As 16 melhores frases de A Peste, de Albert Camus

Algumas obras parecem preparar a sociedade para tragédias que estão a ponto de acontecer. outras parecem refletir anacronicamente momentos quem, em um futuro, jamais poderíamos ter imaginado viria a ser verdade. Outras, até, contam-nos o passado tentando ver nele o que há de futuro para que possamos evita-lo de que se repita. E há, obviamente, obras que fazem tudo isso. Este é o caso de A Peste, de Albert Camus que, nos últimos tempos, virou uma espécie de oráculo de momentos que viríamos a passar, ao mesmo tempo em que um relato de tempos que já passamos por diversas vezes na história.

A Peste conta a história da cidade de Oran na Argélia, em que subitamente ratos começam a aparecer mortos nas ruas da cidade. Em poucos dias, milhares de ratos passam a ser recolhidos pelas autoridades públicas. Isto, que em um primeiro momento não causa alarde, começa a chamar atenção quando, subitamente, pessoas começam a adoecer e rapidamente morrer. Eis a peste que causa febres terríveis, inchaços nos gânglios e dores fortíssimas que leva o paciente a uma noite de agonias diante de sua súbita morte. Assim, o médico Rieux e uma série de pessoas sitiadas na cidade, passam a ter que viver, conviver e combater a peste, como se ela fosse parte de um cotidiano qualquer ou de um destino traçado previamente. Trata-se mais de uma obra política, que observa como as cidades, o capital, e todas as regras sociais e morais caem por terra quando sua estabilidade é ameaçada. Uma obra prima que deve ser lida por todos!

O NotaTerapia separou as melhores frases da obra. Confira:

Agora sei que o homem é capaz de grandes ações. Mas se não for capaz de um grande sentimento não me interessa.

Está vendo? Você é capaz de morrer por uma ideia, é visível a olho nu. Pois bem, estou farto das pessoas que morrem por uma ideia. Não acredito em heroísmo. Sei que é fácil e aprendi que é criminoso. O que me interessa é que se viva e que se morra pelo que se ama.

“Há sempre alguém mais prisioneiro que eu”, era a frase que resumia então a única esperança possível.

Teriam nossos concidadãos, pelo menos os que mais haviam sofrido com essa separação, se habituado à situação? Não seria inteiramente justa essa afirmação. Seria mais exato afirmar que, tanto moral quanto fisicamente, sofriam a com a desencarnação. No começo da peste, lembravam-se nitidamente do ente que haviam perdido e sentiam saudade. Mas, se se lembravam nitidamente do rosto amado, do seu riso, de determinado dia que agora reconheciam ter sido feliz, tinham dificuldade de imaginar o que o outro podia estar fazendo no próprio momento em que o evocavam e em lugares de agora em diante tão longínquos. Em suma, nesse momento, tinham memória, mas uma imaginação insuficiente. Na segunda fase da peste, perderam também a memória. Não que tivessem esquecido esse rosto, mas, o que vem a dar no mesmo, ele perdera a carne, já não o sentiam no interior de si próprios.

Ao fim desse longo tempo de separação já não imaginavam esta intimidade que fora sua, nem como havia podido viver perto deles um ser em que podiam a todo momento pousar a mão.

Nada é menos espetacular que um flagelo e, pela sua própria duração, as grandes desgraças são monótonas.

Pela primeira vez, os separados não tinham repugnância em falar dos ausentes, em usar a linguagem de todos, em examinar sua separação sob o mesmo enfoque que as estatísticas da epidemia. Enquanto, até então, tinham subtraído ferozmente seu sofrimento à desgraça coletiva, aceitavam agora a confusão. sem memórias e sem esperança, instalavam-se no presente. Na verdade, tudo se tornava presente pra eles. A peste, é preciso que se diga, tirara a todos o poder do amor e até mesmo da amizade. Porque o amor exige um pouco de futuro e para nós só havia instantes.

Mas quando só se dorme quatro horas não se é sentimental. Vêem-se as coisas como elas são, isto é, vêem-se segundo a justiça, a horrenda e irrisória justiça.

Rieux endireitou-se e disse, com uma voz firme, que aquilo era tolice e que não era vergonha preferir a felicidade.
Sim – disse Rambert -, mas pode haver vergonha em ser feliz sozinho.

Vê-se que ninguém é capaz de pensar em ninguém, ainda que seja na pior das desgraças. Porque pensar realmente em alguém é pensar de minuto em minuto, sem se deixar distrair pelo que quer que seja: nem os cuidados da casa, nem a mosca que voa, nem as refeições, nem uma coceira. Mas há sempre moscas e coceiras. É por isso que a vida é difícil de viver. E eles sabem muito bem.

O que é natural é o micróbio. O resto – a saúde, a integridade, a pureza, se quiser – é um efeito da vontade, de uma vontade que não deve jamais se deter. O homem direito, aquele que não infecta quase ninguém, é aquele que tem o menor número de distrações possível. E como é preciso ter vontade e tensão para nunca se ficar distraído!

Por isso, digo que há flagelos e vítimas, e nada mais. Se, ao dizer isso, me torno eu próprio um flagelo, não é por minha vontade. Procuro ser um assassino inocente. Como se vê, não é uma grande ambição.

Em resumo – disse Tarrou com simplicidade -, o que me interessa é saber como alguém pode tornar-se santo.
– Mas você não acredita em Deus.
– Justamente. Poder ser santo sem Deus é o único problema concreto que tenho hoje.

Sabiam agora que, se há qualquer coisa que se pode desejar sempre e obter algumas vezes, essa qualquer coisa é a ternura humana.

Respondia que havia sempre uma hora do dia e da noite em que o homem era covarde e que ele só tinha medo dessa hora.

Ele sabia o que a mãe pensava e que nesse momento ela o amava. Mas sabia também que não é grande coisa amar um ser, ou que, pelo menos, um amor não é nunca bastante forte para encontrar sua própria expressão. Assim, sua mãe e ele sempre se amariam em silêncio. E ela morreria por sua vez – ou ele – sem que, durante toda a vida, tivessem conseguido ir mais longe na confissão de sua ternura.

Edição: Círculo do Livro

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