A Terceira Margem do Rio é, sem dúvida, um dos contos mais instigantes de Guimarães Rosa. Parte integrante do livro Pequenas Histórias (1962), ele conta a história de um rapaz que tenta entender a decisão do pai de construir uma canoa e passar a viver ali dentro, embarcado, dentro do rio, sem se decidir a voltar pra terra nem ganhar mundo pelo rio. Esta decisão, vista como uma espécie de “terceira margem” do pensamento, desfaz uma ideia comum de fronteira entre pai e filho, loucura e sanidade, tempo e espaço. Além disso, Guimarães Rosa propõe uma espécie de “terceira margem” da língua com sua escrita, um gesto, sem dúvida, político entre o moderno e o regionalismo.
O NotaTerapia separou as 8 melhores frases da obra:
o rio por aí se estendendo grande, fundo, calado que sempre. Largo, de não se poder ver a forma da outra beira.
Cê vai, ocê fique, você nunca volte!
Nosso pai não voltou. Ele não tinha ido a nenhuma parte. Só executava a invenção de se permanecer naqueles espaços do rio, e meio a meio, sempre entro da canoa, para ela não saltar, nunca mais.
De dia e e noite, com sol ou aguaceiros, calor, sereno, e nas friagens terríveis o meio-do-ano, sem arrumo, só com o chapéu velho na cabeça, por toas as semanas e meses, e os anos-sem fazer conta o se-ir o viver.
Nós também não falávamos mais nele. Só se pensava.
Eu permaneci com as bagagens da vida.
Sou homem de tristes palavras.
Sou o que não foi, o que vai ficar calado. Sei que agora é tarde, e temo abreviar com a vida, nos rasos do mundo.
Imagem de capa por Gustavo Lacerda