“A cidade das colunas”: Alejo Carpentier promove subversão de valores e defesa luminosa da mestiçagem

Alejo Carpentier, em seu livro “A cidade das colunas” reúne um trabalho intenso composto de fotografias de Paolo Gasparini. No Brasil, o livro chega com tradução e notas de Samuel Titan Jr. Para quem não conhece, Alejo Carpentier nasceu em Lausanne, na Suíça, em 1904, filho de pai francês e mãe russa, mas cresceu entre a recém-independente Cuba, para onde seus pais emigraram pouco depois de seu nascimento, e a França. Em 1920, começou a estudar Arquitetura em Havana, mas já no ano seguinte abandonou os estudos para se dedicar ao jornalismo, às letras e à militância política.

No prefácio do livro, Alberto Martins afirma: que a certa altura de A cidade das colunas, ao mencionar o efeito provocado pela retirada de um tapume no centro velho de Havana, Alejo Carpentier nota de passagem: o que se descortinava aos olhos era uma “ágora entre mangues, praça entre matagais”.

Nesse registro, em que um elemento primordial da pólis grega surge imerso em outra geografia, o escritor sintetiza o profundo deslocamento que a ocupação do Novo Mundo implicou, a seu ver, para a cultura do Ocidente — tema que ele mesmo não deixaria de tratar em algumas das peças de ficção mais estupendas do século XX, como O reino deste mundo (1949), Os passos perdidos (1953), O século das luzes (1962), O concerto barroco (1974) e outras mais.

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À primeira vista, A cidade das colunas pretende tão só apresentar ao leitor certas constantes da arquitetura de Havana que conferiram à cidade sua feição inconfundível.

Ao longo das páginas e das imagens, o leitor vai descobrindo as sucessivas camadas de A cidade das colunas: poema em prosa, estudo morfológico e também ensaio crítico. Pois não falta ao texto seu par de espinhos polêmicos. O elogio da mistura de estilos arquitetônicos de Havana serve afinal à crítica de certo prêt-à-porter hegemônico no século xx, ao qual se opõem aqui as noções gêmeas de mestiçagem barroco. No horizonte de Carpentier, despontava a possibilidade estética e política de uma arte latino-americana capaz de fundir as feridas e as heranças do passado em uma nova liga, de têmpera moderna, autônoma e progressista. Miragem, talvez; mas miragem das mais inspiradoras.

Samuel Titan Jr.

O que se descobre nestas páginas, porém, é muito mais: em cinco breves capítulos, elas exemplificam com exatidão o método do escritor, no qual um anônimo mestre de obras cubano é contraposto a Le Corbusier, o tronco de uma palmeira convive com colunas dóricas, uma figura de retábulo hispânico é vizinha de um herói de Racine. Por meio desses cortes e aproximações, Carpentier promove uma subversão de valores e uma defesa luminosa da mistura e da mestiçagem que ele enxerga no cerne da experiência antilhana e, por extensão, latino-americana.


Publicado originalmente em 1964 com doze fotografias de Paolo Gasparini, o texto de Carpentier vem à luz em sua edição brasileira acompanhado por 42 imagens em preto e branco do fotógrafo italiano — contraponto gráfico certeiro para este ensaio que tem o andamento de um poema.

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Quem é Alejo Carpentier?

Alejo Carpentier nasceu em Lausanne, na Suíça, em 1904, filho de pai francês e mãe russa, mas cresceu entre a recém-independente Cuba, para onde seus pais emigraram pouco depois de seu nascimento, e a França. Em 1920, começou a estudar Arquitetura em Havana, mas já no ano seguinte abandonou os estudos para se dedicar ao jornalismo, às letras e à militância política. Em 1928, perseguido pelo regime, fugiu para Paris, onde viveu até 1939 e onde lançou seu primeiro romance, ¡Ecué-Yamba-Ó! (1933).

De volta a Cuba, publicou em 1944 Viagem à semente. Em 1945, porém, voltou a exilar-se por razões políticas, dessa vez na Venezuela. Em Caracas, escreveu O reino deste mundo (1949), Os passos perdidos (1953), O cerco (1956), Guerra do tempo (1958) e sua obra-prima, O século das luzes, concluída em 1958, mas publicada apenas em 1962. Em 1959, com o triunfo da revolução, voltou a Cuba, onde desempenhou diversas funções oficiais, em especial junto à Editora Nacional e ao Conselho Nacional de Cultura.

Em 1964, publicou no México o volume Tientos y diferencias, que incluía o ensaio A cidade das colunas. Em 1966 voltou à França como diplomata vinculado à embaixada cubana em Paris, época em que publicou os livros Concerto barroco (1974), O recurso do método (1974), A sagração da primavera (1978) e A harpa e a sombra (1979). Em 1978, recebeu o Prêmio Cervantes. Faleceu em Paris, em 1980, e seus restos mortais foram enterrados no cemitério Colón, em Havana.

Quem é  Paolo Gasparini?

O ítalo-venezuelano Paolo Gasparini nasceu em Gorizia, perto de Trieste, em 1934. Começou a fotografar ainda em sua cidade natal, marcado pelo contato com a obra de Paul Strand e o cinema neorrealista italiano. Nos passos do irmão Graziano, arquiteto que se instalara em Caracas, partiu em 1954 para a Venezuela, país onde vive até hoje. Pouco depois de sua chegada, iniciou uma atividade intensa junto à imprensa local e à geração de arquitetos venezuelanos encabeçada por Carlos Raúl Villanueva.

Em 1961, entusiasmado com a Revolução Cubana, transferiu-se para o país caribenho, onde permaneceu até 1965, trabalhando sobretudo com o escritor Alejo Carpentier; dessa colaboração nasceram as fotos que ilustram este livro, publicadas inicialmente em 1964 e, mais tarde, em seleção mais generosa no livro A cidade das colunas (1970). Exceto por um breve p eríodo de volta à Itália, Gasparini realizou o essencial de sua obra na Venezuela e na América Latina, fosse em meio a grandes projetos de documentação social, urbana e política do continente, fosse no âmbito do fotolivro, gênero em que assinou obras importantes como Para verte mejor, América Latina (1972), Retromundo (1986), Megalópolis (2000), El suplicante (2010), Karakarakas (2014) ou Fotollavero mexicano (2021).

Alejo Carpentier
A cidade das colunas
Fotografias de Paolo Gasparini
Tradução e notas de Samuel Titan Jr.
Projeto gráfico de Raul Loureiro
Coleção Fábula
80 p.
15 x 22,5 cm
217 g.
ISBN 978-65-5525-199-9
R$ 69,00

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