18 livros para adultos protagonizados por crianças

O site Goodreads, subordinado da Amazon, mantém uma lista de 93 livros – votados pelos próprios usuários do site – dos melhores livros cuja temática adulta não dispensou crianças e adolescentes de protagonizá-las. As histórias destacadas permeiam entre situações de extrema instabilidade psicológica, racismo, guerra e outras questões que, sob a ótica de um jovem, permitem o leitor experimentar outras interpretações. Os primeiros 19 títulos foram separados para vocês.

O sol é para todos, Harper Lee

O livro vencedor do Pulitzer ainda é discutido nas escolas americanas por exprimir questões raciais e estupro numa pequena cidade sulista do país nos anos 30. A protagonista Scout, de 10 anos, narra os episódios de discriminação sem deixar sua inocência de lado. Seu irmão, Jem, em contraste, demonstra menos relutância em deixar de ser criança e prefere seguir os exemplos do pai. Ao final do relato, ambos se mostram mais amadurecidos, porém, mantendo firmes os ideais que os fazem humanos, afinal.

 “Não, Jem, eu acho que só existe um tipo de gente: gente.”                         

A vida secreta das abelhas, Sue Monk Kidd

Na Carolina do Norte em 1964, a adolescente branca de 14 anos Lily Owens foge de casa após não suportar os maus-tratos do pai viúvo, que ainda a martiriza por ter causado a morte da própria mãe quando pequena. A figura materna para Lily, entretanto, sempre se mostrou presente na forma da empregada negra Rosaleen, que parte junto com ela. Ambas estão à procura de “Tiburon, SC” um lugar escrito na parte de trás de uma imagem da Virgem Maria como uma mulher negra que a mãe morta da menina possuía. Assim, conhecem três apicultoras que mudam as perspectivas de Lily sobre o poder de escolha que cada indivíduo tem.

“Eu só nunca ouvi falar de um advogado negro. Você precisa ouvir sobre essas coisas antes de imaginá-las.”

“Besteira. Você precisa imaginar o que nunca foi.”

Flavia de Luce e o mistério da torta, Alan Bradley

Flavia de Luce é filha caçula de um antigo militar que vive numa grande mansão no interior da Inglaterra em 1950. Com a ajuda de sua paixão pela química – e por venenos – gosta de planejar vinganças contra as irmãs mais velhas. Entretanto, no primeiro volume da série, o espírito investigativo da protagonista é aflorado quando se depara com situações bizarras, como um pedaço de torta que ninguém da casa comeu. Já imaginou um Sherlock Holmes de aparelho?

As aventuras de Pi, Yann Martel

Difícil imaginar que o vencedor do Man Booker Prize de 2002 foi rejeitado por cinco editoras antes de ser publicado pela Knopf Canadá. Piscine “Pi” Molitor Patel era muito jovem quando teve contato com outras religiões além do hinduísmo, próprio de seu lar. Os preceitos islâmicos e cristãos também construíram a fé de Pi. E justamente ela é testada em alto-mar, com um tigre e outros animais, fruto de um naufrágio em pleno Oceano Índico, que matou toda a sua família.

“Escolher a dúvida como uma filosofia de vida é semelhante a escolher a imobilidade como meio de transporte.”

Na segunda aventura da jovem química, outro mistério a ser desvendado: um querido marionetista é encontrado morto, pendurado por fios que conduzem eletricidade. Flavia, mesmo pensando em desistir, não abnega seu gênio ansioso por crimes e tenta investigar o caso. Apesar de situações tão diversas em cada volume, o autor afirma que todos os livros da série possuem o mesmo tema: o idealismo da juventude, o sentimento de ser não conseguir ser detido.

“Eu sou considerada extraordinariamente brilhante, e ainda assim meu cérebro está ocupado desenvolvendo maneiras novas e interessantes de levar meus inimigos a morte súbita, engasgada, contorcida e agonizante.”

Quarto, Emma Donoghue

O thriller conta a história de Jack, uma criança de 5 anos que nunca saiu de seu próprio quarto e divide o cômodo com sua mãe amorosa. De noite, enquanto Jack dorme em seu guarda-roupa, ela sempre recebe a visita do “velho” Nick. Certo dia, ambos decidem fugir do quarto a qual foram confinados – a mãe de Jack foi sequestrada por Nick quando mais nova, que a mantém em cativeiro desde então.

“Histórias são tipos diferentes de verdade.”

