“A Fuga das Velhinhas”: Vinicius Bertollini estreia na literatura com aventura sobre idosos

Em A Fuga das Velhinhas, Vinicius Bertollini narra aventura de idosos que tentam fugir de instituição

Dona Maridalva é uma velhinha que acorda todos os dias, se arruma e vai para o seu trabalho: vender alguns produtos que ela não sabe quais são para alguns idosos e algumas pessoas de jaleco branco que passam por ali. Ela achava estranho o tão pouco movimento e as vendas que chegavam a quase zero, mas acreditava naquilo que haviam dito seus filhos, afinal eles “não teriam porque mentir.”

Dona Maridalva não sabe, mas ela foi deixada por seus netos já há alguns meses em uma instituição para idosos, também conhecida popularmente como “asilo”. A solidão da senhorinha é compartilhada por muitos idosos da história como o seu Euclides que carregava os filhos em pequenos broches no chapéu, pela Lurdes, entre outros. 

Na verdade, esta é uma situação de muitas pessoas mais velhas ao redor do mundo, a sensação de abandono, de terem sido deixados para trás pela família e amigos e a perda de função na sociedade. Porém, na história de Vinícius Bertollini, o conto que faz sua estreia na literatura, essa condição é apenas um ponto de partida para uma aventura não apenas divertida, mas que lança luz para uma série de discussões contemporâneas sobre etarismo. 

A Fuga das Velhinhas é um conto publicado pelo paulista Vinicius Bertollini, de 35 anos, que atua como redator na área de criação das agências de publicidade e possui dezenas de roteiros de filmes para TV e internet, anúncios, conceitos, jingles, slogans, ativações e merchandisings. Atualmente, lidera o time criativo de marketing de uma grande multinacional do ramo financeiro. O currículo não é pequeno e agora ganha mais um capítulo com sua entrada na literatura. 

Em A Fuga das Velhinhas, Vinícius vai construindo essas personagens, todas idosas, todas na mesma situação, como Dona Maridalva e seu  Euclides que, ao lado de outros internos da instituição, resolvem fazer uma espécie de revolução e empreender fuga de volta para suas vidas. 

“Euclides sente falta do mar. Dona Juscelina, das roseiras. Seu Miguel quer voltar a jogar xadrez na praça. Seu Paulino reclama que aqui os pombos não conversam com ele direito. Margarete quer conhecer o neto; Alzira, voltar ao sítio. Eu quero minha casa. E você, os meninos.”

A tática é simples: colocar remédio na bebida de funcionários e demais idosos e escapar como for possível. O mais divertido da escrita do Vinícius está justamente neste contraponto entre a velocidade da busca na fuga e os corpos já não tão ágeis dos velhinhos. Além disso, a escassa memória de Maridalva que vai vendo com fascínio o seu mundo virar de ponta cabeça, afinal ela descobre não só onde está, mas também muitas outras histórias ali vão sendo contadas. 

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Ao lançar luz sobre essas personagens espertas, mágicas, frágeis, precárias, mas ainda criadoras, Vinícius nos faz olhar para um canto do mundo que muitas vezes fica esquecido: a capacidade de força inventiva das pessoas mais velhas que acumulam não só mais sabedoria, mas também graça, teimosia, malícia, inteligente e, claro, histórias. 

O conto, que possui muito da característica cinematográfica, com cenas ágeis, recortes cênicos rápidos e imagens que saltam das palavras para nossas pupilas, soam quase como se estivéssemos vendo uma comédia de costumes antiga, ou uma esquete de comédia de um grupo como Monty Python e os Trapalhões, mas também possuem um tom nostálgico e poético, do desejo que aquelas figuras que ali buscam seus mundos saiam da vida sem caírem no total anonimato. 

A Fuga das Velhinhas é uma excelente entrada na literatura de Vinicius Bertollini que pode, e deve, investir numa literatura que não tenha medo de tratar de temas complexos e com humor, reversão de expectativa e a gentileza necessária para que histórias sejam, ainda, transformadoras. 

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Sobre o autor:

Vinícius Bioni Bertollini tem 35 anos e mora em São Paulo. É formado em Propaganda pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e, desde 2010, atua como redator na área de criação das agências de publicidade.

Já escreveu dezenas de roteiros de filmes para TV e internet, anúncios, conceitos, jingles, slogans, ativações e merchandisings para grandes marcas, como Serasa, Starbucks, Continental Pneus, Peugeot, Carrefour, FTD Educação, Samsung, Beach Park, Santander, TV Globo, entre tantas outras, desenvolvendo campanhas de grande repercussão nacional, que viraram assunto na mídia, e de reconhecimento internacional, com trabalhos premiados no exterior e destacados em sites especializados. Atualmente, é líder criativo da equipe de marketing de uma empresa financeira.

Na ficção, começou com os conto publicando um deles – A fuga das velhinhas – de forma independente no KDP da Amazon. A história é uma aventura bem-humorada sobre uma senhora que vive em uma casa de repouso e se junta a um grupo de velhinhos rebeldes que planejam escapar do asilo.

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