9 livros citados por Machado de Assis em Dom Casmurro

Além de ser o maior romance da literatura brasileira, Dom Casmurro dialoga com outras obras nacionais e internacionais.

Considerado o maior escritor brasileiro de todos os tempos, Machado de Assis foi autor de algumas das obras mais importantes da história da literatura nacional. Nascido em 1839 na cidade do Rio de Janeiro, onde viveu e morreu, em 1908, Machado deixou, dentre uma vasta produção literária de romances, contos, crônicas, dramaturgias e poemas, um livro que até hoje segue sendo leitura obrigatória: Dom Casmurro.

A obra, que conta a história de Bentinho e Capitu pela ótica de Bentinho, apresenta a rememoração do personagem em relação aos eventos envolvendo sua relação com Capitolina desde a infância até a vida adulta. Essas memórias, no entanto, são marcadas pela história de um Bento amargurado e ressentido, transformado, como o próprio título nos indica, em um Dom Casmurro.

A relação de Dom Casmurro com outros livros

A grandiosidade da obra está tanto na prosa genial de Machado quanto no suspense que paira sobre a pergunta mais infame da literatura brasileira: Capitu traiu Bentinho? Há quem diga que sim, há quem diga que não. Seja qual for a interpretação dos leitores, fato é que o questionamento fez de Dom Casmurro uma obra imortal, que segue, séculos após século, inquietando leitores e críticos.

Para além disso, a obra apresenta diálogos intertextuais com diferentes livros nacionais e internacionais, mostrando não só um Machado de Assis culto como também uma obra repleta de camadas, que convidam o leitor a mergulhar em universos que vão muito além do próprio texto.

A partir da leitura da edição da Panda Books de Dom Casmurro, que apresenta anotações, explicações e definições de termos, obras e trechos do livro com o intuito de aparelhar o leitor para a melhor compreensão do livro, selecionamos 9 obras citadas por Machado de Assis – seja através da menção direta aos títulos ou personagens, seja através da referência a citações.

Fausto, de Goethe

Um das mais clássicas obras de Johan Wolfgang von Goethe, Fausto é um poema trágico dividido em duas partes. Escrito na forma de peça teatral, é considerado um dos mais importantes livros da literatura alemã.

No livro, Fausto é um homem muito culto, mas que não se sente satisfeito com aquilo que aprendeu e viveu. Em busca de conhecer tudo que há para ser conhecido no mundo e transformar-se em uma espécie de deus, faz um pacto com Mefistófoles no qual, em troca de conhecimento, amor e rejuvenescimento, oferece sua alma.

As alegres comadres de Windsor, de William Shakespeare

A peça de William Shakespeare foi escrita em apenas 15 dias, a pedido da Rainha Elisabete, fã de Sir John Falstaff, personagem que já havia aparecido em outras peças do autor. As alegres comadres de Windsor é uma comédia que apresenta uma afiada leitura acerca da burguesia inglesa.

Na peça, Falstaff, um cavaleiro sem sorte ou dinheiro, que arquiteta um plano para enriquecer rapidamente e decide seduzir duas senhoras de Windsor, a fim de usufruir da riqueza de seus maridos, sem prever a vingança que as amigas Ford e Page tramariam. Falstaff também não desconfia do ciumento senhor Ford que, ciente das investidas do espertalhão, apresenta-se a ele como o “mestre Fontes”, propondo-lhe a conquista da própria esposa.

Otelo, de William Shakespeare

Este é, provavelmente, o livro que mais tem relação direta com Dom Casmurro. São muitas as menções à obra, que se estendem também ao próprio enredo, no qual recorrentemente a história de Bentinho é comparada àquela escrita por Shakespeare.

Em Veneza, Otelo, um general mouro a serviço do Estado, conquista Desdêmona, uma jovem, filha de um nobre local. Após enfrentar a ira do pai e defender-se com sucesso contra a acusação de tê-la “enfeitiçado”, ele parte a Chipre em companhia da esposa para combater o inimigo turco-otomano. Lá, seu alferes, o manipulador Iago, consegue paulatinamente instilar na mente do mouro a suspeita de que Desdêmona o traiu. Otelo é a tragédia em que Shakespeare estudou os mecanismos da imaginação, da paixão e do ciúme.

