Reparar a história para construir um futuro. Como fazer isso? Fazendo eco ao que se produz de melhor em nossa cultura. Hoje, apresentamos uma lista de grandes poetas negras brasileiras. Não sei se você sabe, mas o Brasil foi o último país do mundo a abolir a escravidão e isso tem efeitos devastadores na nossa sociedade, que é muito racista. Gerações de homens e mulheres negros(as) tiveram e têm sua história, seu passado e seu presente atravessados pelas relações escravagistas e suas consequências. Entre eles, grandes poetas, escritoras, artistas, cineastas…a lista é imensa, mas pouca gente conhece. Porém, muito de poesia se fez e se faz, principalmente no mundo contemporâneo.
Pensando nisso, o NotaTerapia resolveu listar 15 poetas negras brasileiras contemporâneas pra você conhecer. Confira:
Conceição Evaristo
Conceição Evaristo é um dos nomes que tem se destacado na literatura contemporânea brasileira. A autora nasceu na periferia de Belo Horizonte, negra e de origem pobre, mudou-se para o Rio de Janeiro em busca de trabalho. No Rio de Janeiro, formou-se em Letras, e alguns anos mais tarde, fez Mestrado e Doutorado na área de Literatura. Apresenta-se como uma escritora versátil que transita entre o universo da poesia e da prosa.
Apesar de escrever desde a juventude, Evaristo só começou a publicar aos 44 anos, em 1990, numa série de antologias de Cadernos Negros da editora Quilombhoje. Seu primeiro romance, Ponciá Vicêncio, foi publicado em 2003. Posteriormente, foram publicados Becos da memória (2006), Poemas da recordação e outros movimentos (2008), Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), Olhos d’água (2014) e Histórias de leves enganos e parecenças (2016). Suas principais temáticas, geralmente, englobam a memória, a condição do negro, em especial, da mulher negra, a luta e a resistência, o legado histórico e os reflexos da escravidão.
Leia um poema aqui:
Recordar é preciso
O mar vagueia onduloso sob os meus pensamentos
A memória bravia lança o leme:
Recordar é preciso.
O movimento vaivém nas águas-lembranças
dos meus marejados olhos transborda-me a vida,
salgando-me o rosto e o gosto.
Sou eternamente náufraga,
mas os fundos oceanos não me amedrontam
e nem me imobilizam.
Uma paixão profunda é a bóia que me emerge.
Sei que o mistério subsiste além das águas.
Veja os melhores poemas da poeta aqui!
Ryane Leão
Ryane Leão é professora e poeta cuiabana. Mora em São Paulo e escreve desde muito jovem. Há mais de dez anos, começou a publicar em blogs e sites e, posteriormente, passou a escrever no Facebook e no Instagram com o projeto Onde jazz meu coração, além disso, participou de vários saraus e slams. Atuou também com arte de rua, publicando seus escritos em lambe-lambe. Em 2017, pela editora Planeta, publicou seu primeiro livro denominado Tudo nela brilha e queima: poemas de luta e amor.
Leia um poema aqui:
você me causa
o impacto de um bom poema
abre meu peito
de um lado a outro
e me faz imensa
ela parecia
aqueles
fogos de artifício
tudo nela brilhava
e queimava
antes de apagar
e virar poeira
Jarid Arraes
Jarid Arraes é uma escritora, cordelista e poeta brasileira, autora dos livros As Lendas de Dandara, Heroínas Negras Brasileiras em 15 cordéis, Um buraco com meu nome e Redemoinho em dia quente. Atualmente vive em São Paulo, onde criou o Clube da Escrita Para Mulheres.
Leia um poema aqui:
falsete
toda autoridade
nega
a liberdade
arranca-lhe os dentes
pendura-lhe no espeto
e espera
depois de algum
tempo
meia hora cinco vinte dias
quatro meses sete anos a variação
é curiosa
depois de algum
tempo
a liberdade então
canta
Conheça mais sobre a poeta aqui!
