Adeus, Garoto (2024) – O primeiro encontro com a vida adulta

O gênero Coming of Age é amplo, permitindo uma diversidade de abordagens, da comédia, como em Superbad, podendo transitar pelo horror, tendo Raw como exemplo, e também pelo âmbito do drama social, como o cinema brasileiro tem feito muito recentemente, com Sem Coração e Noite Amarela. Adeus, Garoto, em exibição no 19ª edição do Festival de Cinema Italiano, pertence a esse último grupo, acompanhando o jovem Attilio (Marco Adamo) em suas tribulações na passagem para a vida adulta, enquanto lida com as circunstâncias do seu contexto social.

O filme, dirigido por Edgardo Pistone em seu debute em longa-metragem, abre com Attilio, ou Atti, ao lado de amigos, se divertindo em uma praia, fumando e pensando em garotas. Uma juventude, a princípio, normal e tranquila.

Mas as perturbações logo aparecem. O pai de Atti está prestes a sair da prisão, levando um suposto amigo a reforçar os pedidos de uma dívida que deve ser paga, se não pelo patriarca, pelo jovem. Somado a isso, para arranjar dinheiro, Atti arranja uma ocupação inusitada, a de “guardião” de uma jovem prostituta, garantindo que o trabalho seja feito e que os clientes paguem pelo serviço.

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Inevitavelmente, os dois se envolvem romanticamente, colocando o protagonista em uma encruzilhada, entre tentar viver o amor plenamente, ou ajudar seu pai a resolver os problemas financeiros. Digo “inevitavelmente” com certo cansaço. Adeus, Garoto desenvolve seu romance de modo bem protocolar, se iniciando com certo atrito entre o casal que, eventualmente, se dissipa até virar romance.

A obra ganha força quando dá espaço ao coletivo – o grupo de amigos de Atti – e aborda os pequenos rasgos que a vida adulta faz na vida desses jovens, onde a impressão de poder, vitalidade e esperteza da juventude esbarra na violência que os cerca, violência essa que se expressa de diversas maneiras, seja econômica ou física. Em uma das cenas de abertura do filme, Attilio tenta vender um relógio, pelo qual recebe um preço que considera muito baixo. O comprador, então, diz que lhe dará uma parte do dinheiro após vender o relógio, dinheiro esse que, é claro, nunca aparece. Os jovens podem até ser espertos, mas o poder da maturidade vence.

Mas falta a Adeus, Garoto explorar mais esse conflito de gerações, de um grupo de jovens entendendo que o mundo, infelizmente, não os pertence, e talvez nunca pertencerá. A imagem final é até um excelente lembrete disso, mas o caminho até chegar a esse momento é um tanto insosso. 

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