Os 16 melhores poemas de Tudo nela brilha e queima, de Ryane Leão

Ryane Leão é professora e poeta cuiabana. Mora em São Paulo e escreve desde muito jovem. Há mais de dez anos, começou a publicar em blogs e sites e, posteriormente, passou a escrever no Facebook e no Instagram com o projeto Onde jazz meu coração, além disso, participou de vários saraus e slams. Atuou também com arte de rua, publicando seus escritos em lambe-lambe. Em 2017, pela editora Planeta, publicou seu primeiro livro denominado Tudo nela brilha e queima: poemas de luta e amor. Os poemas, geralmente, curtos e autobiográficos evidenciam detalhes de sua trajetória, assim como a superação, a resistência e o empoderamento feminino. O livro, que superou 40 mil exemplares, ficou entre os mais vendidos no Brasil e em diversos outros países. Para a revista Trip, a poeta expressa “acho importante falar que existe uma mulher negra e lésbica que é best-seller”. Em novembro de 2019, pela mesma editora, lançou seu segundo livro Jamais peço desculpas por me derramar.

Confira os melhores poemas selecionados do livro Tudo nela brilha e queima:

eu sou um monte de
constelações
brilhando e ardendo
mas nem todo mundo
sabe ver

ou só vê a parte que arde
ou só vê a parte que brilha

quantas vezes minha mãe sentou na beira da cama
e me ajudou a retirar os cacos de vidro dos pés
e disse que poucos mereceriam o meu amor
que o mundo me machucaria porque eu tinha nascido
com coração demais
que eu tinha que parar de ser tão boa
ou não me sobraria nada
além dos cacos
que ela arrancava
com cuidado e paciência
plantando flores
no lugar

quem soube de mim em outros tempos
já não sabe de mim agora
pois quando me quebraram
meus pedaços foram arrumando novos lugares
mais lindos e mais fortes
pra se encaixar nessa mulher que hoje escreve
com punhos firmes e nenhuma culpa
de existir como bem quer

você me causa
o impacto de um bom poema

abre meu peito
de um lado a outro
e me faz imensa

ela parecia
aqueles
fogos de artifício
tudo nela brilhava
e queimava
antes de apagar
e virar poeira

Veja também:

não é para mim esse negócio
de ser imutável
eu quero é transitar
entre meus descaminhos
me transformar
reconhecer meus instintos
tô me desconstruindo

eu sou um universo
se expandindo

a única vez que perguntei
para minha mãe se ela nunca mais se apaixonou
ela falou que o único homem em que ela confiou
a deixou em pedaços
nesse dia, uma frase me fez entender
certas feridas que meu pai causou
sangram até hoje
e me perguntei quantos iguais a ele
continuam desmoronando mulheres
por anos a fio

da importância de encarar a si mesma

escolha seus melhores discos
e tire suas piores dores
pra dançar

olhe todas as que vieram
antes de nós
não há segredo
a potência de ser mulher
atravessa suas veias
somos fortalezas

não esqueça
o motivo
de nenhuma de suas
partidas.

31 de dezembro
te liguei um minuto antes da meia-noite
os fogos estavam mais altos que nós
e ficamos ao telefone
sem dizer nada
algumas despedidas
são de uma quietude
estrondosa

mulher de luta

o beijo dela
tinha gosto
de liberdade

mulher,
padrões só existem
pra gente quebrar.

irônico e incômodo
conviver com as sobras de alguém
que só te ofereceu sobras

não foi dessa vez
ele pretendia confinar
ela pretendia viver.

quanto a mim
serei poesia
até o fim

Fonte:
Revista Trip

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