“O Mundo Depois de Nós” (2003): filme celebra o analógico e escancara o medo que temos de ficar sem um final

Assisti “O Mundo Depois de Nós” e estou sentindo e adorando sentir coisas contraditórias. O filme é uma espécie de celebração ao analógico em tudo que isso envolve. Ele mostra que as relações se dão no contato entre pessoas e é na proximidade que as faces do real se apresentam: preconceitos, desejos, abusos, raivas, sentimentos.

É interessante também como o filme escapa de ser nostálgico e, ao criticar o tecnológico, não apela pro “amor ao real”. A complexa trama do desconhecimento não nos diz que a realidade está no aqui e agora da presença. Pelo contrário, a presença é o grande problema do filme: de perto, ninguém se suporta, de perto todo mundo é horrível e cheio de vícios, erros e problemas reais. Mas de perto, pelo menos, as pessoas estão ali. No real é todo mundo ruim e odioso, no analógico produzimos mediações, mas…os encontros ainda são possíveis?

Por isso que vejo o filme com uma celebração do analógico. Somos todos espécies de tecnologias físicas: pessoas, discos, dvds e interagimos e trocamos uns com os outros analogicamente. Nos tocamos e nos trocamos. E aí está o impasse do espetador: Ele quer a resposta para o apocalipse da tecnologia, ele quer saber se os Estados Unidos é o vilão, ele quer entender o final da história, mas o final dessa história somos NÓS.

O filme transforma a gente em espectador e comentador. O público é mais uma camada tal como em “Não olhe pra cima”, fazemos parte da trama e somos o desdobramento dela. A nossa resposta ao filme também é o filme. Entendemos pouco e, pelas críticas estamos reagindo mal. E por isso o filme tem razão.

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O digital, ao simular a realidade e a realidade de realidade, faz a gente perder o parâmetro do que é existir. No filme, o caos e o mar das pinturas da casa figuram isso. No fim, a pergunta: o que seremos quando formos?

Veja o trailer do filme:

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