O Assassinato no Expresso do Oriente
Agatha Christie
HarperCollins Brasil, 200 páginas, capa dura
O Assassinato no Expresso do Oriente, da autora britânica Agatha Christie, é uma de suas obras mais conhecidas e aclamadas no gênero policial. A experiência de ler essa história é a de poder ser Hercule Poirot por alguns dias e desvendar um crime juntamente à narrativa veloz e instigante, tão fluida quanto um trem que corta a Europa.
A história se passa toda no interior do trem Expresso do Oriente, no qual o americano Ratchett é assassinado e encontrado com golpes de faca em sua cabine, ao lado daquela em que o detetive belga Hercule Poirot dormia. Vendo-se diante da possibilidade de o assassino ainda estar no trem, parado por conta de uma nevasca, Poirot se engaja com o caso, pressiona cada uma das pessoas no trem em depoimentos fascinantes.
Agatha Christie trabalha, em primeiro lugar, com os estereótipos do próprio gênero policial. Há um caso, pistas verdadeiras e falsas, em meio a tipos humanos variados. Essa heterogeneidade de etnias, entre cada um dos suspeitos do trem, é a oportunidade para enganar o leitor: baseando-se nos equívocos em se esperar que mulheres fossem fracas demais fisicamente para cometer crimes; italianos e latinos como as primeiras suspeitas baseadas em xenofobia; ricos como incapazes de sujar as mãos; e as análises superficiais psicológicas que muito se compra na literatura, nesse livro Agatha consegue tornar tudo isso uma razão cômica, dialogando com as teorias que os próprios leitores podem vir a ter. Com personagens pertencendo a diferentes regiões e classes sociais, o que temos é um prato cheio para suspeitas.
Hercule Poirot é quem comanda o romance e logo ganha a simpatia do leitor. Com bigodes grandes demais – os quais ele tem a dificuldade de manter limpos ao tomar sua sopa -, o detetive tem ar gentil e cômico, que combina com o absurdo da situação que investiga. A atmosfera é agradável, com a beleza das roupas elegantes dos anos 30 e o romantismo de trens que cortam o frio europeu.
Além disso, a estrutura do romance é simples, mas muito rica. A autora sabe como recuar diante de suspeitas a alguns personagens, como lançar luz em novos suspeitos, confundindo o leitor que busca acompanhar o caso como um detetive. Nós nos vemos com páginas de anotações e teorias criadas, ansiosos para chegar finalmente ao desfecho. Tive a oportunidade de ler esse livro em grupo, ideal para isso, pois as teorias se expandem, e a dúvida sobre as várias opções de resposta para o crime se intensifica.
O Assassinato no Expresso do Oriente é uma leitura que entusiasma por ser instigante. A grande quantidade de diálogos e as transições bem feitas de um personagem ao outro lembra a estrutura de uma peça teatral, e é essa mesma a inspiração para a obra e para o crime. Em geral, o trem é um grande palco onde cada personagem expõe o seu papel social e Poirot é o dramaturgo que os testa. O leitor é, ao fim, a plateia surpresa com o desfecho e aquele que aplaude a sagacidade do simpático detetive de bigodes ao fechar o livro.
O filme O assassinato no Expresso do Oriente, de 2017, estreia dia 30 de novembro. Dirigido por Kennenth Branagh, e responsável por Poirot na adaptação, o filme conta com um elenco grandioso: Judi Dench, Olivia Colman, Penélope Cruz, Josh Gad, Daisey Ridley, Derek Jacobi, Johnny Depp, entre outros. A versão clássica, de 1974, foi dirigida por Sidney Lumet, com Sean Connery, Ingrid Bergman, Albert Finney, Lauren Bacall.
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