Mariana Felix
Mariana Felix é cria da Zona Leste de São Paulo, 35 anos, libriana e seu céu favorito é o estrelado. Ministra a Oficina Cicatrizes, que utiliza as palavras como ferramentas de cura para suas feridas e de todas que também quiserem acreditar que é sempre possível recomeçar. É uma poeta formadora do Slam Interescolar, que é o maior movimento de literatura nas escolas hoje em São Paulo. Publicou três livros de forma independente: Mania (2016), Vício (2017) e Abstinência (2019), uma trilogia poética que lhe rendeu amores, encontros e empoderamentos pelo meio dos caminhos. Faz parte do Coletivo Audiovisual Prosa Poética, dos Espetáculos Samba Poética e Filhos do Orun. É viciada em slams tanto quanto em mexerica. Pela primeira vez, um livro seu é publicado por uma editora, e ela avisa: “nunca antes foi tão importante ser a protagonista da minha própria história”.
Conheça a poeta aqui: https://www.instagram.com/soumarifelix/
Leia uma obra da autora aqui:
Se é amor que você quer:
Recebe!
Me bebe, sou drink que quiser
Mistura de montila com guaraná
Eu gosto de dança de par
Quando as coxas se encostam
Seio no peito, confronto
Olho no olho, encontro
Sua boca que silencia a minha…
Não é reza! É anistia!
O pecado dos nossos corpos misturados
É como se você dissesse:
“Dá um bocado?”
E a gente divide culpa e santidade
Teus segredos guardo em meus beijos, cumplicidade
E a gente se mastiga
Você me excita.
Brinca indiferente…
Como se não de repente
E se alguém descobre da gente…
Como faz?
Todos os outros vão saber que te amei mais
Somos mistura de vinhos
É seco, suave, rosé
É tinto!
Lembra você?
Sorrindo, dizendo:
“Mariana, não vai dar certo”
Ela escreve.
Eu escravo.
Ela tem métrica
Eu só faço em verso
porque acho bonito.
Ela deve conhecer uns cinco países.
Eu conheço o bar com a cerveja mais barata do bairro,
e cá pra nós,
já nem está tão barata.
Ela faculdade.
Eu facultativo.
Ela fala três idiomas.
Eu acho que nem português sei falar direito,
porque às vezes o dono do bar não entende o que eu falo.
Ela escreve no quarto.
Eu depois do quarto copo,
escrevo no guardanapo,
usando o balcão do bar de apoio.
Ela breve.
Eu bravo.
Ela clama
Eu reclamo
Pra ela amor acaba
pra mim amor é escambo.
Ela diz que caibo no seu canto.
Eu de canto, canto. Me aproximo aos tantos e no entanto
Ela tem pressa de ser feliz
Eu tenho um peito que não é pressa, é brisa.
Você de canto, canta
Mente dizendo não caber
Aqui?
Se o problema é espaço
Pego tudo que em mim já foi ocupado
E me desfaço!
Não me contento mais em só caber no seu abraço
Eu silêncio.
Ela se queixa
Eu me encaixo
Ela excede
Eu escasso
Ela merece
Eu marasmo.
Ela tem modos,
Eu tenho medos.
Ela tão tarde
Eu tão cedo.
Ela já sabe.
Eu já disse:
Ela escreve
Eu escravo.
Ela com suas palavras
Eu com as minhas.
Ela só não sabe que
Eu sou quase seu inverso,
e mesmo controverso, confesso:
Eu gosto mesmo é quando a gente
U N I V E R S O S
Mariana Félix
Júlia Suzarte
Júlia Pereira Suzarte nasceu no dia 22.08.1999, é natural da cidade de Feira de Santana (BA) e começou a escrever poesias com 09 anos de idade, em 2019 e 2020 participou do Encontro com a Fátima Bernardes e atualmente é graduanda do curso de Letras com Habilitação em Espanhol pela UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana) Júlia tem um livro de poesias publicado: No Meu Quintal e a mesma se considera poeta desde o dia do seu nascimento.
Saiba mais sobre a poeta aqui: https://www.instagram.com/julia_poeta/
Leia um poema da autora:
Eles falam mal do meu cabelo
Riem do meu nariz
Querem me encaixar em um modelo
Cortando a minha raiz,
Eles são o fundo branco de um cheque
Mal sabem que um preto sem seu black
É como dormir e acordar em um pesadelo.
Eles falam mal da minha cor
Querem que eu seja obediência
No que eles tem de rancor
Lhes faltam de inteligência
E o meu cabelo trançando
Solto, black no alto
Ultrapassam a moda
Abraçam a resistência.