Ilíada, de Homero

A Ilíada é considerado o livro que funda a literatura ocidental. A obra narra a tragédia de Aquiles na Guerra de Troia. Irritado com Agamêmnon, líder da coalizão grega, por seus mandos na guerra, o célebre semideus se retira da batalha, e os troianos passam a impor grandes derrotas aos gregos. Inconformado com a reviravolta, seu escudeiro Pátroclo volta ao combate e acaba morto por Heitor. Cegado pelo ódio, Aquiles retorna à carga sedento por vingança, apesar de todas as previsões sinistras dos oráculos.

Odisseia, de Homero

Além de A Ilíada, Machado de Assis também cita a Odisseia, épico com mais de 12 mil versos. Trata-se de um livro que influenciou a literatura ocidental, assim como outras expressões artísticas como o teatro e a ópera, através dos séculos. O livro apresenta a narrativa do regresso de Ulisses a sua terra natal. Na sinopse da edição publicada pela Editora 34, o enredo é explicado a partir da Poética de Aristóteles: “Um homem encontra-se no estrangeiro há muitos anos; está sozinho e o deus Posêidon o mantém sob vigilância hostil. Em casa, os pretendentes à mão de sua mulher estão esgotando seus recursos e conspirando para matar seu filho. Então, após enfrentar tempestades e sofrer um naufrágio, ele volta para casa, dá-se a conhecer e ataca os pretendentes: ele sobrevive e os pretendentes são exterminados”.

Ensaios, de Michel de Montaigne

Obra-chave do pensamento ocidental, os Ensaios de Montaigne, publicados na França entre 1580 e 1588, tornaram célebre seu autor, inspiraram os filósofos do Iluminismo e criaram um novo gênero literário. Ao falar de si mesmo com uma franqueza e liberdade que até hoje nos tocam, Michel de Montaigne (1533-1592), um homem do Renascimento, fala na verdade da condição humana, com reflexões sobre a psicologia, a educação, a ética e a política.

Lira dos Vinte Anos, de Álvares de Azevedo

Álvares de Azevedo é um dos maiores nomes da poesia romântica brasileira. Influenciado pelo inglês Lord Byron, sua poesia fala sobre desejo, morte, melancolia, tédio. Escreveu também “Noite na Taverna”, um clássico da literatura gótica brasileira.

Morreu muito jovem, antes de completar 21 anos, sendo a Lira dos Vinte Anos uma de suas principais obras, que inclui vários de seus poemas mais famosos, como “Ideias íntimas” e “Se eu morresse amanhã”. Em 1866, Machado de Assis publicou uma análise do livro de Azevedo, reverenciando a imaginação, criatividade e talento do autor.

A Divina Comédia, de Dante Alighieri

Machado referencia um dos livros mais famosos de todos os tempos, que é por muitos reconhecido como uma das obras mais importantes da história da literatura.

A Divina Comédia de Dante é considerado um texto fundador da língua italiana. A obra, escrita entre 1306 e 1321, narra a viagem de Dante ao Inferno, Purgatório e Paraíso. O livro contém mais de 14 versos decassílabos que são divididos em 100 cantos e três partes – O Inferno, O Purgatório e O Paraíso.

Manon Lescaut, de Abade Prévost

Um dos menos conhecidos dessa lista, o livro de Antoine François Prévost é citado por Machado em Dom Casmurro.

Foi na Holanda que, pela primeira vez, o romance A história do Cavaleiro de Grieux et de Manon Lescaut foi publicado (1730). Manon Lescaut foi considerada escandalosa, e condenada pela Igreja. Em 1753, sai uma nova edição, revisada e acrescida de um episódio. A bela e imorredoura história de amor do Cavaleiro des Grieux e de Manon Lescaut deu origem à célebre ópera de Giacomo Puccini, bem como, adentrando o século XX e o XXI, a vários filmes e séries para a televisão.

Outras citações

Além dessas obras, Machado de Assis faz menção a alguns livros que não se encontram publicados em português, como o poema A Tristeza de Olimpio, do escritor francês Victor Hugo, autor do clássico “Os Miseráveis”.

Machado também cita diversas vezes a Bíblia, fazendo referência a personagens e passagens. Além disso, ele também faz menção ao Livro das Horas, um livro de orações seculares que, na Idade Média, foi uma espécie de “best-seller”.

Leia também: “Devemos forçar um jovem a ler Machado de Assis na escola? Leandro Karnal responde!”

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