Edgar Allan Poe e o daguerreótipo: as primeiras fotografias a chegar ao grande público

Edgar Allan Poe e o daguerreótipo, uma incrível história. O escritor norte-americano Edgar Allan Poe, famoso por seus contos Góticos e pelo poema “O Corvo”, além de ser um dos pioneiros em diversas questões literárias, também foi um grande entendedor e aficionado por ciência e tecnologia. Os seus interesses científicos são mais conhecidos devido à publicação, em 1848, do ensaio “Eureka”, que trata da visão do escritor em relação ao cosmos, à origem do universo. É de se imaginar que alguém com tantos anseios referentes ao universo e à ciência poderia também demonstrar interesse na evolução da tecnologia, o que foi o caso de Poe.

            Alguns dos retratos que encontramos do escritor, em geral aqueles mais nítidos, são, na verdade, fotografias tiradas com o que chamara-se daguerreótipo, o primeiro processo fotográfico comercializado ao grande público.

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O que é um daguerreótipo?

O daguerreótipo, assim nomeado devido ao seu inventor, o francês Louis Daguerre, foi divulgado em 1839, e consiste no uso de uma imagem fixada sobre uma placa de cobre, ou outro metal de custo reduzido, com um banho de prata, formando uma superfície espelhada. Assim eram criadas imagens únicas, fixadas diretamente sobre a placa final, sem o uso de negativo.

            Em 1840, Edgar Allan Poe, que contribuía com textos para a publicação Alexander’s Weekly Messenger, escreveu comentando sobre o lançamento da tecnologia fotográfica, a qual ele mesmo passaria a utilizar. O texto original de Poe sobre o processo fotográfico se chama The Daguerreotype, e pode ser conferido na íntegra neste link (https://www.eapoe.org/works/misc/dgtypea.htm).

Poe considerou a invenção do daguerreótipo como o triunfo mais importante e mais extraodrinário da ciência da época, e incluse traz uma reflexão filosófica como conclusão do seu comentário, afirmando que

“The results of the invention cannot, even remotely, be seen — but all experience, in matters of philosophical discovery, teaches us that, in such discovery, it is the unforeseen upon which we must calculate most largely. It is a theorem almost demonstrated, that the consequences of any new scientific invention will, at the present day exceed, by very much, the wildest expectations of the most imaginative.”

(Os resultados da invenção não podem, nem remotamente, ser vistos — mas toda experiência, em matéria de descoberta filosófica, nos ensina que, em tal descoberta, é o imprevisto sobre o qual devemos calcular mais amplamente. É um teorema quase demonstrado que as consequências de qualquer nova invenção científica excederão, nos dias atuais, em muito, as expectativas mais selvagens dos mais imaginativos.)

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            Alguns estudos sobre a relação de Poe com os seus retratos em daguerreótipo e a forma como isso afetou a sua imagem deixada para a posterioridade foram publicados. O mais longo e completo deles é a obra “The Portraits and Daguerreotypes of Edgar Allan Poe”, (1989) de Michael J. Deas, em que são mostrados diversos retratos do escritor, não só de daguerreótipos, mas também pinturas, incluindo obras de Edouard Manet, além de menções a retratos perdidos, mas conhecidos na literatura bibliográfica de Poe, cópias de daguerreótipos, retratos que foram confundidos com Poe devido à semelhança, além de retratos de Virginia Poe, a jovem esposa e prima do escritor.

A obra inclui diversas informações sobre cada retrato, pintado ou em fotografia feito por daguerreótipo, e inicia informando que há, de fato, apenas oito daguerreótipos originais de Poe, e dois retratos pintados durante a vida do autor, apesar de muitos outros terem sido produzidos postumamente. Caso você não faça questão de obter o livro físico, os textos e muitas das imagens estão disponíveis no site: https://www.eapoe.org/papers/misc1921/deas00ca.htm

Mais uma obra sobre os daguerrótipos de Poe

            Outra obra sobre o assunto é o livro “Facts about Poe: Portaits and Daguerreotypes of Edgar Allan Poe” (1926), de Amanda Pogue Schulte, em que são reunidos fatos biográficos do autor, seguidos de um estudo de suas feições com base em daguerreótipos e retratos, reunindo ainda comentários de bibliógrafos e depoimentos de contemporâneos do autor.

            No artigo “Poe, The Daguerreotype, and the Autobiographical Act” (2002), Kevin J. Hayes analisa a recepção de alguns dos principais daguerreótipos de Poe pelos pesquisadores e também traz informações sobre a percepção do próprio Poe sobre sua autoimagem e como o uso dos retratos por daguarreótipos afetaria a sua relação com o mercado literário. O artigo pode ser acessado por completo pelo link: https://www.jstor.org/stable/23540735

            Confira abaixo alguns dos mais famosos retratos de Poe tirados através do Daguerreótipo.

E aí, gostou da história de Edgar Allan Poe e o daguerreótipo?

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