María Elena Morán, uma das principais vozes da literatura latino-americana atual, chega ao Brasil em publicação pela editora Biblioteca Azul com o premiado romance Voltar a quando. O livro tem como ponto de partida o o crescimento, a utopia e o seguido colapso da Venezuela para contar a história de Nina, uma mulher que assistiu ao desabamento das promessas revolucionárias e dos sonhos de sua juventude.
Quando a ideia de um país renovado parecia viável, Nina depositou nela sua crença. No entanto, a promessa se mostrou utópica, e tanto a Venezuela quanto sua vida começaram a desmoronar. Após perder o pai e ser abandonada pelo marido — Camilo, antigo companheiro de ideais que se transformou em burocrata de um Estado em ruína —, ela faz uma escolha dolorosa: deixar a filha, Elisa, com a avó e emigrar para o Brasil em busca de emprego e de um recomeço.
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Entre trabalhos instáveis e a saudade da filha, Nina tenta reerguer o que sobrou de si mesma. Até que Camilo retorna com uma proposta que pode reabrir antigas cicatrizes: levar Elisa para os Estados Unidos. A escolha da menina de acompanhar o pai inicia uma jornada física e emocional — do Brasil ao México —, movida pela determinação materna e pela presença simbólica do avô, que, mesmo falecido, segue guiando a família.
“Escrevi Voltar a quando avassalada por três lutos: meu pai, meu país, minha revolução. Ainda que não seja um romance autobiográfico, a escrita se tornou uma investigação sobre essas dores. No influxo desse exorcismo, nasceu um romance sobre como nossa história íntima é brutalmente impactada e moldada pela história nacional, o autoritarismo que tomou conta do Estado espelhado no âmbito familiar”, conta Morán.
Ao longo da narrativa, a autora analisa o momento em que o fracasso político se mistura ao pessoal e como, perante as perdas, cada personagem precisa decidir o que ainda é possível reconstruir.
“Nestas páginas, o leitor vai conhecer um grupo de personagens que, como eu, apostaram no sonho e agora são donos de um fracasso. O motor da história é o que cada um deles faz com esse fracasso, como cada um assume ou não sua responsabilidade perante a história. Por isso o título é um questionamento. Se pudéssemos voltar, a quando voltaríamos? O livro não pretende dar nenhuma resposta, mas fazer essa e outras perguntas desconfortáveis que, na Venezuela, tardamos demais para nos fazer”, afirma.
Inspirado no drama vivido por milhares de venezuelanos obrigados ao exílio, o livro oferece um retrato tocante sobre perda, resistência e a força de quem precisa partir para seguir existindo.