Durante muito tempo aprendemos na escola uma história do Brasil que nada representa a verdadeira história do Brasil, como se apresenta no Projeto Querino. Ouvimos que o Brasil foi descoberto, que os povos originários trocaram as terras por presentes e que os povos africanos eram submissos.
Toda essa construção ideológica nos levou a acreditar por todo esse tempo que a história que nos foi ensinada era a única possível. Entretanto, o discurso que sempre esteve na mão do opressor nos conduziu sorrateiramente para um caminho de inverdades e muito distorcido.
Despertando o olhar afrocentrado
Quando comecei a ler “Projeto Querino”, de Tiago Rogero, eu já tinha conhecimento sobre uma história afrocentrada do Brasil. Não foi, de fato, uma novidade para mim, mas certamente é uma novidade para muitas pessoas que ainda precisam conhecer esta outra face da história escondida, apagada e silenciada por muito tempo.
O livro é resultado da compilação dos episódios do podcast de mesmo nome, tem um cunho jornalístico e conta com uma série de depoimentos de estudiosos que configuram uma história muito mais real a partir de um ponto de vista afrocentrado e que corroboram com a realidade que enfrentamos ainda atualmente.
“A escolha por manter a escravidão não garantiu só a unidade do Brasil independente. Foi graças à exploração e à tortura de pessoas negras que o novo país se tornou economicamente viável”. (p. 85)
De olho na história real do Brasil
Por mais que já conhecesse a história afrocentrada do Brasil, fiquei impressionada com a quantidade de novas informações, totalmente desconhecidas para mim. Assim como a maioria da população, eu simplesmente não tive acesso, sendo tolhida de encontrar minhas raízes nessa história que tenta dia após dia nos apagar dos autos, ideal fortalecido pelo mito da democracia racial.
“Apesar do projeto; apesar do ‘salve-se quem puder’; apesar da meta de acabar com a parcela negra da população; continuamos aqui. Combinamos de ficar vivos”. (p.307)
Durante a jornada de leitura, concordei, vibrei e fiz várias anotações, para recorrer no futuro. Eu faço isso com alguns livros: deixo marcas que me conduzam em outro tempo para uma releitura direcionada, como uma espécie de guia.
Um das partes que mais me chamou a atenção, foi a bula ‘Romanus Pontifex‘, texto emitido em 1455 pelo papa Nicolau V, que entre tantos direitos, concedida ao Rei de Portugal, o direito de escravizar os povos africanos.
Esse é um livro para quem já conhece e para quem não conhece a história do Brasil afrocentrada. Também pode ser visto como uma vitrine de nomes que sedimentaram nossa história, mas foram apagados enquanto a branquitude se apoderava de nosso passado e fincava os pés em nosso presente.
Assim, “Projeto Querino” é um grande passo para quem deseja revisitar o Brasil sob uma perspectiva mais justa e renovada. Um trabalho arqueológico sob os escombros de uma história guardada em gavetas fechadas a ‘sete chaves’, mas que agora pode ser vista e revisada, com bastante cuidado.