? Eu consegui traduzir o inglês, mas não consegui entender uma única linha desta m*”
Nos comentários, uma outra estudante postou uma foto de sua prova com a anotação: “O que é isso? Grego?”
A impressão é que os estudantes tiveram dificuldade tanto com a prosa diferente do romantismo quanto com o vocabulário, que incluía palavras como “costeio”, “trabucador” e “garrulice”. No entanto, nada que não se possa inferir pelo contexto.
Eu, enquanto alguém que dedica minha vida às letras, evito fazer julgamentos às novas gerações. No entanto, também me preocupa a dificuldade – não só de entendimento de uma palavra ou outra ou até de interpretação de texto, mas da capacidade de resolução de problemas quando eles se apresentam.
Dito de outra forma, me preocupa o pouco recurso dos estudantes com sua própria língua, afinal, ser um bom falante não é saber tudo sobre ela, mas saber dominar seus vários usos.
E você? O que acha?
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