Os 15 melhores poemas de Giórgos Seféris

Você conhece os melhores poemas de Giórgos Seféris? Então essa é uma grande oportunidade. Giórgos Seféris foi um escritor grego, um dos poetas mais importantes da “geração de 30”, que introduziu o Simbolismo na moderna literatura grega, filiado então à tradição intelectualista deste, a de Paul Valéry e Mallarmé. Recebeu o Nobel de Literatura de 1963 com sua poesia que também foi influenciada pelas obras de Konstantinos Kavafis, Ezra Pound e T. S. Eliot. Nascido Giórgos Seferiádis (Γιώργος Σεφεριάδης), abandonou a sua cidade natal em 1914, para viver em Atenas e mais tarde em Paris.

O NotaTerapia separou os melhores poemas de Giórgos Seféris. Confira:

VI

O jardim com suas fontes na chuva
verás somente da janela baixa
de trás da vidraça embaçada. Teu quarto
será iluminado apenas pela chama da lareira
e por vezes, nos relâmpagos distantes aparecerão
as rugas de tua fronte, meu velho Amigo.

O jardim com as fontes que eram em tua mão
o ritmo de outra vida, fora dos mármores
quebrados e das colunas trágicas
e uma dança em meio aos oleandros
próximo às novas pedreiras,
um vidro opaco o terá cortado de tuas horas.
Não respirarás; a terra e a seiva das árvores
rebentarão da tua memória para bater
nessa vidraça onde bate a chuva
do mundo lá fora.

VIII

Mas que procuram nossas almas viajando
sobre conveses de navios arrasados
espremidas com mulheres amarelas e bebês que choram
sem poder distrair-se nem com os peixes-voadores
nem com as estrelas que os mastros apontam.
Gastas pelos discos dos fonógrafos
amarradas involuntariamente a peregrinações inexistentes
murmurando pensamentos quebrados de línguas
estrangeiras.

Mas que procura nossas almas viajando
nesses cascos podres
de porto em porto?

Movendo pedras quebradas, respirando
com mais dificuldade a cada dia o frescor do pinheiro,
nadando nas águas desse mar
e daquele mar,
sem tato
sem homens
em uma pátria que não é mais nossa
nem vossa.

Sabíamos que eram belas as ilhas
em algum lugar aqui perto que tateamos

um pouco mais baixo ou um pouco mais alto
um ínfimo espaço.

X

Nossa terra é cerrada, só montanhas
quem tem o céu baixo como teto dia e noite.
Não temos rios não temos poços não temos fontes,
apenas poucas cisternas, também vazias, que ecoam e que
adoramos.
Som estagnado oco, idêntico a nossa solidão
idêntico ao nosso amor, idêntico aos nossos corpos.
Parece-nos estranho que outrora pudéssemos construir
nossas casas, cabanas e currais.
E nossas bodas, as frescas grinaldas e os anéis
tornam-se enigmas inexplicáveis para nossa alma.
Como nasceram, como criaram-se nossos filhos?

Nossa terra é cerrada, Encerram-na
as duas Simplégades negras. Nos portos
quando descemos para respirar ao Domingo
vemos iluminarem-se no pôr-do-sol
madeiras quebradas de viagens que não terminaram
corpos que não sabem mais como amar.

XXI

Nós que partimos para essa peregrinação
olhamos as estátuas quebradas
esquecemo-nos e falamos que a vida não se assim tão
fácil
que a morte tem caminhos inexplorados
e uma justiça própria,

que quando em pé nós morremos
dentro da pedra irmanados
unidos com a dureza e a fraqueza,
os velhos mortos fugiram do círculo e ressuscitaram
e sorriem em meio a uma estranha calma.

Comentários

Já escurecera na sacada

junto a nós uma urgência esvoaçava

nos dois corações, bem aninhada,

uma confissão correspondida.

Vã, murchou a voz. Enxame de erros

nossos lábios, e nas profundezas

do corpo, Deus, só estava acesa

nossa espera da benção pedida.

Dentro da casa os sonhos zumbiam

e da luz da tarde até o ímã

dos cabelos teus, tudo trazia

à memória o anjo inalcançável

de para com os anéis subitâneos

de chofre caídos, dos abanos

no pensamento que, o mesmo orando,

líamos, evangelho inefável.

Mulher que na minha alma te hospedas

tua surpresa é o que me resta

formosa mulher amada, nesta

tarde que absurdamente definha,

e os teus olhos de círculos negros

e a noite e seu calafrio ligeiro…

Quimera, espada do meu silêncio,

curva-te e entra outra vez na bainha.

De Esboços para um verão

A cada manhã me lembra a água morna

que não tenho junto a mim nada mais vivo.

De Solstício de verão

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VIII

Duro espelho o papel em branco

restitui apenas o que eras.

O papel em branco fala com a tua voz

a tua própria voz

não com a que te agrada;

tua música é a vida

que dissipaste.

Podes recuperá-la se quiseres

se te apegares ao que indiferente

te atira para trás

ao ponto de partida.

Viajaste, viste muitas luas muitos sóis

tocaste vivos e mortos

sentiste a dor do jovem

e o gemido da mulher

e o amargor do menino ainda imaturo —

o que sentiste rui sem fundamento

se não te confias ao vazio.

Talvez ali encontres o que julgavas já perdido:

o renovo da juventude, o justo sossobro da idade.

Tua vida é o que deste

esse vazio é o que deste

o papel em branco.


SÃO ASSIM OS TÚMULOS

São assim os túmulos. Cheios de flores, no princípio,
com a chama do pesar acesa por sobre a sua alvura.

E tudo quanto a vida inventa de consolo – as mãos caídas,
a cabeça baixa, a fonte dos lamentos –
acompanha as horas pétreas dos que jazem.

Depois, sob o sol indiferente, os passos vão-se embora
para que cada qual possa viver
a sua própria morte.

São assim os túmulos.
E das sombras da noite, com um sorriso mau,
eis que a velha aparece.
Juntando os dedos, ela apaga a chama
e recolhe as flores para seu amante.

EXISTE

Existe, pelos deuses cruéis predestinada,
uma dor universal,
e cada um de nós dela pega a sua parte,
quanto aguente levar.

Julgamos insensatos
os que, carregando pressurosamente nos ombros
mais do que podiam carregar,
aliviam assim a carga comum:
os heróis, os mártires, os criminosos.

Rogo-lhes que nos perdoem.
Recordamos.


1

Lança ao lago
Uma só gota de vinho.
O sol se ensombra.

3

Cadeiras vazias
As estátuas voltaram
Ao outro museu.

4

Será a voz
Dos amigos defuntos,
Ou a do gramofone?

7

Já de novo vestiu-se
A folhagem da árvore
E tu a balires.

9

Mulher nua
A romã que se partiu estava
Cheia de estrelas.

12

Pois que tem o leme?
A barca descreve círculos
E nem uma gaivota.

16

Escreves
Baixou a tinta
A maré sobe.

Fonte:
https://falasaoacaso.blogspot.com/2018/04/george-seferis-sete-haicais.html
http://hotblog7faces.blogspot.com/2017/01/dois-poemas-de-giorgos-seferis.html
http://www.antoniomiranda.com.br/poesiamundialportugues/giorgos_seferis.html
https://estadodaarte.estadao.com.br/em-traducao-tres-poemas-de-giorgos-seferis/

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