Para eles a nossa arte
Nao passa de vandalismo
Mas, isso é só uma questão a parte
Tudo não passa de vitimismo
Nas lojas tem sempre alguém atrás de mim
Mas, é tudo “mimimi”
Até porque no Brasil não existe racismo.
Para eles a bala perdida
É normal se alojar em meu povo
Ontem ceifaram mais uma vida
Semana que vem eles ceifam outra de novo.CurtirEncaminharCopiarDenunciar
Para eles somos sempre os empregados
Nunca o patrão
Nos enforcam em supermercados
E se nos veem correndo na rua… é tudo ladrão!
E ainda tem gente que acha hilário
Preferem nos ver com uniforme de presidiário
Mas nunca com um diploma na mão.
Porque eles sabem do nosso poder
E vai muito além de desviar da bala
O que não nos mata, nos faz crescer
E o outro lado… se abala,
Porque um preto evoluído
Jamais será vencido
E nunca mais voltará para senzala.
Vamos ocupar todo lugar
Com inteligência e beleza
Na música, dança, teatro, vestibular
Com segurança e firmeza
Com capricho e bem feito
Isso sim é coisa de preto
Meus irmãos são reis
Juntos somos uma realeza.
Mesmo a vida sendo um pouco rude
Todo día é dia de se conscientizar
Como canta Natiruts:
“A consciência do povo daqui
É o medo dos homens de lá”.
Compre o livro da autora aqui:
https://www.editoraanjo.com.br/product-page/no-meu-quintal
Sol de Paula
Sol de Paula é natural de Niterói/RJ, psicóloga por formação, ativista cultural, militante do movimento negro, escritora e poeta por inspiração. Autora do livro Sol em Pequenas Doses, lançado em junho de 2020 pela Editora Itapuca, onde apresenta sua poesia feminina negra e temas relacionados ao cotidiano. Coautora de Antologias Poéticas nacionais e internacionais em gêneros literários diversificados. Atua como Membro Correspondente da Academia de Letras do Brasil/Suíça, Coletivo de Mulheres Poetas de Niterói, Coletivo Pretas Baobab e Coletivo Afeto Poético. Sol de Paula espalha o pólen da poesia por todos os lugares que tenham pessoas interessadas em ressignificar seus lugares de fala e de escuta.
Idealizadora do Canal Ocupação AfroPoética e apresenta o programa Sextou Cultural pelo Instagram. A sua navalha são as palavras cuspidas durante o gozo da vida.
Louvação às Rainhas
O meu barro foi moldado pelas mãos de um ser encantador.
Tenho um pouco de tudo e muito da sua dor.
Sou o grito amordaçado na boca de Anastácia.
Sou as mãos garimpeiras da eterna Carolina.
Sou as insubmissas lágrimas mineiras de Ceição.
Sou a abelha rainha eternizada nas canções de Bethânia.
Já fui os olhos atrevidos e a “felicidade clandestina” de Clarice.
Uns dizem que ainda sou.
Falam que sou amor meigo e o “mar absoluto” de Cecília.
Sou “a mulher negra e o amor” quilombola que Beatriz eternizou.
Tenho a ousadia e o atrevimento da Madame … Satã.
Mas a minha navalha são as palavras cuspidas durante o gozo da vida.
Sou a soma de todas e mais um pouco do sagrado que habita em mim.
Sou os lábios de mel e virgens de Iracema.
Sou a quebra da barreira da insanidade pelas mãos de Nise.
Sou a menina dos olhos de azeviche que Lia criou.
Sou a gargalhada iluminada que Lucinda, linda, esbanjou.
Sou a mulher do fim do mundo que Elza denunciou.
Sou o barro molhado, moldado pelas mãos de um ser que desbrava a dor.
Sou a voz abolicionista que Firmina empoderou.
Sou o eco de liberdade refletido no espelho sedutor de Dandara.
Sou a força dos ventos na tempestade de emoções das Beneditas.
Sou o elo da corrente na força da ancestralidade das Luízas presentes.
Sou o som resistente dos tambores africanos de Ciata.
Enfim, sou o barro sendo esculpido no encontro das almas guardadas em meu peito
desbravador.