O senhor das moscas, William Golding

Trinta crianças, sobreviventes de um naufrágio, agora residem numa ilha e procuram condições para sobreviver. O que se dá, todavia, é a criação de dois grupos com lideranças diferentes que acabam guerreando entre si. O romance de William Golding ainda é fruto de teorias, que constatam o simbolismo de cada personagem. A ilha poderia servir como uma metáfora do Jardim do Éden, e os líderes de cada grupo, Jack e Ralph, representam o fascismo e a democracia, respectivamente.

“Eu devo ser o chefe, porque sou líder dos coristas. E consigo cantar em dó agudo.”

O caçador de pipas, Khaled Hosseini

Amir é de uma família rica do Afeganistão que mantém uma relação de amizade muito forte com Hassan, filho de um empregado de seu pai. Um dia, Amir vê seu amigo ser violentado por um adolescente da vizinhança e, ao guardar o episódio para si, abala a cumplicidade entre eles. Todo o romance conta a história de Amir e sua família, com as guerras civis e deposições políticas no país como plano de fundo.

“Só existe um pecado, e esse é o roubo. Quando você mente, rouba o direito de alguém de saber a verdade.”

O olhar de Milo, Virginia Macgregor

Por conta de uma doença hereditária que destrói as células da retina, Milo observa coisas com certa peculiaridade e que passam despercebidas. Quando sua avó vai para uma casa de repouso por demência, certas situações fazem Milo duvidar do tratamento ela recebe lá. A dificuldade, porém, é fazer sua família acreditar no que seus olhos veem.

Ender’s game – o jogo do exterminador, Orson Scott Card

Situado em um futuro onde a terra está em 2164, o mundo vive à espreita de uma nova guerra com os Formics, uma população de grandes insetos com comportamento similar ao das formigas. As crianças mais talentosas do mundo são selecionadas pela Esquadra Internacional para montar os planos de tática e defesa contra o iminente ataque, e, dentre elas, se sobressai o jovem Ender Wiggin.

“Talvez seja impossível vestir uma identidade sem se transformar no que finge ser.

O leitor, Bernhard Schlink 

Aos quinze anos, na Alemanha de 1958, Michael recebe o diagnóstico de escarlatina após vomitar na entrada de um prédio e ser socorrido por uma trocadora, Hanna, que morava no edifício. Três meses depois da recuperação, Michael decide conhecer a mulher que o ajudou e os dois acabam se envolvendo. O romance entre eles cessa quando Hanna é promovida na empresa onde trabalhava e desaparece. Anos depois, quando Michael cursa faculdade de Direito, encontra Hanna no banco dos réus. Ela era acusada, junto com outras mulheres, de ter deixado trezentas prisioneiras judias morrerem queimadas em uma igreja em chamas em 1944.

“Às vezes a memória de felicidade não pode continuar verdadeira porque terminou infeliz.”

O castelo de vidro, Jeanette Walls

Jeanette Walls utiliza dos mesmos artifícios autobiográficos que Harper Lee para escrever sobre sua infância não-convencional – e sem muitos filtros. Apesar da brilhante carreira como escritora e jornalista, a autora viveu como nômade junto de seus irmãos e seus pais irresponsáveis, que não gostavam de trabalhar. Ela detalha em prosa seus anos de infância e como o amor de sua família foi essencial.

“As coisas geralmente se resolvem no final.”

“E se elas não se resolverem?

“Isso significa que elas não terminaram ainda.”

A sombra do vento, Carlos Ruiz Záfon

Durante a Barcelona de 1945, um menino de 11 anos, Daniel Sempere, ganha um presente extraordinário de seu pai: ele o leva para conhecer o “cemitério dos livros esquecidos”, no coração da cidade. Na biblioteca enorme, ele encontra “A sombra do vento”, de um barcelonês desconhecido, e descobre que seus exemplares vêm sendo queimados. Para evitar que a obra do autor caia no esquecimento, o garoto se joga em uma aventura para salvar suas palavras.

“Livros são espelhos: você apenas vê neles o que já possui em si mesmo.”

Moça com brinco de pérola, Tracy Chevalier

O quadro do pintor Veermer e a pouca informação sobre ele serviram de inspiração para a autora se aprofundar na história fictícia de Griet, uma adolescente que começa a trabalhar na casa do artista. A moça, apesar de recatada e ingênua, demonstra um grande interesse pela arte, fortalecido ainda mais ao ter contato com os trabalhos de Veermer. A relação entre os dois, apesar de platônica e subjetiva, é vista com maus olhos por sua mulher e outros funcionários da casa, que nunca confiaram na jovem criada.

