A literatura de nossos hermanos é de uma imaginação sem limites. Talvez sejam eles, na América Latina, os responsáveis pelos maiores voos que a literatura faz em termos de histórias, narrativas e linguagens. Conhecer a literatura argentina, nesse sentido, é também conhecer um pouco de nossa relação com a literatura, assim como a nossa relação com o nosso papel em nossa latinidade, partindo de nossos co-irmãos geográficos, de alma, tendo passado pelos mesmos processos históricos de colonialismo e exploração para entender um pouco amis de nosso continente.
Para mergulhar um pouco na literatura argentina, para conhecê-la e conhecer a gente melhor, o NotaTerapia separou 10 obras essenciais de sua literatura. Essa lista foi publicada pelo professor Idelber Avelar, um grande estudioso do tema, em sua página no facebook.
Vamos a lista!
1- Facundo, Ou Civilização e Barbarie, de Domingos Faustino Sarmiento
Escrito em 1845 por Domingo Faustino Sarmiento (1811-1888), Facundo é a obra fundadora da literatura argentina por ser a primeira a romper com os padrões europeus e a criar um espaço autônomo para as letras latino-americanas. Misto de biografia, romance e ensaio político, este clássico traz a tona duas questões caras à formação nacional: civilização e barbárie, como anuncia o subtítulo.
Educador e jornalista – e mais tarde presidente da República –, Sarmiento escreveu Facundo durante seu exílio no Chile, acossado pela perseguição do caudilho Juan Manuel de Rosas, sucessor de Juan Facundo Quiroga. O autor parte da análise da peculiar natureza do pampa e das relações do homem com este meio para construir seu personagem.
2- O Matadouro, de Esteban Echeverría
A literatura argentina tem em “O matadouro” (“El matadero”, no original), de Esteban Echeverría (1805-1851), escrito entre 1838 e 1840, o que é considerado o primeiro texto literário argentino. A obra versa sobre o regime de Juan Manuel de Rosas, que governou a Argentina com mão de ferro por mais de duas décadas. Echeverría acreditava que o governo de Rosas era prejudicial ao progresso do país e ia contra os ideais de liberdade que marcaram a independência. Entre a loucura do matadouro de Buenos Aires, Echeverría nos apresenta a perda do indivíduo e da barbárie da multidão sob o regime de Rosas.
3- Amalia, de José Mármol
Amalia é um romance político do século XIX, escrito pelo autor argentino exilado José Mármol. Publicado pela primeira vez em série no semanário de Montevidéu, Amalia se tornou o romance nacional da Argentina. Sobre a obra, o professor Idelber comenta: “Ao contrário da narrativa romântica brasileira, Amalia, do exilado Marmol, não é um romance redondeado, certinho. É um enlouquecimento de 600 páginas que conta a história de dois casais de jovens liberais lutando contra o regime e tentando viver amores impossíveis. A estrutura é interessantíssima e mistura panfletos políticos, nomes reais, descrições científicas, panegíricos.”
4- O Gaúcho Martín Fierro, de José Hernández
Escritos em 1872 e 1879, os dois volumes que compõem o poema épico Martín Fierro são o culminar do gênero gaúcho e o maior expoente da literatura argentina no mundo. Na narração das aventuras do herói -o gaúcho Fierro, um dos personagens mais vitais, brutais e contraditórios da literatura nacional-, José Hernández revela a dura realidade que os homens do século XIX enfrentaram enviado à fronteira para lutar contra os índios e denuncia os abusos de poder de um Estado corrupto e arbitrário. «Martín Fierro enlaçou-se com o seu mundo a tal ponto que é o nosso; com nossa literatura anterior e posterior, nossa linguagem, nosso pensamento, nossa política, nossos valores e modos de viver e sentir e olhar para aquele mundo, que não sabemos mais se vêm do mundo ou do poema.”
