A terrível história de Soledad Barret Viedma, poeta paraguaia assassinada pela Ditadura Militar brasileira

Soledad Barret Viedma foi uma militante paraguaia integrante da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e lutou contra a ditadura militar no Brasil. Filha e neta de importantes militantes de esquerda, ela nasceu em 1º de janeiro de 1945 e durante toda a vida esteve envolvida em movimentos de esquerda. Aos 17 anos, foi sequestrada por um grupo neonazista que marcou seu corpo com uma suástica quando ela, judia, se negou a reverenciar Adolf Hitler.

Foi na militância que conheceu o brasileiro José Maria Ferreira de Araújo, com quem teve uma filha em Havana, Cuba. Quando o companheiro voltou ao Brasil para se juntar à luta contra a ditadura, foi assassinado. Soledad, então, veio ao país em busca de notícias sobre o companheiro, tendo então se envolvido com os movimentos de combate à ditadura brasileiros e decidiu ficar no país.

Soledad iniciou um relacionamento com um companheiro militante, mas este era um agente duplo que delatava os guerrilheiros à ditadura, de modo que Soledad foi traída e entregue aos militares em 8 de janeiro de 1973, quando estava grávida de 4 meses do homem que a entregou.

O episódio no qual Soledad foi torturada e assassinada ficou conhecido como Massacre da Chácara São Bento, uma das mais violentas chacinas ocorridas no regime militar.

O caso foi discutido na Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos, em 1996, ocasião na qual a advogada Mércia de Albuquerque Ferreira, que teve acesso aos corpos de Soledad e de outros militantes torturados e assassinados na chacina, relatou que o corpo da poeta e militante tinha 4 tiros na cabeça:

Soledad estava com os olhos muito abertos, com expressão grande de terror. A boca estava entreaberta, e o que mais me impressionou foi o sangue coagulado em grande quantidade. Eu tenho a impressão de que ela foi morta e ficou algum tempo deitada, e a trouxeram. O sangue. quando coagulou, ficou preso nas pernas; era uma quantidade muito grande. E feto estava lá, nos pés dela. Não posso saber como foi parar ali ou se foi ali mesmo, no necrotério, que ele caiu, que ele nasceu, naquele horror.

Mércia de Albuquerque Ferreira na CEMDP

O laudo da perícia registra marcas no pulso, provavelmente de algemas ou cordas. Ainda que os órgãos de segurança tivessem a identificação da militante, ela foi sepultada como indigente. Seus restos mortais não foram localizados ou identificados até o momento.

O último poema escrito por Soledad antes de ser assassinada foi endereçado a sua mãe:

Mãe, me entristece te ver assim
o olhar quebrado dos teus olhos azul céu
em silêncio implorando que eu não parta.
Mãe, não sofras se não volto
me encontrarás em cada moça do povo
deste povo, daquele, daquele outro
do mais próximo, do mais longínquo
talvez cruze os mares, as montanhas
os cárceres, os céus
mas, Mãe, eu te asseguro,
que, sim, me encontrarás!
no olhar de uma criança feliz
de um jovem que estuda
de um camponês em sua terra
de um operário em sua fábrica
do traidor na forca
do guerrilheiro em seu posto
sempre, sempre me encontrarás!
Mãe, não fiques triste,
tua filha te quer.
(Soledad Barret Viedma)

Para mais informações sobre Soledad e outros(as) assassinados(as) pela Ditadura Militar no Brasil, acesse o site Memórias da Ditadura.

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