O body horror ou terror corporal ganhou mais apreço do público e da crítica a partir de A Substância, um grande sucesso em 2024. Essa é uma vertente do terror em que os medos, traumas e questões sobrenaturais se manifestam em cenas de deformação corporal e violência física que causam muito desconforto.
Embora já tenha uma longa tradição dentro do horror, o subgênero ganhou um hype no Oscar 2025 e vem chamando mais atenção especialmente pela sua capacidade de criar metáforas para a obsessão.
Seu grande representante é o diretor e roteirista canadense David Cronenberg, que ajudou a definir os elementos da categoria com o genial A Mosca, de 1986, e o mais recente Crimes do Futuro, em 2022. Na nova fase do body horror, entretanto, as obras de maior destaque são de diretoras mulheres.
O olhar feminino traz uma perspectiva de quem tem o corpo muito olhado, julgado e objetificado pela sociedade, provavelmente, por isso, as autoras que você verá a seguir têm criado obras com as experiências mais interessantes do terror corporal atual.
Veja 5 filmes de body horror imperdíveis dirigidos por mulheres, para além de A Substância, da diretora Coralie Fargeat.
1 The Ugly Stepsister, 2025, da diretora Emilie Blichfeldt
Nesta versão norueguesa de Cinderela, você lembra que a obra dos irmãos Grimm é na verdade uma história de terror e não um conto de fadas. A jovem diretora Emilie Blichfeldt é ágil em equilibrar a trama entre a comédia, o drama e o horror corporal. Ela expõe as deformidades físicas a que as mulheres se submetem desde há muito tempo para entrarem nos cruéis padrões de beleza feminina impostos pela sociedade.
Da perspectiva da irmã postiça de Cinderela, o longa cria uma vibe sombria como a do Cisne Negro, de Aronofsky, para revelar que a madrasta, vítima também do patriarcado, era uma figura terrível não só para sua enteada, mas acima de tudo para as próprias filhas.
Com trilha sonora marcante que combina incrivelmente bem com a estética I’m just a girl no século XIX e figurinos impecáveis, The Ugly Stepsister é o body horror mais classudo que você vai ver.
2 Fresh, 2022, da diretora Mimi Cave
Se fosse lançado depois do hype do terror corporal iniciado por A Substância, e após a eficiente exploração do subgênero para falar de relacionamentos em Juntos, este filme teria mais influências para se aprofundar no horror da sua trama sobre canibalismo.
Há quem diga que a metáfora dos homens heterossexuais como predadores canibais de mulheres é muito rasa e pouco explorada em seus aspectos mais perversos. Apesar desse caminho que a diretora Mimi Cave escolheu, Fresh é um filme divertido que mais incentiva a imaginação do que propriamente expõe o terror corporal.
Com seu longo prólogo, é um filme que mantém o espectador interessado do início ao fim com uma ótima trilha sonora e um visual estiloso, criando uma vibe de filmes como Drive.
3 American Mary, 2012, das diretoras Jen Soska, Sylvia Soska
American Mary (2012) é um filme dirigido por duas irmãs gêmeas, Jen Soska e Sylvia Soska, que acompanha a vida de uma estudante de medicina desesperada por dinheiro que é atraída para o submundo da modificação corporal.
Com temas sombrios e cenas traumáticas de violência, o longa impressiona pelo uso do gore ainda que mantendo a sutileza para estimular a imaginação do espectador.
A direção das gêmeas Soska sublinha a relação entre dor física, poder e vulnerabilidade, especialmente quando infligidos ao corpo feminino.
4 Raw, 2016, da diretora Julia Ducournau
Raw (2016), dirigido pela francesa Julia Ducournau, é um intenso body horror que reinterpreta o rito de passagem da adolescência como uma assustadora descoberta de si por meio do despertar do canibalismo em Justine, a jovem protagonista.
O filme explora elementos clássicos do terror corporal, como a transformação física grotesca, a pulsão insaciável e a dor visceral, em uma metáfora sobre a angústia da autoaceitação na transição para a vida adulta.
Ducournau confere à obra uma profundidade emocional rara no gênero ao abordar além do externo, o terror psicológico, especialmente na experiência feminina. A jornada de Justine, permeada por dúvidas, medo da rejeição e confronto com o próprio desejo, revela uma complexidade que vai além do choque visual.
5 Titane, 2021, da diretora Julia Ducornau
Titane (2021), também dirigido por Julia Ducournau, consolida a cineasta como grande referência do subgênero ao explorar a ruptura entre corpo e mente a partir de um trauma profundo.
As mutações bizarras e fusões grotescas oferecem uma experiência desconcertante em uma narrativa que vai além da simples subversão de gêneros e papéis sociais.
O cinema de Ducournau envolve pela brutalidade visual e por sua simbologia única que estabelecem a sua obra como essencial para o terror corporal e expandem as possibilidades do gênero.
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