5 trechos imperdíveis de Solaris, de Stanislaw Lem

Stanisław Lem, pisarz, Krakow 1997

“Construímos muros demais e pontes de menos.”
― Isaac Newton

 

Solaris, de Stanislaw Lem, conta  a história de Kris Kelvin, um psicólogo e cientista que chega ao planeta Solaris. O que as pesquisas revelam sobre o planeta até então, tem sido tema de diversos debates e polêmicas: ele seria formado por uma estranha forma de vida formada pelo mar, seus movimentos e erupções e, segundo consta, apresentariam uma forma de inteligência. Kelvin, assim que chega ao planeta, descobre que um dos habitantes da célula da terra no planeta havia morrido e que os demais sobreviventes demonstravam possuir hábitos estranhos. Até que, de repente, Kelvin começa a perceber a presença de mais seres do que os amigos terráqueos, descobrindo que o planeta Solaris possui uma inteligência muito diferente da que imaginamos e podemos conceber.

O NotaTerapia separou os 4 melhores trechos da obra:

No final das contas, você já teve experiência o bastante para pelo menos me escutar até o fim. Nós partimos para o cosmos preparados para tudo, quer dizer, para a solidão, para a luta, para o martírio e para a morte. Por modéstia, não expressamos isso em voz alta, mas às vezes pensamos que somos maravilhosos. Entretanto…entretanto, não é que queiramos conquistar o cosmos, mas ampliar a Terra até o limite dele. Alguns planetas devem ser desertos como o Saara, outros, gelados como polo, ou tropicais como a selva brasileira. Somos humanitários e nobres, não queremos subjugar outras raças, queremos apenas transmitir a eles nossos valores e, em troca, assumir seu patrimônio. Nós não consideramos os cavaleiros do Santo Contato. Essa é uma segunda mentira. Não buscamos nada além de pessoas. Não precisamos de nenhum outro mundo. Precisamos de espelhos. Não sabemos o que fazer com os outros mundos. Para nós basta este mundo, e ele ainda nos deixa boquiabertos. Queremos encontrar a nossa própria imagem idealizada; deve haver corpos celestes com civilizações mais aperfeiçoadas do que a nossa; em outros, esperamos novamente encontrar o reflexo de nosso primitivo passado. Entretanto, do outro lado, existe algo que não aceitamos e do qual nos defendemos, pois, afinal, nós não trouxemos da Terra apenas um destilado das virtudes, uma estátua heroica do Ser Humano! Viemos para cá tais como somos de verdade, e quando o outro lado não mostra essa verdade, essa parte que dissimulamos, não podemos nos conformar com isso!

Nós…nós somos banais, somos o capim do universo e nos orgulhamos desse nosso ordinarismo que é tão generalizado, e pensamos que tudo se pode acomodar nele. Esse era o esquema com o qual partíamos com coragem e alegria para a imensidão: os outros mundos” E então, o que são eles, esses outros mundos? Ou iremos dominá-los ou seremos dominados por eles, nada mais existe nesses cérebros nefastos, ah, não vale a pena. Não vale.

Quem construiu os relógios, mas não o tempo que eles medem, construiu sistemas ou mecanismos que servem para determinados fins, mas eles superaram esses fins e os traíram. E criou o infinito, que deveria ter sido a medida de sua potência, mas se transformou na medida de seu desmesurado fracasso.

O homem saiu para encontrar outros mundos, outras civilizações, sem saber nada sobre seus próprios recessos, ruas sem saída, poços e portas bloqueadas e escuras.

Não se trata do ser humano. Pode ser que certas características correspondam a essa definição provisória, mas apenas porque está repleta de lacunas. O ser humano, apesar das aparências, não cria para si seus propósitos. Eles lhe são impostos pelo seu tempo, o tempo em que ele nasceu, e ele pode servir-lhes o se rebelar contra eles, mas o objeto do serviço ou da rebeldia é dado de fora. Para experimentar a liberdade total da busca de seus propósitos, ele deveria estar só, e isso é impossível de acontecer, pois um ser humano que não é criado entre seres humanos não pode se tornar  um humano. Esse…que imagino tem que estar desprovido de pluralidade, entende?

Edição: Editora Aleph, 2017

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