10 melhores citações de O Natimorto, de Lourenço Mutarelli

Você já leu um livro que te capturou de tal maneira que a ideia de parar de lê-lo era absolutamente improvável? O Natimorto, de Lourenço Mutarelli, é um desses. É um livro para ler de uma só vez, porque é simplesmente impossível deixá-lo de lado.

O livro conta a história de um homem que vê, nas imagens de trás dos maços de cigarro, uma espécie de tarô que pode falar sobre a vida e o futuro. Este homem – O Agente – se encontra com A Voz, uma cantora (que não emite som quando canta) que ele irá agenciar. Eles vivem uma história de amor. E aquilo que, nas histórias de amor comuns, pode ser tudo o que mais desejamos – estar o tempo todo com o outro, alheio do resto do mundo – é, nesta peculiar narrativa, tudo o que há de mais pavoroso.

Grande parte do livro é escrita em forma de diálogos, mas entre estas falas há narrações, feitas pelo O Agente, a respeito daquilo que acontece. Selecionamos, abaixo, 10 das melhores frases destas narrativas. Confira:

Entro na estação.
Estação rodoviária.
Estou ansioso.
Corro ao guichê.
Não ao que vende bilhetes,
ao que vende cigarros.
Um maço de Cowboys Light, por favor.
Analiso a frente do maço.
Com receio, viro.
Estampado,
o Natimorto.

 

Então, seu semblante se fecha em plena concentração.
E sua boca começa a se mover.
E seu rosto se transfigura a cada instante.
Para alguém menos refinado,
a impressão pode ser de que ela só esteja ali, de pé,
movendo sua boca a esmo, ao acaso.
Mas isso é para os seres de uma natureza muito bruta.
Isso apenas para os insensíveis, ou para os ignorantes.
Essa impressão cabe apenas àqueles “realmente” menos sofisticados que não percebem que não podemos ouvir um único som emitido de sua suave boca por se tratar de um som que, de tão puro, de tão cristalino, faz-se inaudível aos mortais.
Quanto a mim, me derramo em lágrimas.
E sinto todo o meu corpo arrepiar-se diante de um momento quase sacro.
Transcendente.

 

Ela riu.
E continuou rindo.
E seu riso me contaminou.
E eu ri também.
Transformamos nosso desconforto em uma gargalhada incontida.
Cúmplices.
Eu queria abraçá-la.
Porque eu me sinto tão sozinho.
Tão sozinho, que às vezes dói.

 

As palavras não saem de minha boca.
Eu as encontro,
as dirijo até ela
mas minha boca
as engole.

 

Não quero ligar a TV.
Não quero ler os jornais.
O tempo não passa.
Ela não volta.
Estou ansioso.
Eu não gosto de ficar sozinho.
Eu tenho medo de mim.

 

Quem quebrará o silêncio?
Ninguém quebra o silêncio.
Nós apenas o cobrimos com palavras.
Com ruídos e palavras.

 

Espero
que ela perceba
que mesmo quando saímos
não vamos
a parte alguma.
Estamos sempre
no mesmo lugar.
Permaneço.
Presente.
O presente,
tudo que nos resta.

 

Aguardamos
a materialização
para podermos destruir
tudo o que construímos
à nossa volta.
Essa é nossa natureza:
somos destruidores.
Somos o câncer
do mundo.
Venceremos
quando nada
restar.

 

Quanto mais eu me protejo,
mais eu me firo.
Quanto maior a doçura,
mais forte é o enjôo.

 

É noite
quando acordo,
suponho.
Nunca abro as cortinas.
Nada sei
sobre o mundo
lá fora.
Surpreendo-me
com meu obscuro
mundo
interior.
Desejo
de morte.

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1 comentário

"O Livro dos Mortos": Mutarelli e Hamlet ou o fantasmas também escrevem - NotaTerapia 19 de março de 2023 - 18:59
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