Sou resistência! Sou a rainha das águas doces aquecidas pelo sol sem seu esplendor.
Sol de Paula
Nina Rizzi
Nina Rizzi é escritora, tradutora, pesquisadora e professora. Formada em História pela UNESP e Mestra em Literatura Comparada pela UFC. Traduziu obras de Alejandra Pizarnik, Susana Thénon, bell hooks, Alice Walker, Toni Cade Bambara, Ijeoma Oluo, Abi Daré, entre outres. É autora de tambores pra n’zinga, a duração do deserto, geografia dos ossos, quando vieres ver um banzo cor de fogo e sereia no copo d’água e do infantil A melhor mãe do mundo; nasceu em Campinas e vive em Fortaleza há 15 anos, onde faz laboratórios de escrita criativa com mulheres e integra as coletivas Pretarau – Sarau Das Pretas e Sarau da B1.
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[um joão]
era imensa a vida
entornava o àiyé quando
estilhaços-luzes me varavam
coração
chore, não, mainha
era ocê que via
enquanto o orun se abria
através os estilhaços-luzes
pra’eles a espada de ogum
no meu
– o teu –
coração
Geni Guimarães
Geni Mariano Guimarães é uma poeta e escritora brasileira, ativista e autora de 10 livros de poemas, contos e infantis. Iniciou a carreira literária publicando poemas em jornais da cidade de Barra Bonita, no interior paulista. O primeiro livro, Terceiro filho, foi lançado em 1979
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Cíntia Colares
Cíntia Clares jornalista profissional, poeta, escritora, mulher, mãe, feminista negra, militante do movimento Black Lives Matter, no Brasil chamado de Vidas Negras Importam, da Marcha Mundial das Mulheres, do Sarau Afro Gueto Urbano e outras iniciativas de resistência. Mãe do adolescente Diogo Colares a quem dedica sua luta por um mundo mais equânime.
Gaúcha, de Porto Alegre RS, sul do Brasil, estado conhecido por cultivar tradições e colônias europeias, o que inspira seus poemas que buscam inserção, espaço, empoderamento e respeito as suas raízes afrodescendentes.
https://www.facebook.com/coracaodanegra/
https://www.facebook.com/diariodanegracintiacolares/
CARTA AO MEU MANO
Nao vá embora ainda.
Fica mais um pouco.
Ando tão ocupada, mas eu vou te chamar daqui a pouco.
Quero saber do teu aniversário amanhã.
Mas, ah, depois eu te ligo.
O trabalho exige tanto.
Você pode esperar mais um pouco, né?
Não, nao pode.
A morte te encontrou antes de mim.
O mundo gira pelo capital, mas familia tem que vir antes de tudo. Aprendi com uma liçao bem doída.
Quando enfim parei pra te ver te encontrei com um tiro nas pernas, que ao ver aquele buraco, travou as minhas. Me joguei sobre você e senti um buraco no seu peito. Era outra bala. Olhei pro seu rosto, um ou dois tiros na cabeça, já nem sei quantos buracos vi.
E naquele instante meu irmao mais velho que era todo amor e família virou um corpo gelado.
Quantas vezes acordei assustada na noite porque encostei na parede, tinha essa sensação gelada e acordava de sobressalto perguntando se era vc ali pra eu tocar, abraçar, mas está tão gelado. Tao distante do nosso afeto essa lembrança.
A violencia levou a ele e também levou parte de mim que nunca mais voltou.
Carta ao meu mano véio Christian Colares, 9 de maio, aniversário de seu nascimento. 8 de maio arrancaram ele de mim, de seus filhos, sobrinhos, familiares e amigos saudosos e nossa mae.
Sou Flor de Lótus.
Sou Cíntia Colares.
Precisamos falar sobre o estado que se exime, o sistema que exclui, encarcera e assassina e o outro lado que coopta, seduz e extermina a nossa juventude negra.
