“Restinga de Canudos”: Cia. do Tijolo revela a força de uma comunidade que inspira o presente

O novo espetáculo da Cia. do Tijolo, “Restinga de Canudos”, reconstrói em cena, a vida na Vila de Canudos para além do massacre registrado por Euclides da Cunha, em “Os Sertões”. Com direção de Dinho Lima Flor, que também assina a criação e dramaturgia junto de Rodrigo Mercadante, a peça dá protagonismo à comunidade anônima que ergueu o povoado no sertão baiano, antes de ser arrastada para a guerra sob a liderança de Antônio Conselheiro. Em cartaz até 27 de abril, a temporada do espetáculo também contará com uma programação de ações formativas voltadas para a ampliação do debate sobre Canudos e sua atualidade históricas.

Crédito: Alécio Cézar

RESTINGA DE CANUDOS

O espetáculo desvela Canudos pelo olhar de duas professoras antes do conflito, revelando a dinâmica cotidiana dos sertanejos, poetas populares, beatos, indígenas e ex-escravizados que estiveram na gênese, não só de um povoado, mas de um mito histórico — já muito explorado pela cultura brasileira. 

“Qual a contribuição que nós, da Cia. do Tijolo, pretendemos dar ao tema? Em primeiro lugar, contar a partir da construção da Vila e não de seu massacre”, afirma o co-criador, diretor e ator Dinho Lima Flor, que explica: “Não queremos que o crime perpetrado pela recém-nascida república brasileira ofusque o lado vencedor da comunidade criada por Conselheiro e a comunidade de Canudos”.

Segundo Dinho, o espetáculo mergulha nas águas do Açude de Cocorobó, onde submerge o sítio histórico de Belo Monte e o povoado de Canudos. “Se conseguirmos despertar a curiosidade do espectador e, no melhor dos cenários, o amor do público pela força de Belo Monte, teremos cumprido nosso intento”. 

“Restinga de Canudos” dá continuidade à pesquisa da Cia. do Tijolo sobre educação popular e arte como ferramentas de transformação social. Inspirada na ética freireana, a Companhia reafirma a importância dos professores na formação da consciência crítica. No palco, essa presença se manifesta por meio da figura da professora de história, que conduz a plateia na costura entre passado e presente.

Como parte da programação do espetáculo, a companhia também irá promover o programa formativo “Canudos: Além da Cena”, que visa ampliar as reflexões sobre a memória e os desdobramentos históricos da Guerra de Canudos. A programação inclui encontros musicais abertos ao público, conduzidos pelo Núcleo Musical da Cia., nos quais serão trabalhadas as sonoridades e o repertório do espetáculo.

Além disso, o bate-papo “Conversa a Contrapelo” contará com a participação da professora e pesquisadora Silvia Adoue (Unesp e Florestan Fernandes) e do diretor e ator Cleiton Pereira (Grupo Contadores de Mentira), que discutirão as conexões entre Canudos e as lutas sociais contemporâneas. 

Crédito: Alécio Cézar

SINOPSE

“Restinga de Canudos” enxerga as ruínas de Canudos, cidade submersa, e mergulha nas águas do açude de Cocorobó em busca das histórias de suas gentes. Para além da visão de Euclides da Cunha e da narrativa do massacre, o espetáculo recria, a partir dos olhos de duas professoras, uma comunidade viva, forte, próspera e vitoriosa na invenção de formas próprias de existência. “Restinga de Canudos” traz professoras, beatos fazendo reza, guerra e festa numa Canudos recriada para o tempo presente.

Crédito: Alécio Cézar

FICHA TÉCNICA

Criação e dramaturgia: Dinho Lima Flor e Rodrigo Mercadante

Direção geral: Dinho Lima Flor

Elenco: Dinho Lima Flor, Rodrigo Mercadante, Karen Menatti, Odília Nunes, Artur Mattar, Jaque da Silva, Danilo Nonato, João Bertolai, Marcos Coin, Dicinho Areias, Jonathan Silva, Juh Vieira

Atriz colaboradora: Vanessa Petroncari

Movimento e corpo: Viviane Ferreira

Composições originais: Jonathan Silva

Direção musical: Cia. do Tijolo e William Guedes

Desenhos: Artur Mattar

Crédito: Alécio Cézar

AÇÕES FORMATIVAS

“Canudos: Além da Cena”

