The Sweet East (2023), Sean Price Williams encarna energia sexual da juventude sem julgamentos

Filme de estreia do diretor de fotografia de Bom comportamento e atriz de Nunca raramente, The Sweet East às vezes lida com a energia sexual da juventude sem julgamentos.

A chave talvez seja o ritmo.

Sean Price Williams fez carreira sólida como fotógrafo de filmes geniais da última década. De Ferrara a Safdié, de Bom comportamento  a Cala Boca Philip, ele traz algo muito marcante em um uso misto de luz natural com cores vibrantes que não perdem um aspecto retrô e natural. Usando de uma granulação que nunca cai na nostalgia, mas que se disfarça de, para criar essa saudade do agora.

Em Sweet East, tudo isso está presente. Com planos expressivos no meio de tomadas naturais. Com uma combinação entre closes precisos e quadros amplos de uma América escondida. Misturados timidamente com caricaturas no meio de uma dramaturgia. Como a visão de um binóculo que transforma o cenário em desenho.

No centro da história, uma anti-heroína errante parece que é sempre levada pelas circunstâncias mas nunca deixa de ter agência. Pulando de galho em galho sempre que a situação demanda. Numa “incrível jornada” que passa por punks contemporâneos, teóricos da conspiração, artistas liberais e crentes que, de algum jeito, vão assediá-la. O que ela espera. E o que ela usa a seu favor.

Em um filme sobre juventude que nunca comete o erro de tentar entender completamente a geração retratada. Que confia que a gente consiga captar o espírito da coisa. Que consigamos lidar com tudo que o filme pode nos fazer questionar. “é correto isso?”; “o que isso significa?”; “existe aqui realmente um porão escondido onde se praticam crimes contra crianças?”; “ARTivista?!”

É louvável (não deveria ser porque deveria ser natural) que no meio disso um diretor consiga lidar com a sexualidade de uma personagem tão jovem sem temer esse tema mas também sem sexualizá-la do jeito errado. Mais que isso. É óbvio o quanto o cineasta confia, com razão, na capacidade de Talia Ryder, a protagonista, de carregar graciosamente o filme.

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Nunca fora de cena. Sempre magnética. Sempre movimentando a ideia de uma jovem que sabe do poder que pode ter sobre quem a deseja. Servindo de personagem mas também de avatar geracional. Solidificando a ideia de que, no fim, as crianças estão bem.

Mas como eu disse. Ritmo é a chave. Talvez.

Porque se Williams consegue trazer pra cá de um jeito mais que eficaz todas as suas marcas visuais e consiga criar uma cobertura de cenas que faz até jus ao que ele fazia como técnico de algumas obras-primas como Bom Comportamento. Mas nem sempre ele consegue concretizar, no todo, as noções de ritmo inerente que esses filmes tem.

Não necessariamente só pela velocidade acelerada de alguns deles, mas por uma fluidez que aqui começa com um potencial enorme mas que desacelera em alguns momentos. Coisas subjetivas que nem sempre são fáceis de se apontar algum momento “culpado”. Deixando para trás só mesmo uma explicação do tipo: “falta alguma coisa”

Ainda que incompleto, no fim das contas. O que tem lá na sustentação dessa incompletude é mais que suficiente para dizer que Sweet East é uma bela estreia na direção para Sean Price Willams.

Confira o trailer aqui:


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