Dayana Silva (@onceupon_a_heart)
A poeta mandou uma bio super incrível, em forma de poema, confira:
oi, eu sou a day
escrevo com torso nismos
no @onceupon_a_heart
era uma vez um coração
tenho 28 e há 3 moro em sp
deixo aqui um poema meu
pra você me conhecer
um pouquinho mais
já conhece meu primeiro livro?
ali-se caiu em afetos colaterais
Conheça seu trabalho aqui:
https://www.instagram.com/p/CWmF-VZr-0B/
https://www.instagram.com/p/CTLLrfPFjLK/
Ver essa foto no InstagramUma publicação compartilhada por era uma vez um coração 🖤 (@onceupon_a_heart)
Lubi Prates
Lubi Prates é uma poeta, editora, tradutora, curadora e psicóloga brasileira. Ela esteve entre as finalistas do 61º Prêmio Jabuti e do 4º Prêmio Rio de Literatura com o livro Um corpo negro (2018), anteriormente selecionado para criação e publicação de poesia pelo Programa de Apoio Cultural (ProAC), da Secretaria de Cultura do governo do estado de São Paulo
Um corpo Negro
Para comprar o livro, acesse: https://www.poesiaprimata.com/lubi-prates/lubi-prates-um-corpo-negro-2018/
NÃO FOI UM CRUZEIRO
meu nome e
minha línguameus documentos e
minha direçãomeu turbante e
minhas rezasminha memória de
comida e tamboresesqueci no navio
que me cruzou
o Atlântico.
Isadora Silva
Nasci na cidade de Santo Antônio de Jesus no Recôncavo baiano, me chamo Isadora Silva e sou da poesia desde que me lembro. Atualmente escrevo e posto contos, poesias e prosas não nomeadas nas redes sociais através do perfil Akamba Poética. Participo ativamente de saraus e outros tipos de intervenções artísticas. Meus textos abordam sobre as minhas vivências como mulher negra. Sou professora de Língua Portuguesa e pesquisadora da escrita e dos processos criativos, bem como ministro oficinas de escrita. Sou autora de dois livros de poesias Versos Sólidos que Inundam e Eu sei fazer Tempestade em Gota.
Leia uma poesia aqui:
A gente é de carne, osso e coração
E, além disso, histórias não contadas
Obstáculos gigantes
A gente carrega na veia
as histórias das nossas ancestrais
E essas raízes
Estão cheias de dor
Mas alguns capítulos têm sorrisos bordados com fios de ouro
Têm lágrimas derramadas de orgulho e felicidade
Têm carinho e abraço
A gente não é só dor e batalha
A gente é sorriso
E esperança
Eu queria dizer para você que é lindo te observar crescer
Correr atrás dos sonhos
Lutar pelo tão almejado lugar ao sol
Eu sei que cansa
Só queria te lembrar
Que você pode parar
O sucesso e a riqueza não precisam vir antes dos trinta.
Senta aqui comigo
Me conta do teu dia
Me conta uma história
Mas fala devagar
Nós temos tempo
Te faço um café
Coloco sua música favorita
Faço tranças no teu cabelo
Me deixa cuidar de você hoje
Como você faz o tempo todo por todos menos por você.
Links: https://instagram.com/akambapoetica
Luna Vitrolina
Escritora, poeta declamadora, cantora, atriz e performer. Foi finalista do prêmio Jabuti 2019 com o seu livro de estreia na poesia, Aquenda – o amor às vezes é isso, publicado pelo selo LIVRE do escritor Marcelino Freire e prefaciado por Heloísa Buarque de Holanda.
Siga a autora aqui: https://www.instagram.com/luna_vitrolira/
poema 2
as mãos calejadas dizem
do corte da canacarregam entulhos
e cinco litros d’água
para sustentar a fomenas depressões inundadas
os passos afundam
como se afundasse
um navio negreirocom ele
muitas vidas viraram
obras de museu:um homem sem rosto
um rosto sem nome
um nome sem gentee sua terra incinerada
minha família veio num desses
que não afundou
com a tempestadedispersa
nossa história enterrou-sedifícil encontrar os ossos
e as pedras que dirão de nósmemória tem águas espessas
Luciene Nascimento
Luciene Nascimento é nascida e criada em Quatis, pequeno município do interior do Rio de Janeiro. Advogada e maquiadora profissional, realiza palestras sobre identidade, estética e autoestima da mulher negra. É poeta e escritora, e seus vídeos de pedagopoesia somam mais de três milhões de visualizações na internet. Foi citada pela imprensa como inspiração para novas gerações na literatura.