Núcleo de Formação e Criação Musical da Cia. do Tijolo

Terças, quartas e quintas, de 08 a 17 de abril, das 19h às 21h

A Cia. do Tijolo realiza encontros musicais gratuitos e abertos ao público, de seu Núcleo Musical desde 2017. Essa experiência formativa perene tem sido realizada paralelamente aos processos de montagem dos espetáculos da Cia. A oficina visa ampliar o alcance das discussões sobre o tema, uma vez que ao longo dos encontros serão trabalhadas as sonoridades e o repertório musical do espetáculo “Restinga de Canudos”, além de dar continuidade às práticas formativas da Cia. Canudos é, acima de tudo, uma experiência comunitária e a experiência de cantar em coro expressa, no plano simbólico e sensorial, de forma exemplar a experiência do “comum”. Repertório: Serão trabalhadas canções relacionadas ao processo de criação do espetáculo.

Local: Sala Espetáculos II – Sesc Belenzinho

Atividade gratuita (senhas distribuídas 30 minutos antes de cada encontro)

Conversa a Contrapelo (Bate-Papo)

Segunda-feira, 21 de abril, das 14h às 16h 

Na história do teatro brasileiro, muitos grupos já se debruçaram sobre o tema da construção de Belo Monte e do massacre de Canudos. Não é à toa. Há temas que precisam ser elaborados, reelaborados e, mesmo assim, não cessam de gritar e querer falar. Para enriquecer a recepção da obra e ampliar o debate para além da cena, a Cia. do Tijolo convida o público para um bate-papo com Silvia Adoue e Cleiton Pereira, estudiosos do assunto, com mediação de Rodrigo Mercadante.

Convidados:

Silvia Adoue – Professora da Unesp e da Escola Nacional Florestan Fernandes do MST, pesquisadora dos movimentos populares e da auto-organização das comunidades.

Cleiton Pereira – Diretor e ator, fundador do grupo Contadores de Mentira, pesquisador da Antropologia Teatral e do massacre de Canudos.

Mediação: Rodrigo Mercadante (Cia. do Tijolo)

Local: Sala Espetáculos II – Sesc Belenzinho

Atividade gratuita (senhas distribuídas 30 minutos antes do evento)

SOBRE A CIA. DO TIJOLO

Desde 2008, a Cia. do Tijolo construiu um repertório que une teatro, música e poesia para revisitar figuras e episódios da história brasileira. O grupo já recebeu o Prêmio Shell de Música e o Prêmio da Cooperativa Paulista de Teatro por “Concerto de Ispinho e Fulô” (2010) e “Cantata Para um Bastidor de Utopias” (2014), que também venceu o Prêmio Shell de Melhor Cenário e foi indicado ao Prêmio Governador do Estado. O “Avesso do Claustro” (2016) também concorreu ao Prêmio Governador do Estado, consolidando a companhia como uma das mais relevantes da cena teatral contemporânea. Além dos prêmios, o grupo mantém o Núcleo Musical da Cia. do Tijolo, que desde 2017 pesquisa a interseção entre sonoridade e dramaturgia. Atualmente, a companhia prepara “Restinga de Canudos”, espetáculo que revisita a história do sertão baiano sob a ótica da resistência popular.

SERVIÇO

“Restinga de Canudos”, com Cia. do Tijolo

De 14 de março a 27 de abril de 2025

Sextas e sábado, às 20h / Domingos, às 17h.

R$ 50 (inteira), R$ 25 (meia-entrada), R$ 15 (Credencial Sesc).

Ingressos à venda no portal sescsp.org.br e nas bilheterias das unidades.

Limite de 2 ingressos por pessoa. Local: Sala de Espetáculos 2 (120 lugares). Classificação: 12 anos. Duração: 150 min.

SESC BELENZINHO

Rua Padre Adelino, 1000 – Belenzinho (SP)

Telefone: (11) 2076-9700 – sescsp.org.br/Belenzinho

ESTACIONAMENTO

De terça a sábado, das 9h às 21h. Domingos e feriados, das 9h às 18h. 

Valores: Credenciados plenos do Sesc: R$ 8,00 a primeira hora e R$ 3,00 por hora adicional. Não credenciados no Sesc: R$ 17,00 a primeira hora e R$ 4,00 por hora adicional.

TRANSPORTE PÚBLICO

Metrô Belém (550m) | Estação Tatuapé (1400m)

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