A notícia de que Wagner Moura interpretará Paulo Freire no cinema reacendeu o interesse pela obra do patrono da educação brasileira. Entre suas façanhas, destaca-se a experiência de Angicos, no sertão do Rio Grande do Norte, em 1963 – um marco que mostrou ao mundo que alfabetizar adultos era possível em tempo recorde e com consciência crítica. Na pequena e pobre Angicos, onde o analfabetismo castigava a maioria dos trabalhadores rurais,
Freire comandou uma equipe que transformou a realidade de 300 pessoas. Em apenas 40 horas de aulas, homens e mulheres que nunca haviam segurado um lápis aprenderam a ler e escrever. Não era alfabetização mecânica: o método partia do universo vocabular dos alunos – palavras como “tijolo”, “feijão”, “enxada”, “jumento” – carregadas de significado para suas vidas. A partir dessas “palavras-geradoras”, discutia-se a opressão, o trabalho, os direitos. Ler o mundo antes de ler a palavra, como defendia Freire.
O resultado? Cidadãos conscientes, aptos a votar (direito então restrito aos alfabetizados) e capazes de lutar por melhores condições de vida e trabalho.
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A sombra da ditadura
O sucesso foi tão impactante que assustou os conservadores. Acusado de “subversão comunista”, o projeto foi interrompido pelo golpe militar de 1964. Professores foram presos, materiais destruídos e Freire, exilado. Mesmo assim, Angicos tornou-se símbolo mundial de educação libertadora, influenciando países como Guiné-Bissau, Peru e Nicarágua.
Mais de 60 anos depois, a experiência prova que educação de qualidade não precisa de anos para transformar vidas. Basta método, respeito à realidade do aluno e coragem para enfrentar quem prefere o povo calado. Paulo Freire segue vivo – e necessário.