5- Dom Segundo Sombra, de Ricardo Güiraldes
Ricardo Güiraldes nasceu em Buenos Aires em 1886 e morreu em Paris em 1927. Romancista, poeta e contista, dividiu sua vida entre a fazenda do pai no interior da Argentina e a vida mundana e intelectual de Paris. Fez parte da vanguarda literária Martín Fierro, e seu romance Dom Segundo Sombra é considerado um dos maiores clássicos da literatura Argentina e latino-americana. É uma verdadeira suma da vida dos homens do pampa. Estes homens silenciosos, temerários e com códigos especiais de honra e conduta, afeitos à solidão das vastidões planas, ao vazio infinito, ao horizonte sem curvas como o mar.
6- Ficções, de Jorge Luis Borges
Ficções reúne os contos publicados por Borges em 1941 sob o título de O jardim de veredas que se bifurcam (com exceção de “A aproximação a Almotásim”, incorporado a outra obra) e outras dez narrativas com o subtítulo de Artifícios. Nesses textos, o leitor se defronta com um narrador inquisitivo que expõe, com elegância e economia de meios, de forma paradoxal e lapidar, suas conjecturas e perplexidades sobre o universo, retomando motivos recorrentes em seus poemas e ensaios desde o início de sua carreira: o tempo, a eternidade, o infinito. Os enredos são como múltiplos labirintos e se desdobram num jogo infindável de espelhos, especulações e hipóteses, às vezes com a perícia de intrigas policiais e o gosto da aventura, para quase sempre desembocar na perplexidade metafísica.
7- Os Sete Loucos, de Roberto Arlt
Poucas vezes a literatura indagou, de forma tão radical, o fascínio que o crime exerce sobre os sujeitos como possibilidade de redenção social e existencial. Os sete loucos e Os lança-chamas, romances centrais da obra literária de Roberto Arlt, levam até as últimas consequências essa indagação. Uma galeria espectral de personagens, cujas vidas se afundam na penúria econômica, na miséria moral e nos porões do delito, desfila por estas páginas, que, implacáveis, evitam a denúncia social, a compaixão e o didatismo moralizante. O roubo, o assassinato, a delação, a prostituição, a fraude, a perversão do desejo oferecem-se como as únicas saídas vitais para essas personagens, que, em um compromisso brutal com a verdade, assumem o delito como condição de possibilidade da existência.
8- Museu do Romance da Eterna, de Macedônio Fernandes
Não é exagero dizer que a literatura argentina seria impensável sem Macedonio Fernández e seu Museu do Romance da Eterna. Para entendermos Borges, Cortázar e todos que fizeram desta uma das literaturas mais inventivas do século XX, o Museu é um livro incontornável. Se Macedonio nos ensina algo, é que o romance moderno se faz de retalhos, desvios, digressões. O inacabado aqui não é fruto de negligência, mas sim, como no Kafka de O castelo, a chave que abre a literatura à modernidade. Este caráter de manuscrito e obra inacabada inspirou o projeto gráfico da edição, com páginas não refiladas e texto por toda parte.
9- Bestiário, de Julio Cortázar
Publicado pela primeira vez em 1951, Bestiário é a primeira obra em que Julio Cortázar afirma se sentir “seguro do que queria dizer”. Apesar de ter alcançado renome mundial depois da publicação de seu romance O jogo da amarelinha, os contos são a coluna vertebral da vasta obra de Cortázar. As histórias que compõem este volume falam de objetos e acontecimentos cotidianos, passam para a dimensão do pesadelo ou da revelação de modo natural e imperceptível. Em cada conto, surpresa e inquietação são acrescentadas ao indescritível prazer de lê-los.
10- A Fúria e Outros Contos de Silvina Ocampo
Publicado em 1959, A fúria é considerado “o mais ocampiano” dos livros de Silvina, obra em que a autora encontra sua voz única e inaugura seu universo alucinado. “A fúria é uma das reuniões de contos mais intensas da literatura argentina. A primeira leitura deste livro pode suscitar mal-estares, mudanças de ânimo, deslumbramentos. Certas frases e uma ou outra palavra violenta desencadeiam a perplexidade e a inquietude física.”
Além desses livros, o professor Idelber deu mais 5 dicas de livros argentino. Acesse para saber quais são pelo link!
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