Ecos de uma era de repressão em “Anos de Chumbo”

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Letícia Magalhães, historiadora, crítica de cinema e destacada também como uma voz promissora da literatura contemporânea, leva o leitor de volta à ditadura militar brasileira em seu livro “Anos de Chumbo”, publicado em 2015. 

Através de uma escrita clara e direta — mas sem deixar de ser envolvente —, Letícia apresenta ao público sua primeira personagem, Greta Garbo, cujo nome remete à grande atriz sueca-americana famosa nos anos 20. Ao contrário da Greta do cinema, que viveu uma vida de Glamour, a Greta dessa história vive, de modo árduo, uma série de desventuras desde o nascimento.

Greta é estudante de Direito — a única mulher de sua turma —, e sua realidade fatídica é marcada por abusos cometidos pelo tio, um militar que a adotou quando sua mãe a deixou; e pela falta de apoio familiar, afinal, a mulher casada com o patriarca da família, embora dócil, era submissa e tinha pouco interesse em questionar as ocorrências externas. É interessante ressaltar como ser silenciada pela violência e estar por conta própria afeta Greta até em seu modo de se vestir, quando revelado que ela optava por cobrir todo o corpo.

Conforme a prosa segue seu curso, surge na vida da primeira protagonista um escape de realidade: um jornal clandestino que critica a ascensão da ditadura militar, e Greta é apresentada como uma voz forte de resistência ao período, juntamente a alguns colegas que lutam pela liberdade de expressão. Neste grupo, também está Guilherme — um rapaz que conquista Greta com seu zelo e apreço pela jovem.

Outrossim, a autora embarca o leitor em uma viagem para Brasília e o envolve na realidade de Fabiana. Filha de um magnata político e atrelada ao romantismo, a segunda jovem protagonista é um retrato idôneo da inocência. Fabiana é estudante de Psicologia e está experimentando uma paixão por um homem militante de esquerda que a manipula por purointeresse em obter informações políticas a respeito de seu pai.

Em “Anos de Chumbo”, Letícia Magalhães oferece uma visão valiosíssima sobre a vida no Brasil durante um momento turbulento da história; mostrando a realidade visceral do período do golpe militar no contexto social e como afetou a população. A narrativa é rica em sensibilidade e detalhes históricos em que a autora mostra sua habilidade de imergir o leitor sem que precise dominar profundamente os conhecimentos sobre este momento e garante que o público absorva com empatia cada acontecimento da trama e o acervo de eventos históricos retratados. Além disso, propõe discussões atuais acerca de direitos da mulher, homossexualidade e liberdade de expressão, assim como nos guardaum desfecho surpreendente que promete deixar o leitor extasiado e reflexivo. A prosa é capaz de polir e sensibilizar a hostilidade de uma época acentuada pela repressão através da violência.

Leia também: “A Lira dos 20 Anos – O Musical”: peça retrata luta, memória e resistência durante a ditadura militar

Letícia Magalhães é formada em História e Biblioteconomia, com pós-graduações em Comunicação e Jornalismo e Comunicação e Marketing em Mídias Digitais – mas seu negócio é o cinema. Além de escrever para o Jornal Nota, contribui para vários sites de cinema, inspirações para seu livro “Crítica Retrô”, já publicou um livro de contos, crônicas e poemas e um romance. Estreou na literatura infantojuvenil com “Menina Bonita com Mania de Fita”.

O exemplar de “Anos de Chumbo” está disponível para compra no site da Amazon e, como outros livros da autora, é possível obtê-lo gratuitamente em formato digital através do Kindle Unlimited.

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