“Vantagens que encontrei na morte do meu pai”: Paula Febbe dilacera o luto pela ausência paterna

Um dos textos mais famosos de Freud é Luto e Melancolia. Na obra, o austríaco relata em poucas páginas como se dão ambos os processos. Para ele, a melancolia é uma perda sem objeto. Difusa, ela pode se manifestar a qualquer momento e ficar por longos períodos. Já o luto, por sua vez, seria também uma perda, mas dessa vez com um objeto marcado e específico. O luto, especificamente, seria o processo, o tempo ou a série de ações que precisamos fazer para lidar com essa perda. No entanto, o que fazer quando a perda que temos é de alguém ausente e abusivo? Como lidar com uma perda de algo que, algumas vezes, até sonhamos perder? É disso que trata o livro da autora Paula Febbe, “Vantagens que Encontrei na Morte do Meu Pai”.

No livro, temos a história de Débora, a narradora do  romance, que acaba por nutrir e perpetuar os abusos cotidianos sofridos. A experiência é de desamparo paterno com traumas e hiatos e cortes e marcas que os homens imprimem quando invisibilizam a existência feminina.

Se um pai já se foi, como uma cicatriz  pode ainda doer tanto? Será mesmo o fim da história? Onde mora esse luto que não  aconteceu como deveria ter sido? Onde reside o alívio que nunca a abraçou? 

Débora trabalha como enfermeira, mas os pacientes que passam pelos seus cuidados  estão destinados a permanecer bem longe da cura desejada. Como curar o outro  quando o maior desejo não é a cura? “A verdade é que certas doenças trazem a  paciência que algumas pessoas sempre deveriam ter tido”, pensa Débora cada vez  que a porta se abre trazendo um novo rosto. 

A mentira vive quando a verdade parece insuportável. Os abusos provocam distorções  e cuidar também pode significar matar. Mata-se a dor, o abuso e o desejo, mata-se a  vida ainda não concebida e a possibilidade de vermos tudo por outro ângulo.

Mata-se a saudade de um pai que nunca esteve lá, a saudade de um pai que nunca existiu.

Leia também: “As mulheres do meu pai”:  José Eduardo Agualusa retrata viagem por países da África Austral


Na narrativa de “Vantagens que Encontrei na Morte do meu Pai”, surge um espelho, uma face mais perversa. Com uma voz única, repleta de verdade e experiência, a escritora Paula Febbe produz uma literatura cruel e ao mesmo tempo necessária, pois todos os indivíduos são as marcas, os delírios e os desejos mais perversos dos pais. A autora também é  roteirista premiada e colaborou com diretores como Fernando Sanches e Heitor Dhalia.

Sobre a autora Paula Febbe


Paula Febbe estudou roteiro no Goldcrest ProductionTheater, em Nova Iorque, e psicanálise no Centro de Estudos Psicanalíticos (CEP), em São Paulo. Sua escrita brutal e única explora as perversões e psicoses da consciência humana, em narrativas expositivas que levam seu fiel público a imergir nas mentes patológicas das personagens. 

Paula recebeu diversos prêmios com o filme “5 Estrelas”, que coescreveu com o diretor Fernando Sanches. Finalista no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro 2021, o filme fez parte da seleção oficial do festival LABRFF, de Los Angeles e do Festival FANTASPOA, em 2020.

Ao lado do diretor Heitor Dhalia, a autora roteirizou a obra “Fetiche”, inspirada em livro de sua autoria. A parceria promete ser duradoura, uma vez que os direitos audiovisuais de seu novo livro, “Vantagens que Encontrei na Morte do Meu Pai”, foram adquiridos pela Paranoid Films, produtora do diretor.

“Paula Febbe não tira o fôlego do leitor, ela o asfixia, com as duas mãos. Com suas frases pulsantes, elipses narrativas surpreendentes e imagens impossíveis, Febbe nos joga em mundos nunca antes percorridos, onde cruzamos com personagens desafiadores, estranhos e complexos. Nada é fácil ou dado de mão beijada ao leitor. A literatura dessa autora tem a precisão de um punhal e o alvo é o meio do seu coração, caro leitor. Como diria Dante na porta do inferno: “Deixai toda esperança, vós que entrais!” – Heitor Dhalia, cineasta.

Indicações e Premiações:

– Finalista do Prêmio ABERST de Literatura (2019), com “Mãos Secas Com Apenas Duas Folhas”;

– Ganhadora do Décimo Cine Fantasy Festival (2020), na categoria “Melhor Curta Fantástico”, com o filme Cinco Estrelas;

– Ganhadora do Prêmio Aquisição Elo Company do curta “Cinco Estrelas” no Décimo Cine Fantasy Festival (2020);

– Ganhadora do Prêmio Aquisição do Canal Brasil do curta “Cinco Estrelas” no Festival Iberoamericano de cinema (2020);

– Ganhadora do Prêmio Ecos da Literatura como Melhor Autora na categoria Digital, com o texto “O Eterno Vezes Seis”, publicado pela Editora Darkside (2021);

– Finalista do Grande Prêmio do Cinema Nacional, com o filme “Cinco Estrelas” (2021).

Sobre a DarkSide Books

A DarkSide® Books é a grande casa do terror. Nasceu no Dia das Bruxas, em 2012. Hoje, já mobiliza mais de 1 milhão de leitores nas redes sociais, que colecionam seus títulos — edições sempre caprichadas. A DarkSide® Books se tornou uma referência entre as novas editoras do mercado e mantém uma relação intensa de admiração e troca com seus fãs e seguidores, que não deixam de acompanhar, curtir, sugerir títulos e cobrar lançamentos com a Caveirinha.

Ficha Técnica
Título: Vantagens que Encontrei na Morte do meu Pai 

Autora: Paula Febbe 

Editora: DarkSide Books

Edição: 1ª 

Especificações: 224 páginas, 16 x 23 cm, capa dura 

Related posts

Projeto ‘Uma nova história’ incentiva o hábito de leitura no DEGASE

A atmosfera da vida particular soviética em “No degrau de ouro”, de Tatiana Tolstáia

“Coração Periférico”, de Diego Rbor: criatividade e poesia contemporânea na periferia