Luciene é vencedora do Prêmio Dandara e Zumbi dos Palmares na categoria Comunicação e atualmente é vice-presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB- Barra Mansa-RJ.
Siga a autora: https://www.instagram.com/luci.nasc/
Leia um poema:
“TUDO NELA É DE SE AMAR”
Eu ouvi recentemente que sou da ‘Geração Tombamento’:
preta, pobre, consciente
que carrega esteticamente a cura pro próprio tormento.
Meu tormento não nasceu comigo, me lembro de senti-lo bem no colégio,
de os meninos me revelarem que amor-próprio era privilégio.
Meu amor-próprio foi construído, demorei, mas aprendi e aos dezoito concluído: meu padrão não é daqui.
E quis lançar aos quatro ventos, pendurar uma faixa amarela, quando eu via
uma pretinha triste, escrevia e dizia para ela que tudo nela é de se amar.
Tudo.
O cabelo que trava os dedos na hora de acarinhar,
que é como se dissesse: se eu te permiti tocar tão profundo, então pode
permanecer entre os meus fios.
A forma como enfrenta a vida, tudo nela
é de se amar. A pele preta já vem do
ventre tatuada inteira de história, que é a
memória ancestral retratada na forma do nariz,
na forma como lida, como fala, como luta e como cala, porque luta
até no silêncio dos lábios mordíveis, mastigando qualquer coisa,
quando repara e se envergonha, o sorriso que contrasta.
O tanto de amor que ela já sabe que vai precisar ensinar aos filhos, ela já guarda em cada maçã do rosto.
Tudo nela é de se amar. É que se se considerar que esse fio forte surgiu de
de dentro da cabeça dela,
deve-se supor que o que há dentro dela
não é fraqueza?
Carolina Rocha
Carolina Rocha é escritora, ativista e historiadora. Doutora em sociologia pelo Instituto de Estudos Sociais e Políticos da UERJ. Autora do livro: O Sabá do Sertão: feiticeiras, demônios e Jesuítas no Piauí colonial. Seus temas de pesquisa versam em torno das relações étnico raciais no Brasil, estudos de gênero, religiosidade e violência no espaço urbano.
Publicou nas coletâneas: “Lâmina” (Arte Sabali, 2018); “Inovação Ancestral de Mulheres Negras” (Oralituras, 2019); “Ser Prazeres: transbordações eróticas de mulheres negras” (Oralituras, 2020); “Elas e as letras: insubmissão ancestral” (In-Finita, 2021); Cadernos Negros volume 43, Poesia (Quilombhoje, 2021); O Livro Negro dos Sentidos (Mórula Editorial, 2021) e é coorganizadora do ebook Laboratório de Narrativas Femininas (Sesc RJ, 2022). Idealizadora da Ataré Palavra Terapia, uma comunidade de incentivo à escrita criativa, política e terapêutica. Faz publicação de textos autorais no Instagram – @adandarasuburbana
Leia um poema aqui:
Você é um leitor voraz
que em poucas horas
me devora
costumo me abrir inteira
toda vez que me folheia
até lambuzar os dedos
com letra, papel e tinta
te sinto entrando pela capa
até atingir a última página
e no ápice
da ponta do seu lápis
escorre a poesia
que me invade
gota a gota
eu vou melando toda
já não é mais ficção
no meu corpo tenho
todos os vestígios
das suas mãos
você me acompanha
como um livro bom
e mal posso esperar
pra escrever
novas palavras contigo
outra vez.
– para o amor que vai chegar
(Dandara Suburbana)
Maria Iná
Sou a Maria Iná, ou apenas Iná. Ariana com ascendente em aquário. Mulher, negra, periférica, professora, Orientadora Pedagógica e a mãe do Paçoca, amigo fiel de quatro patas.
Cúmplice da vida, desse processo de aprender, apreender, “aprender a ser”.
Tenho 41 anos e eles me oportunizam carregar pouquíssimas certezas sobre tudo, principalmente sobre essa estrada que trilhamos dia após dia.
Me arrisco a afirmar que apenas o AFETO salva.❤️
A(Fé)to, A(feto), AFETO.
Conheça a autora aqui:
https://www.instagram.com/ina_uma_maria/
Leia um poema:
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