“Ele via as coisas de uma maneira que outros não viam, de modo que a cidade onde eu vivi por toda a minha vida parecia um lugar diferente, de modo que uma mulher se tornou bonita com a luz em seu rosto.”

Crônica na pedra, Ismail Kadaré

Com a chegada da Segunda Guerra Mundial aos Bálcãs, a cidade albanesa de Gjirokastra é assolada. O autor baseia-se nos acontecimentos da sua infância para escrever sobre a superstição de uma criança que tentava se enclausurar na fantasia, ao invés de aceitar a dura realidade da guerra. O romance trata da passagem entre infância e adolescência, sem abrir mão da comicidade.

“Se um animal precisa ser sacrificado quando uma ponte nova é construída, o que precisamos sacrificar para construir um mundo novo?”

“As coisas se separam facilmente quando são mantidas com mentiras.”

O diário de Anne Frank, Anne Frank

No maior relato sobre o holocausto e um dos principais livros do século XX, a jovem de 13 anos Anne Frank narra os acontecimentos na Europa durante a Segunda Guerra e a vida na Holanda como uma refugiada, mas sem dispensar as reflexões próprias de uma adolescente que não se conforma com a injustiça.

“A gente não faz ideia de como mudou até que a mudança já tenha acontecido.”

A menina que roubava livros, Markus Zusak

A trajetória de Liesel Meminger é contada por uma narradora mórbida, surpreendentemente simpática. Ao perceber que a pequena ladra de livros lhe escapa, a Morte afeiçoa-se à menina e rastreia suas pegadas de 1939 a 1943. Traços de uma sobrevivente: a mãe comunista, perseguida pelo nazismo, envia Liesel e o irmão para o subúrbio pobre de uma cidade alemã, onde um casal se dispõe a adotá-los por dinheiro. O garoto morre no trajeto e é enterrado por um coveiro que deixa cair um livro na neve. É o primeiro de uma série que a menina vai surrupiar ao longo dos anos. O único vínculo com a família é esta obra, que ela ainda não sabe ler.

Assombrada por pesadelos, ela compensa o medo e a solidão das noites com a conivência do pai adotivo, um pintor de parede bonachão que lhe dá lições de leitura. Alfabetizada sob vistas grossas da madrasta, Liesel canaliza urgências para a literatura. Em tempos de livros incendiados, ela os furta, ou os lê na biblioteca do prefeito da cidade.

Uma ideia bonita:
Uma, roubava livros.
O outro, roubava o céu.

O menino do pijama listrado, John Boyne

Alemanha, Segunda Guerra Mundial. O menino Bruno, de 8 anos, é filho de um oficial nazista ,que assume um cargo importante em um campo de concentração. Sem saber realmente o que seu pai faz, ele deixa Berlim e se muda com ele e a mãe para uma área isolada, onde não há muito o que fazer para uma criança com a idade dele. Os problemas começam quando ele decide explorar o local e acaba conhecendo Shmuel, um garoto de idade parecida, que vive usando um pijama listrado e está sempre do outro lado de uma cerca eletrificada. A amizade cresce entre os dois e Bruno passa, cada vez mais, a visitá-lo, tornando essa relação mais perigosa do que eles imaginam.

Qual foi exatamente a diferença? Ele se perguntou. E quem decidiu que pessoas usavam o pijama listrado e quais pessoas usavam os uniformes? Qual foi exatamente a diferença? Ele se perguntou. E quem decidiu que pessoas usavam o pijama listrado e quais pessoas usavam os uniformes?

Mulherzinhas, Louisa May Alcott

Mulherzinhas é considerado um dos livros mais influentes de todos os tempos. Ultrapassando a barreira das idades, esse romance é lido com a mesma paixão por adultos e jovens. A história das irmãs March se tornou um clássico feminista que reflete sobre a tensão entre obrigação social e liberdade pessoal e artística para as mulheres. Cada leitor terá sua irmã favorita: a independente Jo, a delicada Beth, a bela Meg ou a artista Amy. Essas quatro mulheres e sua mãe, Marmee, enfrentam com diligência e honra as privações da Guerra Civil americana, e se tornaram um sucesso instantâneo já em 1868.

A sua vida era uma série de altos e baixos, de coisas cômicas e fatos patéticos.

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